Crítica
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Sinopse
Uma jovem filha de colonos é expulsa de casa ao perder a virgindade. Na capital, recusa-se a aderir à prostituição e, vagando sem destino, é acolhida por um travesti. Ao dar a luz, conhece um arquiteto e pintor muito rico que lhe oferece emprego como modelo.
Crítica
Cristina (Vanessa Alves) é expulsa de casa pelo pai porque “se atreveu” a fazer sexo antes do matrimônio. Decidida a não se casar com o vizinho que lhe possuiu nas águas do riacho local, ela arca com as consequências do tacanho pensamento interiorano, mudando-se para a capital paulista, mesmo não tendo dinheiro e tampouco uma família que lhe ampare. Em Volúpia de Mulher esse prólogo nos vem por meio de um flashback, já que no presente a protagonista está numa cama de hospital, rememorando durante o sono os fatos que a levaram até ali. Seus gemidos são confundidos com dor, mas, na verdade, remontam ao instante de prazer que determinou sua desgraça. Aliás, recorrentemente o diretor John Doo faz essa relação, sem, contudo, tirar dela algum significado, incorrendo numa banalidade que perpassa a realização como um todo. As possibilidades de transcender o caráter puramente erótico arrefecem diante da necessidade constante de partir à próxima cena de sexo, o que esvazia o filme.
Em paralelo com a problemática adaptação de Cristina que, além de ter o filho recém-nascido internado, pois vítima de uma doença potencialmente fatal, ainda precisa saber como sustentará o menino, vemos o conturbado namoro entre Carla (Helena ramos), médica da protagonista, e o pintor vivido com inexpressividade por André Loureiro. Ele está parcialmente bloqueado, em busca de um rosto angelical, sem o qual não consegue levar seu trabalho adiante. Essa dificuldade é uma desculpa para a exposição sucessiva e gratuita de modelos nuas, cujos corpos esculturais não são suficientes aos anseios do personagem. Uma das mulheres que posa para seu olhar de artista o leva para cama, noutra passagem que serve de pretexto para uma tórrida transa, já que as consequências do adultério são achatadas até desaparecerem, a despeito do flagrante. Tudo se encaixa e se resolve com uma facilidade impressionante em Volúpia de Mulher, porque o espaço principal é reservado ao sexo.
A única pessoa a receber abnegadamente a mãe de primeira viagem, sem querer explorá-la de alguma maneira, é Lili Marlene (Romeu de Freitas), travesti que ganha a vida nas ruas. Pronta para defender sua protegida a todo custo, ela é capaz de enfrentar a ira do cafetão de uma amiga, garantindo com unhas e dentes a sua “inocência”. Essa figura carismática poderia encabeçar um núcleo mais fortemente dramático em Volúpia de Mulher, não fosse a inclinação de John Doo a dar pouca importância às questões abordadas, fazendo delas meros adereços do viés sexual, o que realmente pesa neste longa-metragem. Em determinado ponto da trama, Cristina é convidada a prostituir-se para obter ganhos suficientes ao custeio da operação do filho. Ao mesmo tempo, surge a oportunidade de posar nua. Nem essa disputa entre comércio e arte pelo corpo de Cristina é aproveitada a contento. Assim, se perde outra oportunidade de sobrepujar a vulgaridade e a superficialidade vigentes.
Volúpia de Mulher se dedica mais às coreografias do sexo, algumas beirando o malabarismo, que propriamente ao desenvolvimento da história e dos personagens. Mesmo tendo em sua equipe nomes proeminentes, tais como Ody Fraga, aqui responsável pelo roteiro capenga – embora empenhado em utilizar elipses e outros procedimentos para conferir dinamismo ao filme –, e o próprio John Doo, considerado um artesão de prestígio em meio ao ecletismo de olhares vigente na Pornochanchada, o resultado se mostra bem aquém das possíveis expectativas. O trabalho anódino do elenco também não colabora para substanciar os dramas trazidos à baila. Nesse quesito, se destaca negativamente a participação de André Loureiro, incapaz de transmitir a pretensa complexidade do pintor, já que ostenta um semblante praticamente neutro, endurecido pela falta de vivacidade. Em grau distinto, algo semelhante ocorre com a ala feminina, loquaz somente enquanto sem roupa, dessa forma atendendo aos desígnios mais rasteiros de uma produção que vale apenas pela capacidade de excitar.
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