Viagem de Formatura: Mallorca

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Sinopse

Viagem de Formatura: Mallorca: Um grupo de estudantes inicia uma viagem. No entanto, um surto de COVID interrompe seus planos e os obriga a permanecer trancados no hotel. Mais de 50 estudantes, um hotel, apenas dois professores e muitos, muitos frigobares. O que poderia dar errado? Comédia.

Crítica

Eles não tinham muitas pretensões, e talvez por isso tenham resistido ao tempo. De Clube dos Cafajestes (1978) a American Pie: A Primeira Vez é Inesquecível (1999), as comédias adolescentes mais lembradas não precisavam justificar seus excessos nem transformar cada cena de balbúrdia em símbolo de uma geração. Bastava deixar claro quem se jogaria no abismo da inconsequência e quem se resguardaria da vertigem, e disso nasciam histórias que, ainda que rasas, não erravam no tom. Ao tentar reencenar esse espírito sob roupagem mais atual e autoconsciente, Viagem de Formatura: Mallorca acaba tropeçando na tentativa de traduzir impulsos simples com vocabulário analítico demais, como se a festa precisasse de propósito.

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Ambientada em 2021, pouco depois do afrouxamento das restrições sanitárias impostas pela pandemia da Covid-19, a trama acompanha grupo numeroso de estudantes que embarca rumo à ilha espanhola com a promessa de dias inesquecíveis. A ideia é clara: recuperar o tempo perdido, brindar o fim do ciclo escolar e celebrar, como se ainda houvesse algo a conquistar antes da vida adulta bater à porta. Mas o plano desmorona quando um caso de Covid-19 dentro do hotel obriga todos a entrarem novamente em confinamento, e o que era para ser farra à beira-mar se converte em experimento social repleto de mentes agitadas, portas fechadas e hormônios prestes a explodir.

Há dezenas de jovens dividindo o mesmo espaço, embora, na prática, todos se confundam na multidão. A exceção atende por Gala, garota que se torna referência narrativa para o público, não apenas por ser a única a demonstrar algum senso crítico frente à loucura ao redor, mas também por representar a única tentativa do enredo de propor âncora emocional. Vivida por Berta Castañé, atriz em ascensão com forte presença nas redes sociais, a personagem funciona como o filtro possível diante de juventude ruidosa e, às vezes, esvaziada. Ainda assim, sua trajetória nunca se impõe como real obstáculo à fluidez dos acontecimentos, servindo mais como promessa do que de fato estrutura.

O roteiro assinado por Eric Navarro e Natalia Durán, sob direção de Paco Caballero, começa sugerindo pacto informal com quem assiste: não deve ser levado a sério, o objetivo é rir, dançar, exagerar e observar sem tanto compromisso. Essa proposta, em seus melhores momentos (que são bem poucos), resulta em cenas de energia vibrante, repletas de coreografias, corpos em trânsito e descobertas sensoriais que têm mais a ver com impulso do que com lógica. E isso não é problema – ao menos não seria, se a produção não recuasse diante da própria liberdade criativa, como se fosse necessário justificar toda festa com reflexão sobre a Geração Z.

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É nesse ponto que o trabalho se enrosca, tentando compensar a leveza inicial com discursos que destoam de seu próprio espírito, como se houvesse culpa no riso fácil e peso onde só havia prazer. A diversão é legítima, os arroubos também, e nenhuma narrativa adolescente é obrigada a carregar o fardo de representar mais do que aquilo que é, ou seja, um recorte acelerado de pessoas em formação tentando se encontrar enquanto o mundo gira em velocidade absurda. No fim das contas, o que fica de Viagem de Formatura: Mallorca não são as festas, as confusões ou a paisagem, e sim a impressão de que quem fez a verdadeira viagem foi o próprio longa, tentando entender se que ser levado a sério ou resgatar o charme que os exageros do passado carregavam com tanta segurança – e zero pudor.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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