Além das exibições de curtas e longas-metragens que aconteceram, com considerável adesão do público, no Sesc Santa Rita e no Cinema da Praça, destaque dado aos panoramas Infantil, Norte e Sul, o terceiro dia da 3ª Mostra Sesc de Cinema teve o início dos debates matutinos sobre os filmes exibidos anteriormente. Aproximadamente das 10h às 13h, na Casa da Cultura, realizadores e produtores discutiram com o público sobre as peculiaridades dos seus filmes, além de colocar numa perspectiva contemporânea os diversos recortes observáveis nos programas.
Todavia, a atividade de maior destaque foi a mesa denominada O Cinema Etnorracial, disposta a discutir questões concernentes à representação das várias etnias e raças nos filmes da atualidade, é bom dizer, não apenas naqueles que compõem o repertório do evento. Para mediar a conversas, escalou-se Betânia Avelar, técnica de audiovisual do Sesc de Rondônia. Os debatedores selecionados foram dois realizadores que mais cedo havia conversado com os presentes sobre suas respectivas criações: Teddy Falcão, do curta Francisco (2018), e Rafael Gustavo, do curta Lilly’s Hair (2019). A mediadora começou questionando nas mãos de quem está realmente o poder de ficcionalizar e fabular, complementando com o conceito de que, além de uma janela ampla, cinema também é escuta.
Teddy afirmou que falar sobre cinema etnorracial é trazer à baila o lugar de fala. Estudioso do negro no audiovisual brasileiro, mencionou que está trabalhando numa tese de mestrado sobre produção indígena, e apontou Adélia Sampaio e Zózimo Bulbul como influências. Teddy, efetivamente disposto a defender uma ideia cinematográfica que quebre determinados paradigmas, falou que, especificamente quanto aos exemplares indígenas, busca compreender o que faz de um índio protagonista. Reiteradas vezes, o cineasta mencionou respeito pelos não índios que imergem em aldeias e conseguem realizar feitos notáveis sobre tais culturas. Mas, ao mesmo tempo, sinalizou incômodo quando não vê os nativos contando as próprias histórias, alijados da projeção de sua sensibilidade única.
Já Rafael começou a explanação dizendo que seus primeiros passos no cinema não levavam conscientemente em consideração a imprescindibilidade do viés etnorracial, embora já estivesse absorto naturalmente nas questões que o permeiam. Com o passar do tempo, segundo ele, percebeu como era importante fazer filmes mais engajados. A fala passou também pela necessidade de ter atores e atrizes negros, de diversificar essa representatividade nas telonas e telinhas. Rafael tocou bastante na tecla de um protagonismo também mais sutil, menos demarcado como uma bandeira hasteada, e como é vital que, sobretudo, os jovens se vejam espelhados nas projeções, mas não apenas em dinâmicas de reivindicação. Diferentemente de Teddy, cuja manifestação foi pautada por um afastamento do modelo comercial, Rafael pregou a urgência de pensar cinema para diversos perfis, inclusive mirando algo industrial.
EXIBIÇÃO ESPECIAL
A noite desta segunda-feira foi encerrada com a exibição especial de A Rainha Nzinga Chegou (2018) no Cinema da Praça. Como de costume, a sessão foi bastante concorrida, vide as filas para pegar senha se formando cerca de meia hora antes do início da projeção – é bom lembrar que todas as atividades da 3ª Mostra Sesc de Cinema são gratuitas. Após o término do filme, uma das diretoras, Junia Torres conversou com a plateia interessada em seu processo e noa causos do Reinado. Fiquem ligados no Papo de Cinema para saber o que acontece na idílica Paraty até sábado, 10.
(O repórter viajou a Paraty a convite do evento)
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