Tokiori: Dobras do Tempo
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Sinopse
Tokiori, em japonês Toki = tempo e Ori (do verbo Oru) = dobrar, é um filme que mergulha na memória de cinco famílias de imigrantes japoneses que se instalaram no Brasil nos anos 1930. Foi no bairro rural da Graminha, no oeste paulista, que os destinos dessas famílias se cruzaram numa história marcada por constantes deslocamentos entre os dois países. São travessias nas quais terra natal e terra estrangeira se confundem e revelam novas identidades mestiças tecidas ao longo de três gerações.
Crítica
Os imigrantes japoneses, que ajudaram a tornar grande e rentável a agricultura no interior de São Paulo, deixaram marcas que vão além dos traços de seus descendentes nascidos em terras brasileiras. O resultado é uma mistura da cordialidade oriental com o calor humano típico dos latino-americanos. Com foco nas lembranças de quem deixou o outro lado do mundo para conquistar uma vida mais confortável no Brasil, o diretor Paulo Pastorelo criou Tokiori: Dobras do Tempo, documentário que tem como cenário principal a comunidade rural de Graminha, localizada próxima à cidade de Marília.
Pastorelo se propõe a traçar a história das cinco famílias japonesas que colaboraram para tornar a região uma das mais férteis para o café nas décadas de 20 e 30. Porém, seu foco não está no processo de imigração, mas na construção de uma verdadeira família. A narração em off no início do filme descreve o olhar infantil sobre uma festa na fazenda, em que todos os convidados eram imigrantes e, de certa forma, parentes. A ideia de que japoneses eram iguais se encaixa aqui não como preconceito, mas como sobrevivência. Juntas e realizando casamentos entre si, os parentes diminuíam a falta da terra natal.
As constantes e desejadas viagens entre Japão e Brasil dos pais de Yoshie Sato, de 90 anos, são traduzidas em fotos e cartas repletas de elogios aos familiares japoneses e também promessas de uma volta definitiva à terra do sol nascente. Por ter chegado ao Brasil com apenas nove anos, Yoshie cresceu acompanhando as mudanças políticas e econômicas do país de forma singular, já que era uma criança japonesa criada num lugarejo brasileiro. As paisagens se mesclam ao longo de Tokiori: Dobras do Tempo e o diretor faz disso uma poesia com a cara da nossa nação. Suas lembranças de infância se combinam com acontecimentos felizes e trágicos da comunidade japonesa de Graminha.
Em alguns planos, o documentário toca o cinema japonês clássico, como no da entrevista com um casal de idosos no Japão relembrando as cartas dos familiares que foram construir suas vidas no Brasil. A câmera rente ao chão, seguindo o estilo do cineasta Yasujiro Ozu, agrega mais significado às histórias, sempre permeadas por silêncios longos, bem ao gosto oriental. Tokiori: Dobras do Tempo não é apenas um retrato da imigração japonesa no Brasil. É uma amostra de como um povo que veio de tão longe se integrou à nossa cultura sem abandonar a saudade do lado de lá.
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