Crítica


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Sinopse

O jovem Amadeu ainda tem planos ambiciosos para o seu desativado time de pebolim. Tímido, ele deseja reunir os amigos para finalmente superar seu maior adversário.

Crítica

Ao visitar o Brasil para receber o Kikito de Cristal, homenagem concedida pelo Festival de Gramado em 2012, o diretor Juan José Campanella declarou ter feito uma verdadeira ginástica em sua agenda para conseguir tempo suficiente para sair de Buenos Aires e se deslocar até a Serra Gaúcha. Quando questionado o motivo de tantos compromissos, sua resposta foi apenas uma: “Metegol”. O conhecido jogo de pebolim (entre os cariocas o brinquedo se tornou popular como Fla x Flu) dá nome também ao primeiro longa-metragem de animação – por aqui batizado como Um Time Show de Bola – do oscarizado cineasta argentino, premiado por títulos como O Filho da Noiva (2001) e O Segredo dos Seus Olhos (2009).

Nunca imaginei que fosse ser tão difícil minha primeira experiência nesse gênero”, declarou o cineasta na época. “Espero que valha a pena todas estas noites sem dormir”, suspirou em tom de súplica. Bom, Campanella, mais de um ano depois, a conclusão é unânime: todo esse esforço valeu, e muito. Prática dominada em quase sua totalidade pelo cinema hollywoodiano, a animação tem se disseminado pelo mundo com os avanços tecnológicos e a maior facilidade de acesso a essas novidades. Hoje em dia já é bem mais comum nos depararmos com longas do gênero vindos da Europa, Japão e daqui mesmo do Brasil. Não deveria ser diferente, portanto, ao se tratar da nossa vizinha Argentina.

O ponto positivo, no entanto, é que não se trata de um aventureiro de primeira viagem, mas sim de um realizador de grande experiência internacional, tendo atuado anteriormente no cinema norte-americano e com vários sucessos no currículo. Isso, por outro lado, só aumentou a expectativa em torno de Um Time Show de Bola, um filme que cumpre à altura o que se espera dele – entretenimento de qualidade e bem realizado – porém não vai além disso. É bom – em alguns momentos chega até a ser muito bom – mas não pode ser qualificado como surpreendente ou inovador. Uma avaliação, é preciso ser justo, mais do que positiva.

Amadeo é um rapaz comum, que possui duas únicas paixões na vida: Laura, a menina mais bonita da sua cidade, e a mesa de pebolim do bar onde trabalha ajudando a servir os clientes. Essa habilidade – o garoto é bom no jogo – acaba, com o passar dos anos, se tornando uma obsessão, a ponto dele não perceber que a vida segue mudando para todos, menos para ele. No dia em que Laura avisa que está indo embora para estudar na capital – partindo o coração do amigo – outra novidade movimenta o pequeno vilarejo: Grosso, um desafeto do tempo em que eram crianças, retorna completamente modificado e com um plano em mente. O antigo inimigo não apenas se tornou um astro do futebol como também ficou milionário, e com isso planeja construir o maior estádio esportivo do mundo, exatamente no lugar onde sofreu sua maior derrota, quando perdeu uma partida de pebolim para Amadeo.

Desamparado, sem amigos e sem saber o que fazer, nosso herói terá apenas uma ajuda, justamente daqueles que sempre estiveram do seu lado: os jogadores de metal do tabuleiro, que inacreditavelmente ganham vida e passam a ensinar, a ele e a mais um bando de pernas da pau – o dono do bar, o padre, a velha de bigode... – os segredos do bom futebol. A semelhança com Toy Story (1995) não parece ser mera coincidência, mas os realizadores conseguem ir além dessa impressão inicial criado algo muito próprio e específico. Há uma aposta em questão entre os dois protagonistas: Amadeu e sua turma deverá enfrentar Grosso e seu time de craques, numa disputa em que o vencedor ficará com tudo, enquanto que ao perdedor caberá apenas a expulsão da cidade. E que vença o melhor!

Campanella faz uso do seu melhor – a habilidade de construir personagens cativantes envoltos em uma história de ritmo, que prende a atenção do espectador – para disfarçar suas carências. Um Time Show de Bola, ainda que exibido em 3D, possui uma técnica de animação apenas competente, sem deixar ninguém maravilhado – e em tempos como os atuais, em que se espera sempre mais e melhor, tal condição pode ser confundida com mediocridade. Mas não é o caso, felizmente. O roteiro tem formato quase episódico – a infância, a chegada do inimigo, a aventura no lixão, a disputa no parque de diversões, a correria pela fortaleza do vilão, a partida final – e isso pode cansar os menores. Mas o prazer de ver um esporte de multidões felizmente sendo bem explorado na tela grande – algo curiosamente raro no cinema mundial – acaba compensando estes deslizes. E, assim, temos um filme bonito, que diverte dentro do esperado, porém sem deixar muitas marcas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
6
Edu Fernandes
5
MÉDIA
5.5

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