Crítica


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Sinopse

Depois de muito tempo sem vê-los, Sayra se encontra em Honduras com o pai e o tio. Juntos eles tentarão cruzar ilegalmente a fronteira com os Estados Unidos. Durante a jornada eles encontram o menino Casper.

Crítica

Cary Joji Fukunaga é um diretor que atualmente se encontra em ascensão absoluta graças ao seu nada menos que brilhante trabalho na série televisiva True Detective (2014), estrelada por Matthew McConaughey e Woody Harrelson. No entanto, é interessante ver o que ele realizou antes de se envolver com a belíssima produção da HBO. Em 2009, o cineasta lançou este Sem Identidade, seu primeiro longa-metragem e que lhe rendeu prêmios em alguns festivais do circuito independente. Um reconhecimento merecido, já que se trata de uma excelente estreia.

Escrito pelo próprio Fukunaga, Sem identidade segue dois personagens centrais: Sayra (Paulina Gaitan) e Willy (Edgar Flores). Enquanto ela sai de Honduras em uma tentativa de imigrar para os Estados Unidos ao lado do pai e do tio para recomeçar sua vida, ele vive no México e é membro da gangue Mara Salvatrucha. Lá é conhecido como “Casper” e acaba de trazer para o grupo o jovem Smiley (Kristyan Ferrer). Os caminhos dos dois se cruzam após algumas tragédias, quando Willy esconde da gangue seu namoro com Martha Marlene (Diana García), obrigando-o a fugir o mais rápido possível antes que os outros ex-colegas o peguem. As coisas complicam quando é Smiley o escolhido para matá-lo.

Mostrando a precariedade ao redor dos personagens logo nos primeiros minutos, Fukunaga consegue estabelecer que a vida que levam não é das mais fáceis, e as decisões que tomam são fruto do sonho de terem algo melhor para si mesmos. Se Sayra está a caminho dos Estados Unidos, isso se deve ao pensamento comum de que lá tudo é melhor e as pessoas alcançam seus objetivos, sejam estes quais forem. Já Willy faz parte de uma gangue em uma provável tentativa de ganhar respeito e ser uma figura importante na comunidade onde vive, detalhe que inclusive reflete no pequeno Smiley. Isso é algo que podemos ver na breve cena em que ele é admirado por outras crianças e se exibe mostrando a arma que o novo líder da Mara Salvatrucha lhe deu, ou seja, seu novo poder naquele meio. Dessa forma, o fato de todos os personagens estarem em busca de fazer parte de algo maior, que lhes deem um valor pessoal que não encontrariam normalmente, é o que os torna tão interessantes e, ao mesmo tempo, tão trágicos. Afinal, não sabem que custos dessa nova condição.

Com um tom melancólico, quesito que ganha o auxilia da ótima fotografia do brasileiro Adriano Goldman, Sem Identidade acompanha os dois protagonistas intercalando suas histórias até o momento do encontro que irá uni-los em um trem. Sendo assim, a montagem de Luis Carballar e Craig McKay faz um ótimo trabalho ao seguir ambos os núcleos narrativos de forma muito natural. Além disso, o ritmo da trama nunca é quebrado, o que se deve não só pelos personagens serem figuras pelas quais ficamos muito interessados, mas também por Cary Joji Fukunaga ser hábil ao tornar seu filme envolvente do início ao fim. Soma-se a isso o mérito dele criar belos momentos de tensão, como um tiroteio que ocorre no fim do segundo ato.

Trazendo grandes atuações de seu jovem e talentoso elenco (destaque para os protagonistas Paulina Gaitan e Edgar Flores), Sem Identidade abriu caminho para que Cary Joji Fukunaga assumisse projetos cada vez mais ambiciosos. E é uma prova de que o cineasta é, sem dúvida, um diretor que merece toda a atenção que vem recebendo.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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