
And Just Like That :: T03
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Michael Patrick King, Darren Star
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And Just Like That...
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2025
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Em And Just Like That, depois de muitas histórias vividas ao longo de duas décadas de amizade, Carrie, Miranda e Charlotte começam a perceber que a realidade é ainda mais complicada quando se chega a completar 50 anos. Comédia/Drama/Romance.
Crítica
E assim, como que do nada… uma das séries mais bem-sucedidas de todos os tempos foi maculada pela própria ganância de seus produtores e angústia de suas protagonistas, que deixaram claro não serem capazes de se desligar das personagens que por tantos anos interpretaram e acabaram se tornando suas assinaturas. Sarah Jessica Parker, Kristin Davis e Cynthia Nixon não precisavam de And Just Like That para seguirem com suas carreiras em Hollywood. A primeira é uma estrela do time A, se não mais como antes, ainda viável para marcar presença em qualquer projeto que busque maior visibilidade. A segunda se mostrou uma coadjuvante confiável (nos cinemas) e uma constância agradável em longas e séries para o streaming. Já a terceira trabalhou com cineastas de prestígio e tem uma carreira bem sucedida na Broadway, dona de dois Emmys, dois Tonys e um Grammy – ou seja, só lhe falta o Oscar para se tornar uma EGOT. Mas como recusar um salário de mais de um milhão de dólares por episódio e a chance de entregar mais do mesmo, sem muito esforço, ainda que manche o próprio currículo e gere frustração em fãs ao redor do mundo? Pois bem, foi o que as três conseguiram com o desfecho dessa terceira temporada, felizmente apontada como a conclusão da trama que tentou resgatar o espírito e a alma da consagrada Sex And The City (1998-2004) – sem conseguir, que fique claro.
Se o começo de And Just Like That, ainda em 2021, foi marcado pela morte de Big (Chris Noth), o grande amor da vida de Carrie (Parker), a suposição mais lógica era que, a partir dessa decisão dos roteiristas, o novo programa se ocuparia em olhar para o futuro dessas amigas, deixando o passado, enfim, para trás. Novas vidas, novas histórias. Mas não foi bem o que aconteceu. Carrie não só permaneceu estagnada – com um ou outro romance passageiro, sem maiores repercussões – como também voltou alguns passos em sua caminhada, dando nova chance a um Aidan (John Corbett) que nunca foi sua prioridade. Ou seja, era quase como um prêmio de consolação – na ausência de um, vai esse mesmo. Mas o desenho da relação, ao ser retomada, foi mais constrangedor. Esse terceiro ano tratou de revelar uma Carrie submissa, que aceitava as condições de um homem ainda preso a um relacionamento anterior e a uma história pregressa, indeciso entre qual destino assumir dali em diante. O surgimento de um escritor atraente também não foi suficiente para aumentar as expectativas, ainda que tenha proporcionado uma conclusão necessária a uma mulher que, apesar do apreço por roupas fashionistas e sapatos de salto alto, se vendia como escritora e intelectual: “foi a primeira vez que alguém investiu em mim levando em consideração o meu cérebro, e não minha aparência”. Foram necessários nove temporadas e mais dois longas-metragens para a personagem finalmente valorizar sua essência, e não apenas o visual?
E se Charlotte (Davis) permaneceu a mesma, envolta entre cuidados com a família e outras amenidades pontuais – o câncer do marido, o namorado bissexual da filha – Miranda (Nixon) percorreu caminho oposto, tornando-se uma figura tão diferente daquela da série anterior a ponto de se mostrar quase irreconhecível. Abandonou o marido, se descobriu lésbica, saiu de casa, voltou a estudar, arrumou uma, duas, três namoradas, brigou com o filho, foi morar com a melhor amiga, se encantou pela professora, transou com uma freira… enfim, tudo que a Miranda de anos atrás sequer pensaria em fazer. Alguns saldos foram positivos – como o envolvimento com Joy (Dolly Wells, da saga Bridget Jones) e o debate sobre alcoolismo. No mais, atirou-se para muitos lados, mas poucos acertos ao alvo foram registrados. Mais ou menos o que se pode afirmar sobre as recém-chegadas Lisa (Nicole Ari Parker, de Empire, 2017-2020), uma cineasta cheia de estilo que no final se mostrou uma dona de casa e mãe de família antes de qualquer coisa, e Seema (Sarita Choudhury, de Homeland, 2011-2017), a corretora de imóveis que deveria ocupar o posto de sexualmente bem-resolvida, mas que terminou apostando no amor eterno e na felicidade só possível ao lado de um parceiro monogâmico. Se isso não significa trair os conceitos por eles mesmos previamente alardeados, difícil saber o que é.
E há se de considerar as ausências. Samantha (Kim Cattrall) será para sempre lembrada como a única a entender antes de todo mundo que essa retomada seria um erro, mantendo-se afastada o máximo que pode (participou rapidamente de apenas um episódio em toda a série, na temporada 02). Foram convocadas não uma, mas quatro novas inserções no elenco para substituí-la, e nenhuma se mostrou capaz de superar esse desafio. Seema foi a que mais chegou perto. Lisa acabou se tornando um misto de Carrie com Charlotte. Já Che (Sara Ramirez) e Nya (Karen Pittman) foram abandonadas pelo caminho, e nem chegaram a dar as caras nesse ano derradeiro. Por outro lado, Anthony (Mario Cantone) se viu obrigado a assumir uma posição que nunca lhe fora destinada. Eis o grande problema, portanto: a necessidade de representatividade. Se Sex And The City era estrelado por quatro mulheres brancas e heterossexuais, isso não chegara a se apresentar como um problema duas décadas atrás. Mas os tempos são outros, e por isso a entrada em cena de duas mulheres negras, uma não binária, a transformação de outra de hetero em lésbica. E a necessidade de uma maior atenção aos gays, que afinal sempre atenderam por uma expressiva fatia da audiência. Ou seja, não conseguiram ir além da impressão de um quebra-cabeça organizado por algoritmo, ao invés de uma combinação natural de diferentes elementos e origens.
And Just Like That chega ao final, após três temporadas, mais criticada (negativamente) do que nunca. E não sem razão. A solidão é vista por meio de um viés agridoce, como se houvesse algo de errado com aquela que não está envolvida romanticamente com alguém e precisasse o tempo todo do consolo dos outros e convencer a si mesma que não há nada de errado com ela. Até mesmo a escrita foi alterada nesse processo de autoafirmação. Carrie mais apagada do que nunca, Miranda exagerando na reinvenção, Samantha sumida e Charlotte igual ao que sempre foi. Progresso e evolução, portanto, foi inexistente. É com tristeza que se chega a esse momento, pois as atrizes são carismáticas e as personagens conquistaram um carinho dos espectadores ao longo dos anos do qual é difícil abandonar. Mas o fim não só era necessário, como urgente. Que Sex And The City siga na memória. Que os filmes sejam lembrados apenas como uma nota de rodapé, uma curiosidade às escondidas, quase um prazer culposo. E que esse sequência seja esquecida o quanto antes, pois nada além disso é o que merece.


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