Crítica

Algumas surpresas são esperadas quando é chegada a hora do anúncio dos indicados ao Oscar. Mas a aparição desta produção sueca muito abaixo do radar na premiação de 2016 parece ter pego de supetão até Cheryl Boone, presidente da Academia, quando ela teve de ler o quilométrico nome da produção durante a divulgação dos concorrentes às estatuetas. Ao lado de Mad Max: Estrada da Fúria (2016) e O Regresso (2016), na categoria Melhor Cabelo e Maquiagem, estava The 100-Year-Old Man Who Climbed out the Window and Disappeared. No Brasil, o título ficou um pouco menor, embora tenha sido traduzido de forma literal: O Centenário que Fugiu pela Janela e Desapareceu. Por mais que as chances de vitória desta pequena obra fossem diminutas (perdeu para Mad Max), é louvável que os votantes tenham aberto os olhos do mundo para esta comédia divertida, uma espécie de Forrest Gump explosivo.

Assim como na produção oscarizada comandada por Robert Zemeckis em 1994, o protagonista deste filme sueco acaba se encontrando com figuras históricas conhecidas, dando sua contribuição para alguns eventos marcantes. As personalidades, no entanto, não são tão amistosas quanto as do longa encabeçado por Tom Hanks. Nesta trama, o centenário Allan Karlsson (Robert Gustafsson), apaixonado e conhecedor de poderosos explosivos, está cansado da rotina da casa de repouso onde passou a viver. No dia de seu aniversário, ele foge pela janela e desaparece. Seu intuito é pegar o primeiro ônibus para longe dali. Antes de fazer viagem, é interpelado por um sujeito rude, que praticamente lhe ordena a cuidar de sua bagagem enquanto vai ao banheiro, na rodoviária. É assim que Allan parte para sua jornada com uma mala alheia, mal sabendo que nela existe uma pequena fortuna. Ao chegar no seu destino, conhece o simpático Julius (Iwar Wiklander), que será o seu companheiro de jornada (e cúmplice das peripécias). Isso porque o rapaz da mala é apenas um capanga e será o primeiro de vários obstáculos que esta improvável dupla enfrentará. Costurado a esta trama principal, vemos um jovem Allan em seu passado, vivendo uma existência igualmente interessante – e explosiva.

Comédia farsesca, com pitadas de irmãos Joel & Ethan Cohen, e trama rocambolesca, lembrando Guy Ritchie, O Centenário que Fugiu pela Janela e Desapareceu tem no humor negro e nos personagens caricatos os seus grandes predicados. Os encontros de Allan com figuras como Josef Stalin, Francisco Franco, Robert Oppenheimer e Einstein (não o Albert, mas seu irmão burro Herbert) são pequenas gemas em uma trama que prima pela diversão e pelo inusitado. Os flashbacks, no entanto, só funcionam por possuírem esta verve galhofeira, pois têm pouca relação com a trama principal. Como é baseado em livro, é muito provável que no best-seller sueco este vai e vem temporal funcione melhor. Faltou ao diretor e roteirista Felix Herngren dar maior liga a estes dois momentos distintos.

Ainda que tenha sido indicado ao Oscar pela maquiagem, em momento algum acreditamos que aquele homem poderia passar por um senhor de 100 anos. Octogenário, talvez. De qualquer forma, mesmo se o envelhecessem de forma correta, é óbvio desde o primeiro momento que estamos vendo alguém maquiado e isso distrai muito de início. A ideia é poder usar o mesmo ator em todas as fases adultas de sua vida. Mas o efeito sai pela culatra quando o intérprete só consegue convencer quando está em meia idade – ou seja, sua real faixa etária. Com um protagonista mais talentoso, esta produção poderia chegar a notas bem altas. Desta forma, surge como um bom divertimento, mas carente de aparas.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
avatar

Últimos artigos deRodrigo de Oliveira (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *