O segundo dia de programação começou cedo com a mesa especial intitulada Processo de Curadoria da 3ª Mostra Sesc de Cinema. Nela estavam presentes diversos técnicos de cultura de unidades da instituição espalhadas pelo Brasil, além de Marco Fialho e Fabio Belotte, assessores técnicos em cinema do Sesc nacional. Com o auditório também ocupado por profissionais da imprensa e membros da cadeia audiovisual, foi mencionado o quanto o processo de seleção da Mostra Sesc é algo longo e trabalhoso. Primeiramente, os filmes se inscrevem no âmbito regional, sendo posteriormente (aqueles que cumprem os requisitos mínimos, obviamente) avaliados por comissões cuja formação fica a cargo de cada núcleo. Geralmente, os técnicos locais responsáveis escolhem consultores de fora – jornalistas, cineclubistas, pessoas de áreas de interesse ligadas ao audiovisual, etc. – para formar um corpo de escolha que leve em consideração, inclusive, a forma como determinados filmes espelham a nossa realidade atual.

Foi exatamente Leonardo Almenara, técnico de cinema do Sesc Espírito Santo, quem colocou em discussão a necessidade de compreender os filmes a partir da suas possíveis ligações com a diversidade de temas que soam pujantes nos dias de hoje. Isso foi complementado por todos os ocupantes do palco e, inclusive, por alguns colegas de prontidão na plateia. Larissa Lisboa, representante de Alagoas, citou eventuais dificuldades e a urgência de trazer figuras femininas para esse espaço curatorial. Ela falou sobre a produção local e como se deu o recorte posteriormente submetido à comissão da ala Nordeste, única com um contingente de oito filmes escolhidos, sobretudo em virtude da quantidade de estados que a compõe. Anderson Mueller, do Sesc Rio Grande do Sul, citou a relevância de oferecer painéis estaduais menos óbvios, como, por exemplo, pinçar filmes que falam sobre negritude para representar um estado marcado historicamente pelo apagamento sistemático da população afrodescendente.

Nesse espaço fértil de trocas, Fernanda Solon, do Mato Grosso, contribuiu com uma reflexão acerca das transformações temáticas observáveis da primeira à terceira edição da Mostra Sesc de Cinema. Já Ana Carolina Abreu, do Pará, discorreu acerca dos pormenores de seu sistema de seleção, algo que, diante das particularidades anteriormente mencionadas pelos colegas, deu conta de oferecer um painel amplo e diversificado das atividades nas cinco regiões da federação. As duas palavras mais recorrentes nesta manhã foram “capilaridade”, exatamente por conta da abrangência e a penetração do Sesc, e “visibilidade”, noção norteadora do trabalho de todos, isso de acordo com seus testemunhos. Um dado curioso trazido à baila é que Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, sozinhos, foram responsáveis por mais de 50% das inscrições, realidade devidamente problematizada pelos integrantes.

Quando questionados sobre o futuro do Sesc, especialmente no que tange à sua atuação cultural, num panorama em que o governo federal demonstra-se pouco afeito a incentivar tais ações imprescindíveis da instituição, os falantes foram categóricos ao citar a transitoriedade. Marco Fialho disse que importante é viver o presente e Fábio ressaltou a relevância de estar na contramão num instante de recrudescimento das políticas públicas do audiovisual. Seus pares se sentiram impelidos a contribuir e, com pegadas diversas, confirmaram essa sensação de não saber integralmente o que acontecerá com a atuação do Sesc daqui para a frente, mas que, sim, há uma vontade enorme de prosseguir.

 

OFICINA E SESSÕES
No Sesc Santa Rita, enquanto se desenrolava o segundo dia da oficina Crítica de Cinema Feminista, ministrada por Isabel Wittmann, havia uma mostra especial retrospectiva da segunda edição da Mostra Sesc de Cinema. Entre os filmes reexibidos estava um Panorama Infantil, composto de diversos curtas-metragens, e o longa Escolas em Luta (2018). Mais tarde, no sugestivo horário de 23:59, teve início a Sessão Maldita com a projeção de A Mata Negra (2018), ocasião que contou (na verdade, a sessão começou exatamente na hora do fechamento desta matéria) com a presença do cineasta Rodrigo Aragão que, aliás, está na cidade para ministrar uma oficina de maquiagem para cinema, sua especialidade.

Já no Cinema da Praça, sede principal das exibições, o dia começou com um Panorama Infantil às 14h, outro às 15h e mais tarde prossegui com um Panorama Norte, composto de quatro curtas-metragens exibidos em sequência. Logo depois foi a vez do evento principal do dia, a concorrida exibição de Amor Maldito (1984), com a presença da cineasta Adélia Sampaio. Ela conversou posteriormente com a plateia que lotou o espaço.

Rodrigo Aragão ao lado de uma criação sua – Foto/Divulgação

 

A HORA E A VEZ DO SOM
Para embalar a noite de Paraty, houve a apresentação do grupo Líricas Históricas, parte do Sonora Brasil, um dos maiores projetos de disseminação musical do Brasil. Os presentes se deliciaram com um programa para lá de especial, sobretudo por trazer à tona a obra e a história de compositoras brasileiras, vitais em diversas fases.

 

(O repórter viajou a Paraty a convite do evento)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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