Crítica


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Sinopse

Maya é uma funcionária de supermercado insatisfeita com sua vida profissional. Porém, tudo muda com uma pequena alteração em seu currículo e suas redes sociais. Com sua experiência das ruas, habilidades excepcionais e a ajuda de seus amigos, ela se reinventa e se torna uma executiva de sucesso.

Crítica

O grande problema de Uma Nova Chance não é exatamente o tom edificante/meloso, a necessidade de empilhar mensagens fáceis enquanto a trajetória da protagonista se desenvolve aos tropeções. Seu maior ponto fraco é a flagrante aleatoriedade com a qual são enfileiradas as situações, algumas delas absurdas o bastante para dirimir as insuficientes qualidades do longa-metragem, como o carisma sobressalente dos coadjuvantes. Maya (Jennifer Lopez) é uma funcionária modelo à espera da tão almejada promoção. Mesmo responsável por boa parte do sucesso do supermercado em que labuta diariamente, ela é preterida pelo chefe que contrata um engomadinho de currículo cheio de referências e láureas acadêmicas. Nesse primeiro momento, o assunto principal do filme é justamente a necessidade de reconhecer as experiências, isso em detrimento da obsessão do mercado por diplomas. Para tanto, o diretor Peter Segal recorre a estereótipos, vide o novo patrão dado a patéticas dinâmicas de grupo e a batalhadora legal que transborda competência.

Há, também, um entrave determinante na vida sentimental de Maya. Seu namorado, Trey (Milo Ventimiglia), quer dar o famigerado “ passo adiante” e constituir uma família tradicional, com filhos e tudo mais. Atendendo a uma convenção surrada, quando a subalternidade vira um incômodo incontornável, a resolução do companheiro impede concomitantemente a sequência do relacionamento. É, portanto, desse fundo do poço que ela emerge por conta de uma mentira. Seu afilhado cria a personalidade falsa que lhe permite ser recebida numa multinacional. Já no ambiente corporativo, Uma Nova Chance abraça o seu novo foco, a rivalidade feminina, desenhada com vários dos ingredientes considerados amplamente lugares-comuns. Não bastasse a alternância histérica de temática, num conjunto que pena para atingir alguma unidade, surge um plot twist quase inacreditável que reconfigura completamente a estrutura do conjunto, tão artificialmente que o expõe.

Uma Nova Chance consegue a “proeza” de ficar ainda mais trivial a partir do momento em que as antigas rivais, Maya e Zoe (Vanessa Hudgens), se aproximam bem no meio da disputa para saber quem é capaz de aumentar a lucratividade da corporação. A personagem de Jennifer Lopez salta agressivamente da humildade que deveria lhe caracterizar ao absoluto enquadramento numa rotina marcada por excessos. Tão logo ela ocupe a posição de consultora, o filme vira uma espécie de desfile de moda, em que a atriz exibe sucessivas vestimentas diferentes. Alguns desdobramentos são forçados, duros de engolir, como a contratação às cegas da completa desconhecida que, sem mais aquela, ganha de brinde a possibilidade de morar num apartamento nababesco e ter cartões de crédito com poder de compra ilimitado. Não há, sequer, um pingo de mirada crítica a esse estilo de vida. Até a óbvia inclinação por provar que a essência está além das aparências perde potência.

Outro ponto que depõe contra Uma Nova Chance é a inconsistência do drama que assola o passado de Maya. Nem quando uma coincidência para lá de improvável se impõe, as escolhas de outrora são contrapesadas devidamente. Para adicionar retalhos nessa colcha mal cerzida, há uma discussão superficial, pois óbvia, acerca da prevalência da verdade durante a busca por felicidade. Há tomadas tecnicamente mal finalizadas, vide os fundos inseridos em pós-produção durante a viagem de Zoe à Inglaterra. O filme guarda na manga um movimento demasiadamente conciliatório, baseado no oferecimento de soluções simplistas para problemas complicados e na resignação da mulher à vontade do homem, decisão mal camuflada de superação de um trauma. Jennifer Lopez parece mais preocupada em mostrar-se fisicamente em forma do que em construir uma figura relevante. Nesse andamento, nem os bons personagens secundários conseguem salvar o todo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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