Versões de um Crime
Crítica
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Sinopse
Quando um adolescente é acusado de assassinar o pai rico, um advogado é encarregado de defendê-lo no tribunal e revelar a verdade por trás do crime. À medida que investiga, descobre que a mãe do garoto está ocultando diversos fatos essenciais ao caso.
Crítica
Desde os primeiros planos, a cineasta Courtney Hunt situa a ação de Versões de um Crime em seu cenário principal: o tribunal. Neste início, Hunt insere sobre imagens dos preparativos do julgamento a narração do advogado Richard Ramsey (Keanu Reeves), que resume o caso que irá enfrentar. Ele está ali para defender o jovem Mike (Gabriel Basso) acusado de assassinar o pai, Boone Lassiter (Jim Belushi), um proeminente jurista e antigo amigo de Ramsey. Encontrado pela polícia ao lado do corpo esfaqueado, Mike, que aparentemente confessou o crime, se recusa a falar sobre o incidente, nem mesmo com seu advogado ou com a mãe, Loretta (Renée Zellweger). Com esta introdução, Hunt aparentemente busca colocar o espectador na mesma posição dos jurados, tendo um panorama superficial dos fatos, mas sem um conhecimento aprofundado das peças que compõem este quebra-cabeça.
Um mistério que, a princípio, aparenta ser facilmente decifrável, agradando boa parte dos envolvidos, como o Juiz apreciador de resoluções rápidas, a acusação, e mesmo outros personagens, caso dos policiais que demonstram total desinteresse em cogitar novos suspeitos, como Loretta, por exemplo. Apesar de ser uma figura-chave, a esposa da vítima e mãe do réu, também presente na cena do crime, tem uma participação bastante discreta no primeiro ato, o que serve como indício dos rumos da investigação. Em seu aguardado segundo longa-metragem, quase dez anos após uma estreia celebrada e surpreendentemente segura, Rio Congelado (2008), indicado a dois Oscars, Hunt busca empregar novamente algumas das características que contribuíram para o sucesso do citado trabalho anterior, como a objetividade e a crueza narrativa.
Porém, apesar dos dois longas envolverem basicamente a mesma mescla de gêneros – dramas pessoais e criminais - aqui Hunt se vê obrigada a trabalhar especificamente os arquétipos dos filmes de tribunal, nem sempre compatíveis com suas preferências estilísticas. Pois, ao mergulhar em um universo de pistas falsas, segredos e suposições, onde todos são potenciais mentirosos – como Ramsey reafirma incessantemente – ser tão direto se mostra algo mais arriscado. É preciso construir o senso de desorientação, de dúvida, mas essa atmosfera nunca é sustentada de modo pleno, esvaziando-se do suspense e da tensão que deveriam lhe dar corpo. O foco de Hunt é direcionado aos procedimentos legais, a parte burocrática do julgamento, e para a criação da estratégia de defesa – explicada por Ramsey quase sempre através da locução em off.
Apesar da louvável resistência em se valer repetidamente da inverossimilhança ou de aderir gratuitamente a viradas improváveis para gerar choque, a condução esquemática de Hunt, ainda que se deixe acompanhar sem perder totalmente o interesse, não consegue ser, de fato, envolvente. O registro econômico da diretora carece de inspiração para extrair dinamismo de uma encenação ambientada quase exclusivamente num único local, o tribunal – exceção feita a cenas pontuais e aos flashbacks que ilustram os depoimentos das testemunhas, e a tentativa de Ramsey em pintar o quadro de um passado disfuncional da família Lassiter, ressaltando o comportamento abusivo de Boone em relação ao filho e à esposa, para reverter a situação a seu favor. Infelizmente, o longa não se aproveita do aspecto claustrofóbico da limitação espacial, explorado brilhantemente em clássicos como 12 Homens e Uma Sentença (1957), de Sidney Lumet.
No entanto, a direção de Hunt não é a única qualidade que empalidece neste novo longa: o texto que serve de base também se mostra mais problemático. Se em Rio Congelado a própria cineasta se encarregou do roteiro original, aqui ela trabalha com o material escrito por Nicholas Kazan – filho do grande Elia Kazan – que possui alguns bons títulos em sua filmografia, como Caminhos Violentos (1986) ou a adaptação do livro de Alan M. Dershowitz, que lhe valeu uma indicação ao Oscar, em O Reverso da Fortuna (1990). Desta vez, porém, Kazan entrega uma trama extremamente convencional e limitada. Versões de um Crime carece também de uma atuação magnética, como fora a de Melissa Leo na estreia de Hunt, pois, apesar dos bons nomes do elenco transmitirem credibilidade, nenhum emana maior brilho.
Belushi e Basso seguram seus papéis eficientemente, enquanto Zellweger, retornando de um hiato, supera o estranhamento causado por sua fisionomia, mas sofre com a fragilidade do desenvolvimento da personagem. Reeves, por sua vez, convence moderadamente em seus discursos perante a Corte, se saindo melhor nos embates envoltos em cinismo com sua assistente, Janelle (Gugu Mbatha-Raw), filha de seu mentor e que possui questões pessoais próprias. Ela, que talvez seja a personagem mais bem delineada, acaba tendo sua relevância limitada, servindo a uma função específica – como “detectora de mentiras” – e, quando parece exercer um papel mais incisivo, termina deixada de lado. Hunt conduz tudo isso a um desfecho que ainda apresenta uma última reviravolta para tornar o mistério menos óbvio, mesmo sem ser realmente impactante ou fugir muito do que já podia ser antevisto. O resultado carrega um sentimento inevitável de decepção em relação ao potencial da cineasta, que entrega um produto menos cinematográfico e mais próximo dos episódios das séries de TV procedurais, como Lei & Ordem (2011-2013), que dirigiu no intervalo entre os longas. Um filme aceitável, porém genérico e sem personalidade.
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Filme: VERSÕES DE UM CRIME Francisco Alves da Costa Sobrinho Direção: Courtney Hunt -> Personagens/Atores: Advogado Richard Ramsey (Keaw Reeves); Adolescente Mike Lassiter (Gabriel Basso); Mãe, Loreta Lassiter (Renée Zellwger); Pai: Boone Lassiter (Jim Belushi); Advogada Janelle (Gugu Mbatha-Raw); Juiz: Dr. Robichaux (Ritchie Montgomery).O cenário preponderante do filme é a sala do Tribunal de Justiça, onde se desenvolve o julgamento do jovem Mike (17 anos), acusado de matar o próprio pai, rico empresário Boone Lassiter, o qual era tido como um homem violento e agressivo com a esposa e mãe do adolescente, senhora Loreta Lassiter. Os personagens são mostrados de forma tipificada, um a um, compondo-se com o elenco de advogados que participam das ações: de um lado, o promotor de justiça desempenhando de forma moderada o seu papel de acusador, ele mesmo chegando a reconhecer, na fase inicial do julgamento, que o garoto praticou o ato para proteger a mãe. Do lado do réu, um advogado amigo da família, bastante próximo, Dr. Richard Ramsay, na defesa do rapaz, mesmo que ele nada lhe diga sobre o acontecido por ocasião da morte do seu pai. No desenrolar do julgamento, além do Juiz de Direito, dos membros do Júri, das testemunhas e da plateia, entra em cena a Dra. Janelle, uma jovem advogada, que faz o papel de coadjuvante, admitida pelo advogado titular – que lhe reconhece competência e certa ‘capacidade de perceber coisas e até adivinhar’, para auxiliá-lo nas percepções que o caso requer. Desta maneira, são apresentados os personagens centrais da trama, quais sejam: o homem assassinado, mostrado até certo ponto como um bom pai, mas um marido violento e ameaçador; o adolescente, tímido e caladão, acusado de matar o pai para defender a mãe, que, por sua vez, é apresentada como esposa submissa e agredida. Desta maneira, o filme desenvolve-se num clima de suspense e indagações, trazendo ao espectador a sensação de que algo está faltando para esclarecer a trama, de que alguns dos personagens sabem mas estão escondendo algumas coisas, havendo, assim, um verdadeiro desequilíbrio das informações dadas e do que foi apurado, sensação que é reforçada pela narrativa do filme, trazendo outras informações ou sugerindo que elas devem ser buscadas para o esclarecimento do evento criminal, mesmo após o último depoimento do garoto, contando a versão de sua história de relacionamento com o pai e assumindo o crime praticado, utilizando-se do fato de ser versado em direito, sagazmente criando um fato novo, alterando a trama e empoderando-se do fato, e, ao mesmo tempo, obtendo com isso o reconhecimento de sua vitimização e a sua absolvição. Tanto que, ao sair da prisão, revela ao verdadeiro autor do crime – o advogado de defesa - ser sabedor da sua relação com a mãe dele, devolvendo-lhe o relógio que ele encontrou ao lado do corpo esfaqueado, prova cabal do crime quase perfeito.