INDICADOS:

 

As novas regras da premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que tenta restringir ao máximo as campanhas de marketing, privilegiar a maior quantidade de filmes apontados como favoritos absolutos pelos mais de 6 mil votantes – cada um pode indicar até 10 títulos – e permitir que até uma dezena de longas sejam selecionados nesta que é a principal e mais disputada de todas as categorias tem criado algumas situações bastante curiosas nos últimos anos. Assim como foi em 2013, dessa vez temos novamente 9 finalistas, todas recebidas com entusiasmo pela crítica especializada, algumas verdadeiros sucessos de público, outras ignoradas pela maioria das audiências. Em comum, todas contam com astros de renome à frente dos seus elencos, e apenas duas delas não são produções americanas – mas, sim, inglesas, o que mantém o mesmo idioma e manteve afastado produções estrangeiras – fato raro, mas que chegou a acontecer em edições anteriores recentes.

Dos nove indicados, apenas três possuem reais chances de vitória – 12 Anos de Escravidão, Gravidade e Trapaça – curiosamente, os três campeões de indicações, o primeiro lembrado em 9 categorias e os dois seguintes em 10 delas. 12 Anos de Escravidão e Gravidade ganharam empatados o prêmio do Sindicato dos Produtores – o mais forte indicativo desta categoria – e também o Bafta (o Oscar inglês). Já o Globo de Ouro se dividiu entre 12 Anos de Escravidão (Melhor Drama) e Trapaça (Melhor Comédia), enquanto que este último levou também o prêmio do Sindicato dos Atores como Melhor Elenco – e é sempre bom lembrar que mais da metade dos votantes do Oscar são… atores! Confira abaixo as chances de cada um dos nove indicados deste ano chegarem perto da cobiçada estatueta dourada!

 

Favorito: 12 Anos de Escravidão é o com mais ‘cara’ de Oscar neste ano. Ainda que não mereça – o roteiro é esquemático, alguns atores estão protocolares e a direção é convencional – seu tema tem destacada importância histórica e social, e premiá-lo significa expiar alguns dos erros do passado cometidos nos Estados Unidos. Foi premiado no Sindicato dos Produtores, no Globo de Ouro, no Bafta, no Critics Choice e pelos críticos de Boston, Chicago, Dallas-Fort Worth, Florida, Kansas, Las Vegas, Londres, Phoenix, São Francisco, Southeastern, Vancouver e Washington, além ser indicado ao Satellite e ao Spirit. Se por um lado já é possível imaginá-lo vitorioso, por outro sabe-se que tal conquista não será tão fácil…

 

Torcida: Gravidade é o filme a ser batido desde o início desta temporada. De todos os indicados foi o primeiro a chegar às telas, e até agora é o com maior bilheteria – mais de US$ 700 milhões arrecadados em todo o mundo, quantia que muitos dos demais indicados nem sonham em chegar perto. Mas, além de popular, trata-se de uma obra inovadora, revolucionária, inteligente e arrebatadora por sua simplicidade e, ao mesmo tempo, criatividade. Conta a seu favor o fato de ser o favorito em duas categorias – Direção e Montagem – que geralmente fazem dobradinha com a de Melhor Filme, e ignorá-lo justamente no prêmio principal parece um tanto sem sentido. Além de ter ganho no Sindicato dos Produtores e no Bafta (como Melhor Filme inglês), foi considerado o melhor do ano pelos críticos de Central Ohio e de Los Angeles. Sem contar que, no conjunto, já ganhou mais de uma centena de troféus nas mais diversas premiações.

 

Pode Surpreender: Trapaça é a terceira via, o filme que pode ganhar espaço numa eventual disputa entre os dois principais favoritos. Seu enredo é artificial, repleto de recursos previsíveis, com muito estilo e pouco conteúdo, mas parece ter caído nas graças dos americanos, que o abraçaram com entusiasmo. É o segundo com melhor bilheteria nos EUA (quase US$ 150 milhões) e aquele com o maior número de astros no elenco (concorre nas quatro categorias de atuação, o que comprova o apoio recebido por atores e atrizes, categoria profissional que compõe a maioria dos votantes do Oscar). Premiado no SAG e no Globo de Ouro, levou ainda os troféus do Critics Choice (Melhor Comédia) e dos críticos de Nova York.

 

Crítica: Capitão Phillips recebeu um retorno entusiasmado dos críticos (93% no Rotten Tomatoes, 83% no MetaCritic) quando chegou aos cinemas, no início de outubro do ano passado. Quase quatro meses depois, muito do seu impacto já se dissipou, o que pode explicar as ausências de Paul Greengrass (diretor) e Tom Hanks (protagonista) entre os finalistas de suas categorias. Baseado em uma impressionante história real, é um filme difícil e muito bem executado, que chega credenciado por seis indicações e uma realização angustiante, claustrofóbica e impressionante, que não deixa nenhum espectador sair ileso. Além, é claro, do fato de ter revelado ao mundo o somali Barkhad Abdi, que nesta que é sua primeira experiência profissional já garantiu uma indicação como Ator Coadjuvante. É pouco?

 

Público: O Lobo de Wall Street é o maior sucesso de bilheteria de toda a carreira de Martin Scorsese, cineasta que conta com mais de 50 títulos em sua filmografia. Com exatas três horas de duração, não pode ser chamado de um filme fácil. Mesmo assim, tem conquistado a todos com uma trama ágil, uma direção segura, uma montagem ágil, atores em estado de graça e um roteiro muito bem estruturado, que não deixa espaço para desperdício. Tudo funciona à perfeição, e só o fato de transformar um episódio verídico em algo tão absurdo e, ao mesmo tempo, completamente crível faz desse projeto um dos mais completos do ano. É de se lamentar apenaso-lovo a antiga e reconhecida implicância que a Academia tem contra Scorsese e DiCaprio (ambos duplamente indicados, em suas categorias individuais e também como produtores)…

 

Chegou perto: Clube de Compras Dallas tem garantido no mínimo 50% de aproveitamento na festa deste ano. Afinal, das 6 categorias a que figura como finalista, em três delas é o favorito absoluto: Melhor Ator (Matthew McConaughey), Ator Coadjuvante (Jared Leto) e Maquiagem & Cabelos (Adruitha Lee e Robin Mathews). Nas demais – Filme, Montagem e Roteiro Original – no entanto, sua presença é apenas para preencher espaço. É, assim como o favorito 12 Anos de Escravidão, um título socialmente relevante, que aponta falhas históricas americanas, e pode contar com um voto de simpatia daqueles com peso da consciência. No entanto, apenas sua presença aqui já é um reconhecimento mais do que suficiente.

 

Convidado de honra: Nebraska é aquele filme que marca presença pelo histórico dos envolvidos e pelo prestígio do seu histórico, porém é um dos mais fortes candidatos a sair da festa de mãos abanando, sem conquistar nenhuma das categorias indicadas – seis, no caso. Desde sua estreia no Festival de Cannes do ano passado – quando ganhou como Melhor Ator (Bruce Dern) – tem sido recebido com um entusiasmo discreto por onde tem passado, e foi indicado a praticamente tudo – Globo de Ouro, Bafta, Critics Choice, PGA – sem ganhar nada. Conta contra si o fato do diretor Alexander Payne ter sido indicado ao Oscar por praticamente todos os filmes que fez até hoje, já tendo levado duas estatuetas para casa – pelos roteiros de Sideways (2004) e Os Descendentes (2011). É muito em tão pouco tempo, certo?

 

Revelação: Philomena estreou internacionalmente no Festival de Veneza do ano passado, quando ganhou nove prêmios diferentes – tendo sido o mais importante o de Roteiro, no entanto, longe do Leão de Ouro principal. Mais inglês de todos os concorrentes, foi apenas indicado, sem levar, ao Bafta, o que indica que nem mesmo em casa sua força tem efeito. É um filme muito simples, de narrativa convencional, porém nunca simplória, e só o fato de ter chegado tão longe já é surpreendente. O diretor Stephen Frears (ele próprio já indicado duas vezes) e os protagonistas Judi Dench (finalista como Melhor Atriz) e Steve Coogan (lembrado, no entanto, como co-roteirista e pela produção) são os donos dos maiores méritos envolvidos, e possuem motivos de sobra para comemorar – mesmo com a certeza de que não passam de convidados especiais na festa de outros.

 

Azarão: Ela, de Spike Jonze, é uma das grandes surpresas deste ano. Chegou de forma discreta, quase sem ninguém perceber, e acabou conquistando os mais desavisados. Só Jonze, por exemplo, mesmo sem concorrer em Direção, conquistou três indicações: Produção, Roteiro Original e Canção Original. Foi apontado como melhor filme do ano no National Board of Review e pelos críticos de Austin e de San Diego, além de ter sido indicado em praticamente todas as premiações, quase sempre sem muitas chances, porém nunca numa participação descartável. Uma eventual vitória aqui seria uma tremenda surpresa, porém é algo que pode acontecer, ainda que este cenário seja tão improvável quanto sua história.

 

Esquecido: Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum, dos irmãos Coen, foi responsável por uma das maiores surpresas deste ano. Finalista apenas em Fotografia e Som, ficou de fora das categorias principais, sendo que até a véspera do anúncio dos indicados era apontado por muitos como um dos favoritos da temporada. Escolhido como melhor filme do ano pelo Sindicato Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA e vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, concorreu ainda ao Critics Choice, ao Globo de Ouro, ao Spirit, ao Satellite e em quase todas as premiações regionais de críticos. Sua ausência é mais chocante do que a de outros filmes cotados, como Blue Jasmine (indicado ao Sindicato dos Produtores) ou Walt nos Bastidores de Mary Poppins (também indicado no Sindicato dos Produtores, além de ter sido finalista no Bafta, no Critics Choice e no Satellite).

 

Tudo sobre todos os indicados ao maior prêmio do cinema mundial você confere no Especial Oscar 2014!

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *