Crítica
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Sinopse
Os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas se alistam na expedição Roncador-Xingu e partem em uma missão desbravadora pelo Brasil central. Em uma iniciativa inédita até então, o trio consegue fundar o Parque Nacional do Xingu.
Crítica
As proporções continentais do Brasil vão muito além dos seus limites geográficos. Essa dimensão se refere também às pessoas, temas, histórias e problemáticas que enfrentamos diariamente, nestes mais de 500 anos de “descoberta”. E dentre toda a diversidade que o país comporta, talvez uma das mais prejudicadas durante este período seja a comunidade indígena, que de donos da terra hoje são verdadeiras párias, sem espaço, sem identidade e sem futuro. Mas se eles próprios não foram hábeis o suficiente para se defenderem do avanço e da selvageria do homem branco, ocidental e civilizado, ao menos algumas exceções dentre estes conquistadores souberam trocar de lado no momento certo e lutar em nome destes que já não tinham mais voz. Como os irmãos Villas-Bôas, cujas trajetórias servem de mote para esse belo e intenso longa nacional, Xingu.
Dirigido pelo competente Cao Hamburger, Xingu é um verdadeiro épico brasileiro, porém livre do ranço que estas duas expressões normalmente carregam. É um filme grandioso sem assim pretender, pois consegue expressar sua magnitude e importância sem incorrer em deslizes ou excessos. E, ao lado de Heleno e Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, lançados na mesma época, consegue desfazer a péssima imagem que a nossa produção originou neste início de 2012 com enganos como As Aventuras de Agamenon, Reis e Ratos ou Billi Pig. Todos os cuidados técnicos imagináveis foram tomados, a começar pela deslumbrante fotografia registrada por Adriano Goldman (do inglês Jane Eyre, 2011), um registro de som primoroso e um estudo de época fidelíssimo. E sem falar, é claro, do elenco superlativo, encabeçado por um gigante chamado João Miguel, por um subaproveitado Caio Blat e um esforçado Felipe Camargo.
Na primeira metade do século XX, Claudio (Miguel) e Leonardo (Blat) decidem largar suas vidas no Rio de Janeiro e partir para o Mato Grosso, no intuito de desvendarem a vida selvagem e o que restava dos povos originais brasileiros. Uma vez no meio da selva, não foi muito difícil convencer o irmão mais velho, Orlando (Camargo), e se unir a eles. Este, no entanto, seria o que levaria mais a sério a missão, sem se desviar do foco inicial com enlaces amorosos ou devaneios paranóicos. Os três, juntos, são os responsáveis por salvarem da extinção dezenas de povos indígenas, principalmente por terem lutado pela criação do Parque Nacional do Xingu, lugar que até hoje é um exemplo mundial de preservação de raças em perigo. Tudo isso está no filme, mas felizmente Hamburger ousa ir além. Sentimos, paralelamente, a intensidade dos desejos destes três irmãos, tememos com suas inseguranças, partilhamos suas vitórias e nos incomodamos com cada injustiça surgida pelo caminho. Xingu, dessa forma, não só ensina e resgata algo tão nosso, como também nos coloca ao lado dessa luta, num modo revelador e irreversível.
O cinema brasileiro nunca foi muito simpático com a causa indígena. São poucos os títulos que incorrem neste assunto com sucesso. Há pouco tempo tivemos o interessante Terra Vermelha (2008), com Matheus Nachtergaele, que foi pouco visto, além de documentários como Corumbiara (2009) e Serras da Desordem (2006), ambos premiados como Melhor Filme no Festival de Gramado, mas que acabaram restritos ao circuito de arte. Talvez Xingu, com seu elenco composto por atores de renome em plena excelência, com um diretor no domínio do seu exercício, um cuidado extremo com os detalhes e com um roteiro que assume o fato histórico com respeito, porém sem submissão, consiga mudar esse quadro. Com isso todos ganharão, não só nossa cinematografia, mas principalmente a sociedade como um todo.
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