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Sinopse

O dia-a-dia da família Lyon é uma confusão. Mas tudo parece piorar quando, em uma noite crucial de 2019, a história do clã avança quinze anos no futuro. Eles então encontram um mundo bem pior do que esperavam: mais quente, barulhento e louco. Será que uma família disfuncional é capaz de superar seus traumas e salvar o planeta Terra?

Crítica

Russell T. Davies é o nome por trás de sucessos como o revolucionário Queer as Folk (1999-2000) e o recente – e premiado – A Very English Scandal (2018). Por isso, quando foi anunciado que estaria por trás de Years and Years, as expectativas foram às alturas. Soma-se a isso o fato de ser uma produção da HBO – a mesma responsável por fenômenos como Game of Thrones (2011-2019) e Veep (2012-2019) – e ter à frente do elenco a vencedora do Oscar Emma Thompson, e as apostas subiram ainda mais. Felizmente, tudo se confirmou diante do primeiro episódio. Thompson não só está eletrizante como Vivienne Rook, uma política sem papas na língua, como a família Lyons, núcleo principal da trama, parece a tal caixa de bombons de Forrest Gump – você nunca sabe o que esperar dela, de tão diversa e múltipla que se apresenta. Uma grata e muito bem-vinda surpresa, que tem tudo para se confirmar como uma das melhores opções da atual temporada.

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Ao final deste Years and Years T01E01, a impressão que fica é a de um misto de A Sete Palmos (2001-2005) com This is Us (2016-), pelos fortes laços familiares e emocionais que começam a ser desenvolvidos, tudo isso misturado com um forte toque de Black Mirror (2011-2019) – uma combinação não apenas inusitada, mas também estimulante. Os Lyons – formados por avó e quatro netos, cada um com sua própria família – representam gostos, cores e credos distintos, proporcionando diferentes concepções sobre o mundo que (n)os cerca. Porém, se cada um deles é porta para seus próprios dramas, há um pano de fundo ainda mais interessante, que acompanha não apenas a passagem do tempo, mas também as evoluções tecnológicas destes anos e como elas passam a influenciar o comportamento de cada um.

Quase uma década se passou, e o final dos anos 2020 se aproxima. É nesse cenário que acompanhamos a comemoração dos 90 anos de Muriel (Anne Reid, que estava excelente como par romântico de Daniel Craig em Recomeçar, 2003), ao lado de três dos seus netos: Daniel (Russell Tovey, de Looking, 2014-2015), indeciso entre o marido e um imigrante ucraniano que conheceu no trabalho, Edith (Jessica Hynes, de O Bebê de Bridget Jones, 2016), que não só é cadeirante como mãe de duas crianças, e Stephen (Rory Kinnear, de O Jogo da Imitação, 2014), que ao lado da mulher, Celeste (T’Nia Miller, talvez a melhor personagem até agora), precisa lidar com a revelação da filha menor, decidida a se assumir trans – não transexual, mas transumana, ou seja, quer abandonar seu corpo físico e viver na nuvem, contentando-se em ser não mais do que apenas dados. Esse é o mundo de Years and Years.

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Este primeiro episódio beira à perfeição. Temos a idosa que não teme dizer o que pensa, o casal inter-racial envolvidos com os filhos, a solteira dividida entre a maternidade e novas conquistas amorosas, e o casal gay em crise. Fala-se de homofobia e preconceito contra refugiados. Um mundo em constante construção. E por trás de tudo isso, há o cenário político, com essa mulher em ascensão política capturando o que de pior e mais ultrajante existe no ser humano. Ao mesmo tempo, quando o final se aproxima, uma radical mudança de rumo oferece um novo patamar tanto para tudo que foi visto até aquele momento, como aumenta ainda mais a tensão sobre o que esperar daqui adiante. Um soco no estômago, mas mais do que necessário.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Daniel Oliveira
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MÉDIA
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