Dia de agradável surpresa com um drama de cineastas habitués do Festival de Cannes e uma pequena decepção com a estreia de um idolatrado ator canadense na direção. Já sabe quem é? Confira um rápido panorama das duas produções! ;)

 

Two Days, One Night (Deux Jeurs, Une Nuit, 2014)

Muito bom =D

Marion Cotillard entre os irmãos Dardenne no Festival de Cannes 2014

Décimo filme de ficção dos premiados – e admirados – irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, Two Days, One Night mexeu com a plateia na primeira exibição, na manhã de terça-feira, 20. Conhecidos pela simplicidade em suas narrativas, a dupla já esteve no festival outras cinco vezes e têm em casa nada menos do que duas Palma de Ouro.

É sexta-feira e Sandra (Marion Cotillard) recebe uma ligação. Ela descobre que será demitida, devido a forte concorrência chinesa. Ainda se recuperando de uma forte depressão, ela toma remédios e diz ter a sensação de “não existir”. Uma amiga tem a ideia de propor uma nova votação para que os colegas de trabalho abram mão do bônus salarial (mil euros) e assim mantê-la na companhia. Agora, ela tem apenas o fim de semana para conseguir mais oito votos a favor e o tempo, como diria o saudoso poeta urbano Cazuza, não para.

Com uma estrutura simples, o roteiro funciona como uma verdadeira contagem regressiva, que vai pressionando não só a protagonista, mas também o espectador, que embarca numa espécie de road movie trabalhista, batendo de porta em porta em busca do apoio. Em sua jornada, ela se depara com diferentes motivos para desistir, como uma simples reforma ou uma separação, mas o amor incondicional do marido (Fabrizio Rongione) e a solidariedade de alguns companheiros reforçam a ideia de que o seu caráter deve ser mantido. Destaque para a atuação precisa de Cotillard e para inserção de dois petardos certeiros em dois momentos da trama: o clássico dor de cotovelo “La Nuit n’en finit plus“, de Petula Clark, e “Gloria“, de Van Morrison.

 

Lost River (Idem, 2014)

Regular :/

Ryan Gosling ao chegar no Festival de Cannes 2014

Primeiro filme do ator Ryan Gosling na função de diretor e roteirista, Lost River sofreu reações antagônicas em sua primeira exibição para a imprensa. Os créditos iniciais foram recebidos com palmas, urros e, depois, teve gente saindo e vaiando ao final. Pode ser um triste começo.

Billy (Christina Hendricks) passa por dificuldades para criar os filhos e o ambiente em que vivem se mostra cada vez mais inóspito, restando escombros para todos os lados. Seu filho mais velho, Bones (Iain De Caestecker), tenta ajudar com pequenos furtos dos imóveis sucateados, mas um vilão local, Bully (Matt Smith), e seu sinistro capanga, Face (Torrey Wigfield), que mais parece um zumbi, não querem compartilhar esses “bens” com ninguém. Enquanto Bones resolve investigar uma lenda local, contada por sua vizinha (Saoirse Ronan), sua mãe passa por uma nova provação no trabalho, que poderá mudar suas vidas.

Misto de fantasia e suspense, o roteiro (?) de Lost River peca pelo excesso. Sobram simbolismos (fogo, água, sangue), cenas esteticamente bonitas e bizarras, mas falta uma direção, um destino para levar o espectador eventualmente capturado por essas imagens. É o que se vê nas sequências mórbidas da boate, no “peep show” da roupa-casulo asfixiante ou até mesmo na impactante bicicleta incendiada, todas meio soltas na trama. Entre as curiosidades, uma entrada de boate que remete ao clássico A Hora do Espanto (1985). Não há dúvida de que o objetivo de se criar um clima sinistro foi cumprido e a (boa) música ajudou bastante. O exagero, no entanto, fez com que tudo se perdesse e, pior, soasse pretensioso demais.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é publicitário, crítico de cinema e editor-executivo da revista Preview. Membro da ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, filiada a FIPRESCI - Federação Internacional da Crítica Internacional) e da ABRACCINE - Associação Brasileira dos Críticos de Cinema. Enviado especial do Papo de Cinema ao Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 2014.
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