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Sinopse

Aos 86 anos de idade, Irving Zisman está em uma jornada por toda a América com seu neto de 8 anos de idade, Billy. Com uma câmera escondida, os dois farão uma viagem insana pregando pegadinhas em situações inusitadas, como um funeral e um concurso de beleza infantil.

Crítica

Quem é fã das videocassetadas do Faustão, exibidas todo domingo pela televisão, deverá encontrar algo válido em Vovô Sem Vergonha, nova produção dos mesmos realizadores do programas de esquetes televisivos Jackass (2000). Mas é preciso ser um admirador fervoroso deste tipo de humor, pois tal filme nada mais é do que uma série de pegadinhas distribuídas uma atrás da outra por pouco mais de 90 minutos. Qualquer outro ser do planeta, no entanto, irá considerar esse longa uma grande e absurda bobagem, desnecessária e irrelevante. Alguns sorrisos até chegam a ser esboçados, mas eles acontecem especialmente em situações específicas quando há um incrível apelo à escatologia, e são motivados mais pelo espanto do mau gosto do que pela graça por si só.

Ao contrário dos três longas anteriores com a franquia Jackass, Vovô Sem Vergonha tenta se inserir em um universo ficcional, com o protagonista Johnny Knoxville investindo em um personagem – no caso, Irving Zisman, um senhor de 86 anos que está fazendo uma viagem através dos Estados Unidos, de Nebraska até a Carolina do Norte. Irving recentemente ficou viúvo, e como sua filha voltou para a prisão por ter violado uma condicional, o neto dele, que até então morava com ela, ficou desamparado. O avô não quer assumi-lo, e por isso decide devolvê-lo ao pai que há muito não o vê – e este só aceita cuidar do pequeno quando é avisado que irá receber uma pensão do Estado no valor de US$ 600,00 mensais. Na verdade, o que temos são desculpas apresentadas como arquétipos estruturados apenas para envolver desavisados nas situações insólitas que estes irão protagonizar.

Desde o  começo o tom de deboche se impõe, deixando claro o que vem a seguir. Quando Irving recebe a notícia de que sua esposa faleceu, no corredor do hospital, ele começa a sorrir aliviado, para espanto da senhora ao seu lado. A partir de então o veremos prendendo o próprio pênis numa máquina automática de refrigerantes (com o uso de um prostético de borracha, evidentemente), voando a bordo de um brinquedo infantil pela vitrine de uma loja de departamentos, assustando senhoras negras num clube de strip-tease racial, fazendo um concurso de peidos com o neto em plena lanchonete – até defecar na parede ao lado de onde está sentado – e atropelando um boneco de sinalização, entre outras peripécias tão inimagináveis quanto. Mas é tudo tão esquemático e programado que é difícil ver-se de fato surpreso com os episódios.

Há um problema conceitual em Vovô Sem Vergonha, e este está no fato da trama ser conduzida por dois atores. Johnny Knoxville aparece sob muita maquiagem, mas é conhecido por longas como Homens de Preto 2 (2002) e o O Último Desafio (2013). Já o pequeno Jackson Nicoll, como o adorável Billy, fez a versão infantil de Christian Bale no oscarizado O Vencedor (2010). Ou seja, sabemos que estão em cena apenas para tirar sarro da cara de quem estiver por perto e for iludido pelas brincadeiras pouco inspiradas deles, mais ou menos nos moldes do que Sacha Baron Cohen fez em Borat (2006) ou em Brüno (2009). Quando são diálogos apenas entre os dois, chega a ser ridícula a dramatização, pois não haverá um único desavisado na sala de cinema que irá comprar o que está sendo vendido.

Jornalistas e críticos de cinema, geralmente, são convidados a assistir aos filmes que estão sendo lançados antes de suas estreias, em cabines de imprensa. Por isso, em muitas vezes, as reações são diversas daquelas percebidas em “sessões normais”. Com Vovô Sem Vergonha, no entanto, isso não aconteceu. A distribuidora se recusou a exibir o filme antecipadamente – o que nunca é um bom sinal, pois pode ser interpretado como receio em relação a estas avaliações mais detalhadas. Desta forma, para a produção deste texto, foi necessário a ida ao cinema em um horário comercial, ao lado de uma audiência que estava ali não por um compromisso profissional, mas, sim querendo apenas se divertir. Quando as luzes finalmente se acenderam, ao término da projeção, foi possível verificar que nem uma única risada havia sido emitida por aqueles ali presentes. Um resultado satisfatório, pois foi possível concluir que nem sempre público e crítica estão em lados opostos. Dessa vez, todos concordam que este filme é um tremendo desperdício.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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