Crítica
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Sinopse
Crítica
A falta de um ambiente criativo em Hollywood não se manifesta apenas nas apostas cada vez mais seguras de remakes e continuações, mas também nas próprias estruturas desses, que mais do que nunca tem investido em fórmulas consagradas e simplistas, deixando de lado qualquer possibilidade de complicação ou profundidade. Um bom exemplo é esse Shazam! Fúria dos Deuses, uma sequência por ninguém solicitada de Shazam! (2019). O que se percebe no decorrer das ações é uma total falta de estrutura narrativa: não há roteiro, apenas um argumento exposto já nos primeiros minutos e pelo qual os personagens tratarão de se guiar pelas próximas duas horas, como num videogame em que cada etapa se encarrega de se mostrar mais difícil que a anterior, até uma conclusão que vise uma merecida conquista (ou não). Os envolvidos são não mais do que figuras rasas, suas motivações são imediatas (no melhor formato toma-lá-dá-cá) e nada do que acontece chega a ter alguma repercussão – até mesmo aquilo que parecia transformador e definitivo logo em seguida é desfeito, voltando à mesma condição de instantes anteriores. O conjunto, portanto, é não mais do que um parque de diversões: um passatempo rápido, propício a ser esquecido assim que a última volta da montanha-russa chega ao fim.
Se o Universo Estendido DC tem se mostrado tão claudicante a ponto de em pleno andamento os diretores da Warner terem optado por um reboot geral – saiba mais aqui – dos doze filmes lançados até então poucos pareciam fazer menos sentido do que o primeiro Shazam!. Afinal, tratava-se de um super-herói sem maiores conexões com os demais, que não chegou a ir particularmente bem nas bilheterias (se pagou, mas não muito mais do que isso) e que como nenhum outro investia no humor (o que o deixava ainda mais como o ‘patinho feio’ – ou bobo da corte – da turma, ainda mais diante dos sisudos Batman, Aquaman ou Superman). Pois bem, eis que Shazam! Fúria dos Deuses não só foi confirmado, como também chegou aos cinemas antes do apocalipse – e nem tão atrasado assim, pois tanto The Flash quanto Aquaman 2 também estão confirmados para este ano, como os últimos suspiros de uma proposta malfadada e certa de descarte (foi anunciado que a partir de 2024 tudo será diferente no que diz respeito às adaptações cinematográficas da hq’s da DC Comics). Com isso em mente, era de se esperar que, uma vez certo da sua irrelevância, ao menos a busca pela diversão e a disposição por assumir riscos fosse a regra da vez. Mas nem isso acontece de acordo com o esperado.
A ideia é simples: os poderes que o Mago (Djimon Hounsou) cedeu ao jovem Billy Batson (Asher Angel) por ver nele um coração puro e o mais provável para se mostrar como o “campeão da Terra” vieram, enfim, de algum lugar. É sabido que a palavra “SHAZAM!”, que a partir do seu grito o transforma em um herói superpoderoso (Zachary Levi, fazendo o mesmo tipo bobo-alegre de antes, sem nenhuma variação), é uma sigla que remete aos grandes nomes do Olimpo: S de Salomão (sabedoria), H de Hércules (força física), A de Atlas (resistência e invulnerabilidade), Z de Zeus (magia), o outro A de Aquiles (coragem) e M de Mercúrio (velocidade e habilidade de voar). O curioso é que, a despeito das habilidades práticas (força, resistência, agilidade), esse Shazam se mostra desprovido dos demais dons: não é sábio, se mostra o mais inseguro dos irmãos (sim, pois cinco dos seus companheiros do lar adotivo onde mora também acabam transformados em heróis) e, mais importante, está a todo instante questionando a própria capacidade em seguir adiante frente aos desafios que encontra. Mas enfim, se foram estes os deuses responsáveis pelo “presente” recebido, de quem seria a competência de administrá-los?
Este questionamento só se manifesta a partir da aparição das três filhas de Atlas: Hespera (Helen Mirren, que ao menos parece estar se divertindo), Kalypso (Lucy Liu, revelando-se a verdadeira ameaça do trio) e Anthea (Rachel Zegler, que merecia algo melhor após sua performance hipnotizante em Amor, Sublime Amor, 2021). Elas exigem tomar o que acreditam ser delas por direito, e enquanto Anthea e Hespera tentam aproximações que vão desde o pedido singelo a uma negociação mais dura, Kalypso deixa claro não estar disposta a perder tempo com seres que julga inferiores. Desde ponto em diante, o que se tem são interações pouco elaboradas entre personagens curiosos, que despertam interesse tanto pela origem que carregam, como pelo potencial de feitos que apresentam, mas que, invariavelmente, acabam desperdiçados entre trocas de efeitos visuais e registros que levam a lugar algum. Por maior que seja o perigo, este nunca chega a gerar preocupação na audiência, pois esta tem ciência da brincadeira a se desenrolar. Nenhuma tragédia será grande o bastante para que não possa ser remediada – a ponto de uma participação especial de uma poderosa heroína se fazer necessária, num dos poucos momentos dignos de nota da trama – e nenhum oponente se mostrará determinado o suficiente para que não possa ser derrotado (ou mesmo superado).
No meio de tanto esforço para direcionar as atenções ao que menos importa – barulhos e explosões se encontram por todos os lugares, afinal – resta como valia a relação entre os irmãos centrais, o citado Batson e seu melhor amigo, Freddy (Jack Dylan Grazer, da minissérie We Are Who We Are, 2020): enquanto o primeiro tem que enfrentar uma inevitável maturidade que tenta adiar a todo custo, o segundo faz tudo que está ao seu alcance para se mostrar mais velho do que, de fato, é. Em um contexto quase ingênuo – Shazam é mais infantil do que Billy, por exemplo – no qual pautas inclusivas são impostas sem nenhum preparo prévio (o protagonismo feminino das vilãs até faz algum sentido – apesar do título nacional apontar para “deuses”, e não “deusas” – mas a saída do armário de um coadjuvante é tão aleatória e gratuita que serve apenas para manipular o debate, ao invés de propor uma discussão), Shazam! Fúria dos Deuses se confirma como mais um tropeço vítima das tantas possibilidades que carrega, incapaz de percorrer – ou mesmo escolher – por um dos caminhos que lhes são apresentados. Muito barulho por nada, enfim.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Ailton Monteiro | 4 |
Ticiano Osorio | 7 |
Alysson Oliveira | 3 |
Carissa Vieira | 4 |
MÉDIA | 3.6 |
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