A cinebiografia Dark Horse, que retrata o ex-presidente e atual presidiário Jair Bolsonaro – condenado por crimes contra a democracia – segue acumulando polêmicas antes mesmo de sua estreia, prevista para 2026. A primeira prévia divulgada nessa segunda-feira, 08, reacendeu debates não apenas sobre o propósito político do longa, mas também sobre sua produção.
Revelações feitas em reportagem do Intercept Brasil, assinada por Laís Martins e Tatiana Dias, com colaboração de Demétrio Vecchioli e Isabella Mota, expõem um emaranhado de interesses que envolve contratos milionários, uma produtora sem experiência prévia no setor audiovisual e uma narrativa heroica construída sob forte influência ideológica. A seguir, o Papo de Cinema reúne tudo o que já se sabe sobre o projeto.
DARK HORSE
A PREMISSA DO FILME
Ainda sem sinopse oficial divulgada, Dark Horse parte do atentado sofrido por Bolsonaro em 2022 e revisita momentos emblemáticos de sua trajetória política e pessoal: sua recuperação no hospital, debates eleitorais, a relação com Michelle Bolsonaro e sua ascensão ao Planalto. A prévia indica que o tom do longa tende a reforçar uma visão épica do ex-presidente, alinhando-se à retórica de seus apoiadores. A seguir, fique com o teaser:
JIM CAVIEZEL, O PROTAGONISTA
O responsável por viver Jair Bolsonaro nas telas é o ator norte-americano Jim Caviezel, conhecido mundialmente por interpretar Jesus Cristo em A Paixão de Cristo (2004). Com carreira marcada por papéis intensos e inclinados ao espiritualismo, Caviezel também protagonizou a série Person of Interest (2011-2016) e participou de longas de teor político e religioso. Sua imagem pública, porém, extrapola sua filmografia.
Nos últimos anos, Caviezel passou a frequentar eventos da alt-right norte-americana, aderindo publicamente a teorias conspiratórias como o QAnon e participando de atos e entrevistas associadas ao extremismo conservador. O ápice dessa radicalização ocorreu com Som da Liberdade (2023), cuja promoção foi marcada por falas conspiratórias do ator. Essa associação direta com a extrema-direita internacional reforça a controvérsia em torno de sua escalação para interpretar Bolsonaro.
QUEM ESTÁ POR TRÁS DO PROJETO
A produção e o roteiro são assinados por Mario Frias, ex-secretário da Cultura durante o governo Bolsonaro e atual deputado federal pelo PL de São Paulo. Frias, além de escrever o longa, interpreta o médico responsável por operar Bolsonaro após o atentado. A direção é do cineasta norte-americano Cyrus Nowrasteh, conhecido por dramas de cunho religioso e político, como O Jovem Messias (2016).
O filme foi rodado majoritariamente em São Paulo entre outubro e novembro, com elenco e equipe dos Estados Unidos. Embora divulgado por seus entusiastas como uma “produção hollywoodiana”, Dark Horse é, na prática, um projeto capitaneado por empresas brasileiras – em especial aquela que se tornou o epicentro da polêmica revelada pelo Intercept.

PRODUTORA EVANGÉLICA COM CONTRATOS MILIONÁRIOS
Segundo o Intercept, a produtora executiva do filme, Karina Ferreira da Gama, é também presidente do Instituto Conhecer Brasil, ONG que firmou um contrato de R$ 108 milhões com a Prefeitura de São Paulo, comandada por Ricardo Nunes (MDB), para instalação de pontos de Wi-Fi em comunidades de baixa renda. O problema: apenas 3.200 dos 5.000 pontos previstos foram instalados – muitos durante a campanha eleitoral de 2024 – e R$ 26 milhões foram pagos sem que o serviço tivesse sido entregue integralmente.
Karina, que não possui histórico no setor audiovisual, aparece ainda como única sócia da Go Up Entertainment, empresa responsável pela produção de Dark Horse. A origem dos recursos do filme permanece nebulosa, embora estimativas apontem um orçamento entre R$ 8 milhões e R$ 20 milhões.
O ECOSSISTEMA DE CONTRATOS E AS RELAÇÕES POLÍTICAS
Além do contrato milionário com a prefeitura, as ONGs de Karina receberam R$ 2,6 milhões em emendas PIX de deputados do PL – entre eles Alexandre Ramagem, Carla Zambelli, Bia Kicis e Marcos Pollon – para uma série documental que nunca saiu do papel. Documentos mostram ainda que Karina e Mario Frias têm relações profissionais frequentes, incluindo contratações durante campanhas eleitorais.
A investigação também revela que, para prestar o serviço de Wi-Fi, o Instituto Conhecer Brasil subcontratou diversas empresas com valores somados que ultrapassam R$ 98 milhões. Algumas delas eram pequenas fornecedoras sem experiência comprovada, enquanto outras apresentavam vínculos empresariais opacos ou endereços incompatíveis com o porte dos contratos.
O QUE O FILME PRETENDE CONTAR – E O QUE ELE NÃO CONTA
A reportagem do Intercept aponta que Dark Horse narra a ascensão de Bolsonaro à presidência em 2018 sob uma ótica heroica, retratando-o como combatente do tráfico de drogas e defensor da pátria. Essa construção narrativa contrasta diretamente com os escândalos, as práticas antidemocráticas e as condenações judiciais que marcaram seu governo e pós-governo – mas que não aparecem nos trechos já revelados.
O tom laudatório reforça a intenção política da produção, que atua mais como ferramenta de mitificação do que como documento histórico. A escolha de Caviezel e a participação de Frias reforçam ainda mais esse alinhamento ideológico.
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