Crítica


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Sinopse

Após conquistarem a paz em Ayaka-shi, Isami e Asahi lutam por seus sonhos. Todavia, a Terra é assolada por um monstro perigoso e ambos serão instados a voltar para evitar derramamento de sangue.

Crítica

Uma das mais tradicionais e respeitadas grifes tokusatsu japonesas, Ultraman já rendeu inúmeros filmes e séries de televisão, além de inspirar cópias descaradas, tais como Spectreman (1971-1972). Em Ultraman R&B há uma cidade aparentemente tranquila depois de ter sido assolada pela presença de monstros ameaçadores. Os irmãos Katsumi (Yuya Hirata) e Isami (Ryosuke Koike) não precisam mais se transformar nos fabulosos Ultraman para defender vizinhos e entes queridos. O primeiro entra num dilema existencial quanto à continuidade da sua vida. Mas, não demora para percebermos a fragilidade dessa aventura que gasta mais tempo apresentando as pirotécnicas mutações – e são muitas em pouco mais de uma hora – do que trabalhando elementos dramáticos. As dúvidas do protagonista não possuem espessura e empalidecem diante da prevalência da lição sentimentalista que rapidamente se apresenta como essencial. No fim das contas, o filme se empenha bastante em desenhar a importância da família, para isso atropelando sutilezas e afins.

Há incongruências impressionantes em Ultraman R&B. Por exemplo, a forma como Katsumi é levado a atender o chamado de outro planeta, ainda que avisado da possibilidade de não retorno. Então, sem mais aquela, o super-herói safo está passando por um túnel ermo, sai uma mão misteriosa da televisão quebrada e lhe convida à missão pretensamente suicida. E o que ele faz? Abraça a empreitada sem pestanejar. Obviamente a ideia do cineasta Masayoshi Takesue é sublinhar o senso de justiça que caracteriza os Ultraman, mas o desenho da cena carrega doses cavalares de inverossimilhança e comicidade involuntária. A hesitação entre dever e felicidade pessoal é mal utilizada ao longo da trama. Isami está prestes a viajar aos Estados Unidos para ampliar uma pesquisa científica e isso poderia servir como pretexto para expandir o quinhão daqueles que assumem a identidade Ultraman, assim acentuando aquilo que acontece simultaneamente com o irmão hesitante. Mas, passa-se batido pelas complexidades em prol de uma construção narrativa rasteira e tola.

Atropelando como um trator a humanidade dos personagens, incorrendo em dinâmicas engraçadinhas que caem no ridículo – como a vigília machista do pai e dos irmãos ao suposto encontro amoroso da caçula –, Ultraman R&B vale o quanto pesam suas repetitivas batalhas, com preâmbulos intermináveis em que os mocinhos lançam mão das liturgias de metamorfose. As brigas entre os Ultra e os monstros gigantes não variam, principiando, se desenrolando e sendo finalizadas de modos semelhantes. Outro ponto importante no que tange às aparagens de arestas e potenciais controversos é a infantilização do processo de escolha entre o bem comum e os vários laços individuais. Em determinado momento a ameaça contém um amigo de infância do protagonista e o filme sequer passa perto de criar, quiçá, uma expectativa quanto à definição entre o sacrifício do laço de amizade em prol do salvamento das vidas desconhecidas. Se encarado, esse impasse também poderia ajudar a substanciar a bizarra ida de Katsumo para o espaço deixando os seus para trás.

Ultraman R&B é um filme satisfeito em reafirmar lógicas. Uma delas é a imprescindibilidade da unidade familiar. Outra, a mitologia dos Ultraman, reverenciada com uma simplória reiteração de signos. Nos anos 1960, quando o super-herói surgiu no Japão, as condições tecnológicas de produção eram outras. Com o passar do tempo, certos componentes, tais como aos trajes de látex e as óbvias maquetes fazendo às vezes da cidade prestes a ser parcialmente destruída, adquiriram outra dimensão. Passaram a constituir um tônus nostálgico capaz de ainda sustentar uma franquia de exemplares inclinados a apenas reiterar a mesma inocência e o descompromisso com a profundidade dos personagens. Todavia, até como aventura saudosa e reverente o longa-metragem assinado por Masayoshi Takesue deixa a desejar. No fim, sobrepesam efeitos especiais de péssima qualidade, ausência de textura humana, transição abrupta entre segmentos mal resolvidos, falta de imaginação visual e a necessidade de verbalizar tudo, até aquilo que está sendo mostrado.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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