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Sinopse

Em 1721, para manter a paz entre França e Espanha após anos de guerra, o Regente do Reino da França, Philippe d'Orléans, propõe uma troca de princesas que resulta no noivado do rei da França, Louis XV, de 11 anos, com Anna Maria Victoria, 4 anos, e as do príncipe herdeiro Louis, de 11 anos, com Louise-Elisabeth d'Orleans, 12 anos. Porém, a chegada dessas princesas pode comprometer os jogos de poder na Corte.

Crítica

Adaptação de L´Echange des Princesses, livro de Chantal Thomas, Troca de Rainhas se passa num momento particularmente turbulento da história europeia. Em 1721, o rei Luis XV (Igor van Dessel), da França, então com 11 anos, único remanescente direto da linhagem real, está prestes a prescindir do regente Philippe (Olivier Gourmet), que conduz o reino. Mas, o imberbe de sangue azul ainda não atingiu a maioridade necessária. Visando cessar a guerra contra a Espanha chefiada pelo instável Philippe V (Lambert Wilson), o interino governante recorre à velha tática de apaziguar pela via do matrimônio. Neste caso, dois. Sua filha vai ao país estrangeiro para se tornar a futura rainha espanhola; enquanto a caçula dos hispânicos, a despeito da tenra idade, evade à terra francófona para futuramente assumir a coroa de lá. Duas meninas bastante jovens se sacrificam pelo bem do cessar-fogo. Infelizmente, o cineasta Marc Dugain se detém de menos nessa opressão à mulher, acessando-a superficialmente.

A suntuosidade da produção chama atenção. Figurinos e cenários pomposos recriam com acuidade os ambientes cortesãos do século XVIII. Também prevalece um olhar crítico, lançado constantemente aos nobres, com diversas demonstrações de mesquinharia e ruindade. Embora seja um tanto esquemática, a constatação paralela das dificuldades pelas quais as forasteiras destinadas à grandeza passam concomitantemente acentua as jogadas de bastidor, a podridão que se aloja imediatamente sob as vestes portentosas. Troca de Rainhas apresenta certo acanhamento quando poderia ser impetuoso nas colocações ferinas a que se presta. O realizador evita levar adiante um posicionamento incisivo, mais direto, propondo a sucessão de instantes que expõem a intenção diretiva, sobretudo a de observar um painel amplo, partindo de demandas e angústias íntimas. Porém, a tentativa de abraçar diversos vieses e pontos de vista acaba enfraquecendo o todo, denotando considerável falta de foco.

Troca de Rainhas oscila entre o escrutínio da melancolia do jovem rei Luís XV, permanentemente temeroso quanto à própria integridade física, e a incapacidade do herdeiro do trono espanhol de contrariar as ordens do monarca/pai. Marc Dugain subaproveita o drama das meninas que padecem em medida semelhante, embora por situações completamente diferentes. A pequena Anna Maria Victoria (Juliane Lepoureau), apesar de ter somente quatro anos de idade, se adapta à vida nova, direcionando afeto ao jovem que não retribui suas manifestações cordiais. Em sentido oposto, Luísa Isabel (Anamaria Vartolomei) se recusa a aceitar os galanteios do prometido na Espanha, fazendo questão de exibir um comportamento irascível que deixa muito evidente seus descontentamento e desconforto. Uma aceita o quinhão, outra não. Ambas, porém, sofrem as consequências de uma situação que lhes é imposta. Todavia, tal conjuntura não serve para expressar completamente as suas tragédias.

Troca de Rainhas – a tradução literal do original francês é “troca de princesas”, até porque uma delas sequer chega ao reinado durante a trama – é um filme com várias boas ideias e colocações, no que tange ao conteúdo. Formalmente, há uma conformidade excessiva, com a câmera passeando burocraticamente por cômodos e paisagens, ocasionalmente aspirando à beleza como insuspeito reforço das violências vigentes. Nem bem um estudo das engrenagens da realeza europeia, tampouco uma tentativa veemente de perceber o papel da mulher numa dinâmica dominada por visões predominantemente falocêntricas, a produção, entretanto, possui predicados suficientes para interessar, especialmente no concernente ao panorama histórico. Mas, há um flagrante descuido com os meandros humanos subordinados aos preceitos tradicionais. O trabalho uniforme e coeso do elenco é, certamente, um acerto da direção que manifesta menos arrojo para destacar certos elementos em meio ao caos oficial das cortes.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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