Crítica


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Sinopse

Em O Estúdio, Matt Remick assume o posto de novo chefe do Continental Studios, um estúdio de cinema que está em crise. Ele e sua equipe de executivos precisam lidar corriqueiramente com artistas narcisistas, empresários gananciosos e suas próprias inseguranças. Comédia/Drama.

Crítica

Há algo de irretocavelmente sedutor nas obras que se propõem a lançar luz sobre os bastidores de Hollywood. De Crepúsculo dos Deuses (1950) a O Jogador (1992), o fascínio não se restringe à época, mas à capacidade de desnudar os códigos e rituais de um universo que dita comportamentos, molda linguagens e orienta desejos. Seth Rogen parece ciente disso. Em O Estúdio, série cômica da AppleTV+, ele se aventura por esse território consagrado, mas com peculiaridade essencial: o foco absoluto no agora. Aqui, a atualidade não é apenas pano de fundo, mas o epicentro de retrato vertiginoso da cultura pop. Curiosamente, no entanto, talvez o grande problema da criação esteja justamente no centro dessa engrenagem: o próprio Rogen.

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Na trama, acompanhamos Matt Remick, novo presidente da fictícia Continental Studios, corporação que espelha os grandes conglomerados do entretenimento contemporâneo. Assumir o posto implica negociar com egos inflados, cortar orçamentos, sobreviver à burocracia corporativa e tentar manter viva a aura criativa de um meio que parece estar sempre em crise. Soma-se a isso a pressão por resultados e existencialismo mal resolvido do protagonista. Tudo isso enquanto ele tenta, sem muito êxito, não se perder em sua própria inabilidade. A proposta da série é, em teoria, promissora: uma comédia afiada sobre as engrenagens ocultas da indústria. O resultado, no entanto, é irregular. 

O Estúdio começa bem, com participações luxuosas de nomes como Ron Howard e Martin Scorsese, ambos interpretando versões de si mesmos com episódios iniciais que entregam momentos deliciosos, principalmente para os cinéfilos que apreciam metalinguagem e autorreferência. Há, nesses trechos, ironia precisa, quase irresistível. Mas a instabilidade se impõe: ao flertar com histórias periféricas de menor impacto dramático, a série se distancia de seu melhor potencial. A intermitência compromete a força, ora diluindo sua crítica, ora reiterando fórmulas desgastadas.

Vale lembrar que Seth Rogen é nome respeitável quando atua nos bastidores. Basta apontar produções como Superbad: É Hoje (2007), Artista do Desastre (2017) ou The Boys (2019-2024), que evidenciam seu talento para a escrita e para o desenvolvimento de projetos instigantes. Contudo, como ator, a situação muda de figura. Aqui, ele protagoniza os momentos mais frágeis. Sua versão de Remick é forçadamente desajeitada, caricata a ponto de afastar a empatia. Além disso, o insistente recurso à temática das drogas como sinônimo de comédia – algo que vem de longa data – acaba por empobrecer o roteiro, como se o humor só pudesse se realizar no delírio químico. 

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O Estúdio funciona melhor quando se afasta do seu núcleo principal e dá protagonismo às figuras secundárias, que, não raro, surpreendem com camadas inesperadas. Há boas sacadas e episódios que justificam a empreitada, especialmente pela ousadia de abordar, com irreverência, bastidores inspirados em casos reais. Nesse novo acerto da Apple TV+, temos uma ótima incursão pelo mundo dos sonhos, mas, infelizmente, bastante interrompida por sobressaltos que beiram o pesadelo.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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