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Pat Henschel e Terry Donahue se conheceram e se apaixonaram em 1947, antes mesmo de completarem 20 anos. Essa seria apenas mais uma história de amor, como tantas outras, se seus apelidos fossem derivados de Patrick e Teodora ou Patricia e Terrence, por exemplo. Mas não. Pat foi batizada como Emma Marie, enquanto que Terry recebeu dos pais, ao nascer, o nome de Theresa. E se causa alguma estranheza ao espectador a ciência de que duas mulheres podem, sim, dedicarem uma a outra suas vidas em um relacionamento amoroso sólido e longevo, é fato também que tais episódios se tornaram cada vez mais comuns nos últimos anos. Aqui cabe, no entanto, uma importante explicação: eles podem estar sendo mais conhecidos, mas não por serem mais frequentes, e sim por estarem, enfim, ganhando o reconhecimento que tanto merecem. Porque os mesmos vêm se sucedendo desde o início dos tempos. O que Secreto e Proibido apresenta de diferente, portanto, é visibilidade. Algo bastante simples, mas que acaba por fazer toda a diferença. Felizmente.
O diretor e roteirista Chris Bolan, ainda que estreante enquanto realizador – ele, até então, era mais conhecido como ator, tendo participado, eventualmente, de séries como Billions (2016-), por exemplo – demonstra paciência e perspicácia no seu registro dos últimos anos de vida de Pat e Terry – suas tias, e essa intimidade não passa desapercebida. As duas já estão com mais de 80 anos, moram sozinhas e longe de suas famílias. Estão, portanto, em um momento de impasse: o que irão fazer a seguir? Pois, com a idade, vem junto também doenças, limitações e debilidades. Durante toda a história que construíram juntas, sempre foram capazes de cuidar uma da outra. Agora, começam a perceber que logo isso não mais será possível. Se separarem, no entanto, não é uma opção. Para permanecerem juntas, precisam decidir: ou seguem para uma casa de repouso, ou voltam para a cidade onde nasceram. Nenhum dos caminhos parece ser fácil.
Muitos devem se lembrar da comédia dramática Uma Equipe Muito Especial (1992), sucesso estrelado por Tom Hanks, Geena Davis e Madonna há quase três décadas. Este filme contava a história da primeira liga feminina de baseball, quando mulheres tiveram que assumir os jogos porque os homens haviam sido enviados à guerra nos anos 1940. Pois bem, Terry Donahue foi uma dessas garotas que vestiram o uniforme e defenderam o esporte. No longa dirigido por Penny Marshall, só olhares muito apurados irão perceber insinuações homossexuais entre algumas daquelas atletas. Pois Terry dá o recado sem meias palavras: muitas daquelas jogadoras eram amantes e namoradas entre si. Mas aqueles eram outros tempos, e toda pessoa com orientação sexual LGBT precisava se esconder para ser aceita pela sociedade. Hoje, ainda que o preconceito resista, a aceitação também é maior. E por isso é mais do que chegada a hora de contar relatos como os de Pat e Terry.
Há uma passagem, no entanto, que desperta questionamentos em Secreto e Proibido. Quando a sobrinha de Terry tenta ajudá-las a encontrar uma casa de repouso que possa recebê-las, o diretor, logo em seguida, filma escondido uma conversa das duas protagonistas, à distância. Elas combinam algo em segredo. No entanto, na sequência seguinte, a familiar recém-chegada já está a par do que havia sido dito na sua ausência. Como ela ficou sabendo? O diretor contou para ela? Uma das duas senhoras – a tia dela, provavelmente – quebrou a promessa e traiu a outra? Não se sabe. Mas permanece um incômodo a respeito do método utilizado pelo realizador para acompanhar suas personagens. Ele está sempre muito próximo, por vezes sem distanciamento, obtendo um registro urgente daquela realidade. Aquele casal, a despeito de qualquer outra coisa, se ama. E por isso, um casamento, por mais tardio que possa parecer, acaba sendo a consequência mais lógica.
Dos namoros forçados com rapazes na adolescência às maneiras que elas encontraram para levarem adiante uma relação que venceu toda e qualquer barreira, Secreto e Proibido é atencioso também em mostrar o cotidiano das duas após todo esse tempo. Os produtores Ryan Murphy (vencedor de 6 Emmys) e Jason Blum (dono de três indicações ao Oscar de Melhor Filme, a última por Infiltrado na Klan, 2018) se reuniram mais uma vez – foram responsáveis pelo premiado The Normal Heart (2014) – e se mostram mais do que eficientes em oferecer a contextualização histórica, indicar os reflexos familiares – o irmão que não as aceita casadas, a sobrinha que, pelo contrário, acredito que só através de uma união formal elas ‘deixarão de viver em pecado’, etc – e ainda apontar o mais importante, que é o amor que persiste contra tudo e todos. Afinal, essa é a real mensagem: quando não se pode mais responder por si próprio, quem se importará com o outro? Somente o amor constrói, isso já foi dito. Mas é ele também que preserva, que mantém e perdura mesmo quando nada mais resiste.
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