Crítica

voce-foi-bahia-papo-de-cinema-02

Começando de modo bastante direto, e diferente demais da estética atual das animações Disney, Você já Foi à Bahia tem seu ponto de partida na correspondência que o carismático Pato Donald recebe dos amigos do Cone Sul, apelidados de "aves da América Latina". A carta contém um convite, que gera no personagem uma curiosidade sobre a cultura e os hábitos de seus convivas.

Para se informar, o pato assiste a vídeos institucionais, documentários que elucidam a vida de outras aves, começando pelo Polo Norte e indo até aos trópicos. Os comentários, ao menos no começo, são dignos das melhores notas da crítica de cinema mundial, pois elucidam somente as movimentações da própria natureza, sem anotações políticas ou sociais ligadas à cultura local, ao menos até se tocar no arquétipo do gaúcho, já decorridos quase quinze minutos.

voce-foi-bahia-papo-de-cinema-03

A dramatização segue por vias de imaginação. Após terminar os filmes, Donald abre o livro que balança no ritmo de um pandeiro. Zé Carioca começa a emitir uma música tipicamente brasileira, seguida de frases com inconfundível sotaque fluminense. É estabelecido um diálogo com o convite que dá nome ao filme, misturando elementos da cultura popular brasileira, se valendo demais da figura de Carmen Miranda, que nos anos 1940 era muito famosa e bem aceita pelo público americano.

Apesar de mostrar um Brasil de “exportação”, não há desrespeito com a figura do nativo. O que se aproxima de ocorrer é a demonstração do apetite sexual do estrangeiro ao se deparar com as mulheres brasileiras, mesmo que elas estejam trajadas de modo não expositivo, algo visto na atitude de Donald, que logo é freado por seu amigo, em um símbolo intenso de algo comum na interação entre amigos do sexo masculino. Há alguns signos fálicos, que fazem referência a práticas complicadas, como rinhas de galo, notados por qualquer espectador que possua um pouco mais de atenção.

voce-foi-bahia-papo-de-cinema-01

O uso de estereótipos não é restritivo, nem em relação ao povo brasileiro e nem ao mexicano. Panchito e Zé Carioca servem de pastiche, paródias inocentes de seus próprios povos, mas ao contrário do que alguns gibis clássicos da Disney antes faziam, não há muito juízo de valor, veredito moral ou enorme diferenciação de civilização entre os três personagens principais. A divisão da história em parcelas ajuda a aumentar a mística, e fortificar a sensação de encantamento com a produção dos estúdios Disney, resultando em um filme-homenagem inocente e divertido.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
avatar

Últimos artigos deFilipe Pereira (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *