Slam: Voz de Levante
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Roberta Estrela D'Alva, Tatiana Lohmann
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Slam: Voz de Levante
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2017
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Brasil
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
A primeira qualidade de Slam: Voz de Levante a ser reconhecida é a ampla valorização de sua matéria-prima, ou seja, dos engendramentos poéticos (e cortantes) que expressam os pensamentos dos partícipes das performáticas Poetry Slam. As diretoras Roberta Estrela D'Alva e Tatiana Lohmann fazem questão de não realizar um filme esquemático sobre a modalidade nascida nos Estados Unidos, mas que prontamente se disseminou mundo afora. Pela atenção às várias manifestações transbordantes de inconformidade, é perceptível a reverência da produção à arte que se traveste de batalha para angariar expectadores, mas cuja essência é a tradução de exasperações, sentimentos e sensações duras. Por meio da câmera que demonstra constante inquietude, não submetida a uma ótica meramente contemplativa, somos instados a refletir acerca do que se diz geralmente em três minutos. Manos e minas, pretos e brancos vociferam em palcos, praças, sendo julgados não por especialistas, mas pela plateia de leigos que vota e determina os vencedores.
Slam: Voz de Levante poderia, então, entregar-se à armadilha de deter-se somente nas apresentações, exacerbando essa veneração por uma arte própria a dar voz aos calados por sistemas excludentes. Todavia, as realizadoras também se interessam pelas minúcias, observam a gênese e as contradições do Slam. Roberta Estrela D'Alva, representante do Brasil numa das copas mundiais da categoria, competição disputada anualmente em Paris, conduz a experiência como se fosse realmente uma mestre de cerimônias, mas sem cerimônias, guardiã de uma coloquialidade inclusiva. Ela viaja por recantos brasileiros e estrangeiros, mostrando performances em comunidades periféricas, incentivando grupos a dizerem a que vieram, conversa com diversos artistas e interpela os criadores da atividade, confrontando, inclusive, quando um deles desanda a criticar negativamente a linguagem do Hip Hop. Enquanto personagem, ela representa a contestação.
Há uma bem-vinda insurreição em Slam: Voz de Levante. Embora não consiga manter intermitentemente seu potencial explosivo, o longa-metragem se esforça para não se submeter a protocolos documentais “comportados”. Para isso, bagunça cronologias, incorre num vai e vem temporal engenhoso para potencializar expressões e relatos, o que reveste a narrativa de atrevimento. Dessa maneira, Roberta Estrela D'Alva e Tatiana Lohmann fazem jus formalmente ao slam, deixando que seu conteúdo se encarregue de impactar. Com concisão, elas dispõem os termos, estabelecendo poucos padrões e regras, o que torna o resultado dinâmico, apenas circunstancialmente refém de reiterações temáticas. Um dos pontos pungentes do conjunto é justamente a problematização do obviamente enlevado, com a constatação do caráter competitivo/comercial do slam se imiscuindo numa trama cheia de celebração. A chapa não é branca, definitivamente.
Roberta Estrela D'Alva e Tatiana Lohmann criam com Slam: Voz de Levante um filme consistente, em que o discurso fílmico é condicionado pelo do slam, com segmentos mordazes e eficientes do ponto de vista prático. Mesmo que acabem minimizando dados, como, por exemplo, a predisposição dos jurados aos poemas concernentes às reivindicações das chamadas minorias (no poder, pois demograficamente são majoritárias) – e, por conta disso, manifestações abertamente amorosas perderiam espaço por não inflamar a plateia –, as cineastas não os ignoram nesse caldo necessário pela indigestão das ferramentas de opressão. Tratando o slam como uma conjuntura predominantemente de revolta e revide, o documentário não intenta impor a sua voz, funcionando mais como uma caixa de ressonância, ocasionalmente desempenhando bem uma função didática, logrando êxito ao reafirmar com força a imprescindibilidade de espaços que minimizem invisibilidades.
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