Imaginem a complexidade e os esforços envolvidos para realizar um evento do tamanho da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que prevê a exibição de 23 filmes vindos de 60 países, isso sem contar as atividades paralelas. Quem capitaneia esse transatlântico que transforma anualmente São Paulo na capital latino-americana do cinema é a diretora do evento, Renata de Almeida. Em meio aos preparativos do pontapé inicial dessa programação que acontecerá presencialmente entre 20 de outubro a 02 de novembro, ela tirou um tempinho para conversar conosco sobre os desafios de novamente fazer esse festival acontecer. E uma das coisas que deixou os cinéfilos alarmados neste ano foi o anúncio da captação de recursos via patronos para a Mostra, sobretudo após a perda de apoios financeiros importantes. Renata falou de mais esse contratempo enfrentado num país com pouco respaldo federal para atividades culturais e como ficou feliz com o abraço inicial do próprio setor cinematográfico.

“No começo deste ano, estávamos com esperança de utilizar a Lei Rouanet, já que dois patrocinadores entrariam no evento dessa forma. Mas, essa situação acabou se postergando até um limite. Mesmo com outro patrocínios garantidos, não conseguiríamos fazer a Mostra que está aí. Resolvemos então lançar o programa de patronos. Uma amiga minha, a  produtora Suzana Villas Boas, encabeçou a ideia de começar essa captação pelo setor. Aliás, boa parte dos festivais internacionais, especialmente os dos Estados Unidos, como Sundance e Tribeca, tem essa lógica dos patronos. E o que que acho bacana é que esse programa de financiamento começou pelo setor (…) Fico sempre pensando no sentido da existência da Mostra e ela vai continuar enquanto o público e os parceiros continuarem acreditando que ela deve existir”.

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Foto: Mario Miranda Filho

Outra coisa que abordamos na nossa breve conversa com Renata de Almeida foi a importância de eventos como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ao ecossistema cinematográfico. Especialmente depois do período de crise brutal imposto pela pandemia da Covid-19, e em meio a uma grave recessão financeira, infelizmente temos testemunhado Brasil afora várias salas de cinema tendo de encerrar as suas atividades e, assim, nosso circuito vai diminuindo. Numa realidade em que os ingressos não são necessariamente baratos, o que distancia o cinema da lógica de “programa popular”, e o streaming avança como protagonista no consumo audiovisual, de certa forma um evento como a Mostra representa um grito de resistência da experiência coletiva de consumir cinema.

“No ano passado, tínhamos a opção de realizar o evento ainda apenas online, mas o fizemos com cerca de 50% de lotação das salas. Os cinemas são parceiros, nós como evento temos a responsabilidade de auxiliar nesse momento crítico de retorno (…) Num evento como a Mostra, com quase 50 anos de existência, a gente acaba reconhecendo rostos do pessoal que frequenta. E eu me questionava muito sobre a renovação desse público. Fizemos uma pesquisa e o resultado é animador: cerca de 30% do público está indo à Mostra pela primeira vez. Então, temos um público jovem e desconfio que isso tenha a ver com o pertencimento, com encontrar pessoas e compartilhar experiências. Já ouvi várias histórias de começos de relacionamentos de gente que se conheceu nas filas da Mostra (risos). Somos seres sociais e o evento é um grande encontro, é discussão, é perguntar dicas para desconhecidos, é fazer amigos de Mostra (…) no Brasil estamos precisando voltar a conseguir discutir as coisas sem ofender, sem anular o outro. Um festival contribui para furar bolhas e retomar diálogos”.  

Lembrando que o Papo de Cinema vai conferir de perto tudo sobre a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Nosso editor-chefe, Robledo Milani, estará na capital paulista a partir desta quinta-feira, 20, para assistir aos filmes e às atividades. Então, fiquem ligados no nosso especial (clique aqui para acessa-lo) que será atualizado diariamente com críticas, entrevistas, notícias, curiosidades e muito mais sobre essa programação tão importante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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