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Eu me tornei crítico de cinema meio que por acaso/acidente. Minha cinefilia, no entanto, existe desde a mais tenra idade. Afinal, vi meu primeiro Bergman por volta dos 12 anos (Fanny & Alexander, 1982), e sempre fui uma criança mais introspectiva, tendo sido o cinema indiretamente a me dar trabalho desde sempre. O fascínio que a tela grande me proporciona até hoje já me pegava na adolescência, e desde então só sinto crescer. Lá pelo ano de 2007, fui convidado por um amigo para ajudá-lo na postagem de textos num hoje falecido site. Precisaria ir a sessões de manhã, escrever sobre o que tinha visto e enviar para um editor. Estou completando onze anos desde que ouvi a palavra “cabine” pela primeira vez, e desde então não parei mais.

Óbvio que não precisamos da aprovação de ninguém para realizar uma tarefa, mas dizem por aí que, apesar disso, é a confirmação de nossos pares que nos dá certeza do acerto do rumo. Senti isso pela primeira vez quando a Liga dos Blogues Cinematográficos (um grupo virtual que se propunha a debater e divulgar cinema, de diversas formas, e que não mais existe) me convidou para fazer parte do seu corpo de membros; havia passado dos 30 anos, não deveria me encantar com esse tipo de brilho, mas a verdade é que aquele foi o momento em que senti que tinha uma profissão de verdade, e era um privilegiado, trabalhava por prazer.

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Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky, grande vencedor do 23º Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro

Depois da Liga veio a ACCRJ (Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), os convites para júri de festivais, a busca por vozes fora do meu eixo de ocupação, e o constante estudo e aprimoramento da minha cultura enquanto pensador, debatedor e professor de cinema. No meio de tudo isso, conheci o Prêmio Guarani, e me fascinei. Sempre tive atração por processos de escolhas coletivas, e poder assistir a esses debates e participar da mecânica eleitoral não influencia na minha relação direta com o cinema. Mas, ao mesmo tempo, isso se transformou num hobby fascinante. Ler a mente de colegas e tentar entender as escolhas de cada um e ver essas diferenças se transformar num senso. Comum, ainda que diferente de um para outro. Curto a ideia de fazer parte de algo maior.

Não foi a primeira vez que votei no Guarani, mas dessa vez foi inédito: estreei como integrante da Academia Guarani de Cinema Brasileiro, acompanhando o processo desde o início, ajudando a organizar categorias e votando na fase inicial. Ou seja, fazendo parte da engrenagem como um todo. E o convite para fazer parte deste grupo me trouxe de novo a certeza rara de que faço parte de algo maior. Além, é claro, da felicidade de ver minha opinião privilegiada. Não minto, me causa um frisson e muita ansiedade durante todas as etapas, das escolhas pontuais à catalogação dos roteiros, o tempo de apuração de votos, a conferência dos títulos não-vistos. Uma boa novidade foi ter contato, a partir desse ano, com o campo dos curtas-metragens, ainda tão desvalorizados por aqui.

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Minha relação com a crítica acaba passando também por esses processos de debates, com meus pares e com cinéfilos em geral. É como entendo o estudo do cinema e sua abrangência. Pois fazer parte da Academia Guarani esse ano foi especial também por isso; os inúmeros debates com Robledo Milani acerca dos caminhos da edição 2018 do prêmio me engrandeceram como pensador e como profissional, e me fez ficar por dentro dos meandros da maior premiação da crítica nacional. Além, e claro, do já alardeado prazer com o qual esse movimento me envolve e fascina, mostrando diferentes faces da minha própria cinefilia.

Agradeço ao Papo de Cinema pela oportunidade de estar num lugar de tal prestígio, debatendo e movimentando o Guarani desde o embrião anual. Agora, o ciclo se encerra… mas já estou ansioso pelo retorno, e por – quem sabe – um novo convite.

(Por Francisco Carbone, colaborador do Jornal do Brasil e membro da Academia Guarani de Cinema Brasileiro)

 

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