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Sinopse

Moxy e seus amigos - Ox, Ugly Dog, Wage, Babo e Lucky Bat - moram na colorida e divertida cidade de Uglyville. Quando partem para uma aventura no Instituto da Perfeição, descobrem que não é preciso ser perfeito para ser incrível. Afinal, o que mais importa é quem você realmente é.

Crítica

A mensagem de encorajamento e valorização das singularidades está acima de qualquer outro componente em UglyDolls, animação protagonizada por brinquedos descartados em virtude de sua aparência não condizer com um padrão industrial. Subordinando a si todas as demais peças da narrativa, a tese carregada pelo filme chega num momento bem-vindo, especialmente se levado em conta o fato do público-alvo ser o infantil. Num tempo de demonstrações ferrenhas de intolerância de diversas naturezas, a bonequinha Moxy é um belo símbolo de obstinação e empoderamento. Todavia, a maneira como a cineasta Kelly Asbury conta a história dela e de seus amigos não é propícia para desdobrar, sequer, os temas ali acessados. Uglyville, a cidade para a qual os bonecos defeituosos são levados, é esquadrinhada rapidamente, apenas o suficiente para gerar proximidade com os coadjuvantes mais imediatos. A densidade do discurso acaba prejudicada nesse caminho dividido entre a lição e o mero atendimento às demandas de protocolos concernentes aos filmes para crianças.

UglyDolls é hipercolorido e apresenta dois ambientes. Num deles, a "feiura"não é considerada problemática, uma vez que todos se aceitam como são. Não há cobranças, nem desejo de atender expectativas alheias. No outro, em que a protagonista vai desembocar na sua procura pelo mundo real e as crianças que precisam de carinho, nem as aparências guardam tantas distinções. Nesta antessala do contato com os humanos, as engrenagens se movimentam a fim de homogeneizar, de acabar com toda a espontaneidade. O intuito é criar a noção artificial da beleza padrão. Nesse sentido, Moxy e seus colegas – poucos deles efetivamente cumprindo papeis para além do auxílio circunstancial – são corpos estranhos, logo repelidos pelos asseclas de Lou, vilão considerado um modelo a ser seguido. Esse choque de realidades se dá de modo simplório, com ensinamentos sendo expostos verbalmente e poucos espaços a sutilezas. É tudo muito dito e reiterado ao longo do enredo.

Valendo-se de uma estrutura musical, UglyDolls frequentemente mostra números repletos de positividade e conteúdos edificantes. Em tais instantes, o cenário se modifica, espelhando o estado de espírito das criaturas. Aliás, visualmente, a produção não apresenta uma constituição para além do burocrático. Contribui para isso a ausência de uma mais efetiva personalização dos espaços e o gradativo senso generalista impresso por essa construção bastante frágil. O desvelamento de uma relação insólita entre os comandantes dos dois cenários não tem peso dramático, principalmente porque se dá de forma apressada, com um deles fazendo questão de contar o que os uniu no passado e como se deu a ruptura que, inclusive, guarda buracos não devidamente preenchidos. Apesar de caminhar progressivamente em direção ao êxito dos humilhados e à união de espécimes física e emocionalmente diferentes, o longa o faz com um excesso de enunciados conciliatórios.

UglyDolls subaproveita coadjuvantes carismáticos, tais como o cão/gato dado a cantarolar rap e o gato/morcego considerado mais sábio de Ugllyville. O personagem que tira bugigangas de onde menos se espera, precisamente essa faculdade especial, é também mal utilizado. Nessa escalada rumo à insurreição dos menosprezados, passa-se frugalmente pela instância intermediária da falta de perspectiva, fase que antecede a guinada rumo à vitória. O caráter formulaico da trama é exposto por conta do acúmulo de desdobramentos ordinários, da condução de Kelly Asbury por uma senda facilmente antecipável. Eventualmente surgem indícios de criatividade, como menções a animações antigas, vide os clássicos olhos brilhando no escuro e as silhuetas em 2D projetadas como sombras em meio à missão de sequestro. Todavia, são lampejos rápidos e excepcionais demais para tirar o conjunto da mesmice, ainda que a mensagem sustentada seja essencial.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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