Festival Varilux 2024 :: Conversamos com a diretora/curadora Emmanuelle Boudier (Exclusivo)

Publicado por
Marcelo Müller

O Festival Varilux de Cinema Francês 2024 é assinado por Emmanuelle Boudier, uma de suas diretoras e curadoras. Logo, ela é encarregada de uma estrutura gigante que neste ano conta com a exibição de 20 filmes em mais de 60 cidades e 110 salas de cinema espalhadas pelo Brasil. Não precisa ser um especialista em logística para supor a enormidade do trabalho, uma complexidade que vai desde a escolha e posterior negociação dos filmes, passando pela relação com as salas, chegando até aos aspectos de estrutura do evento.

Lembrando que o Festival Varilux de Cinema Francês vai até o dia 20 de novembro num cinema próximo de você. Para saber um pouco mais a respeito dos bastidores e desafios dessa verdadeira vitrine do cinema francês no Brasil, conversamos brevemente com Emmanuelle Boudier. O resultado deste Papo de Cinema animadíssimo você confere logo abaixo.

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FESTIVAL VARILUX 2024 :: OS DESAFIOS

“Os desafios são muitos, especialmente depois da pandemia da COVID-19. Em 2019 havíamos chegado a um número excelente de cobertura no Brasil. Veio a pandemia, a frequência caiu muito e aos poucos temos recuperado o público, mas é um processo muito demorado. Estou confiante de que vamos voltar aos números de antes. Mas está cada vez mais difícil. Há muitos lançamentos importantes no fim do ano e a janela para encaixar o Varilux é muito pequena (…) apesar de os cinemas quererem acolher o festival, eles atualmente disponibilizam bem menos espaço, então é uma luta enorme para reconquistar essas telonas. Mas estou confiante. Acompanhei todas as sessões com artistas no fim de semana de estreia e as salas estavam cheias”.

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“Há também o desafio de diversificar e trazer novidades. Então, pelo segundo ano temos uma mostra de realidade virtual gratuita, com oito filmes. De 2018, ano da primeira edição da mostra de realidade virtual, até agora, muita coisa mudou em termos de linguagem e tecnologia. Os cineastas estão se apropriando dessas técnicas até mesmo para filmes que chegarão ao circuito comercial”. 

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“O público cativo do festival o aguarda ansiosamente também porque em muitas cidades do Brasil ele é a única possibilidade de assistir a filmes diferentes, mais especificamente a produções que não sejam norte-americanas. Os EUA ocupam cerca de 80% das telas do país. Mesmo em outros lugares, sabemos que o mercado é complicado. Infelizmente, quando estreia um filme francês ‘solto’, é algo a ser comemorado se ele ficar 15 dias em cartaz. Esses filmes não costumam ter o desempenho de antes. E o festival dá um motivo para as pessoas se mobilizarem para uma maratona. O público que gosta de mergulhar numa cinematografia diferente espera esse momento. Fazemos questão de ter filmes para todos os gostos e públicos. Os espectadores valorizam a diversidade. Essa nossa busca”. 

FESTIVAL VARILUX 2024 :: OS CONVIDADOS INTERNACIONAIS

“Ultimamente está difícil trazer talentos internacionais para o festival por dois motivos. Primeiramente, muitos deles não estão dispostos a pegar um avião, apenas se for estritamente necessário. No meio do cinema francês há um discurso forte a respeito da preocupação ambiental. E, segundo, muitos astros e estrelas têm suas agendas lotadas por conta do crescente trabalho nas séries. Temos atualmente delegações menores, mas super interessadas”.

“O público brasileiro é fantástico. Os espectadores conversam com os talentos sem medo de fazer perguntas. A cada ano a delegação diz a mesma coisa: o público brasileiro é o melhor de todos. Eles voltam super entusiasmados à França. O público francês, especialmente o cinéfilo, interage muito pouco, principalmente por medo de fazer uma pergunta pouco intelectual. Já o brasileiro fala com o coração e isso é muito bom para os artistas”.   

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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