Screamboat: Terror a Bordo

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Sinopse

Em Screamboat: Terror a Bordo, na última balsa da noite em Nova York, EUA, passageiros e tripulantes são caçados por um rato impiedoso, e o que deveria ser uma travessia tranquila se transforma em um massacre sangrento. Cercados pela água e pelo medo, eles precisam encontrar um jeito de sobreviver. Comédia/Horror.

Crítica

A discussão a respeito de direitos autorais sobre obras de arte é por demais complexa, e provavelmente este não é o melhor lugar para se aprofundar nessa questão. No entanto, duas coisas precisam ser esclarecidas. Primeiro, o nome “Mickey Mouse” continua sendo propriedade dos Estúdios Disney e afiliadas, portanto, não está à disposição para que qualquer aventureiro faça uso dele da forma que bem entender. No entanto, se faz necessário o entendimento sobre a primeira aparição do ratinho apadrinhado por Walt Disney, o curta-metragem O Vapor Willie, lançado em 1928. Ou seja, há quase um século. E o que a lei nos Estados Unidos afirma é que toda produção cultural tem sua autoria resguardada por um prazo de… 95 anos. Após esse período, tal manifestação – livro, filme, peça, etc – passa para o domínio público. E foi o que aconteceu aqui. O curta – e sua história, seus personagens, tais como nele são vistos – não possuem mais um dono. Screamboat: Terror à Bordo, portanto, é praticamente uma paródia de Steamboat Willie (o título original do curta). Cabe ao espectador descobrir se há nele boa vontade suficiente para achar ou não essa piada minimamente engraçada.

Tanto é fato que no filme dirigido por Steven LaMorte (sim, o sobrenome dele é esse mesmo) – responsável por pérolas como Bury Me Twice (2022) e O Malvado: Horror no Natal (2022) – as alusões são mais sutis e circunstanciais. Com exceção da animação O Valor Willie, que é revisto quase na íntegra, agora reinterpretado sob um viés mais sangrento e assustador (ou era essa a intenção). As referências estão por todos os lados. O passeio de navio que ganha o centro da ação é o ferry que de hora em hora sai de Nova York até Staten Island, passando bem diante da Estátua da Liberdade. É nesse barco que uma caixa há anos abandonada é aberta, liberando de dentro de si um ser demoníaco – e de proporções diminutas. Basta dizer que é peludo, de dentes afiados e orelhas negras, grandes e redondas. O lugar onde havia por décadas ficado enclausurado continha apenas uma inscrição: “Mortimer” (a título de curiosidade, esse não apenas seria o primeiro nome de Mickey – foi Lillian Disney, esposa de Walt, que sugeriu a troca por Mickey – como, posteriormente, foi o batismo de um dos principais inimigos do ratinho, personagem esse que no Brasil ficou conhecido como Ranulfo).

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Por mais bizarras – ou divertidas – que sejam essas informações de bastidores, Screamboat: Terror à Bordo não foge à cartilha dos filmes mais genéricos do gênero. Uma vez solto, o roedor assassino começa a eliminar qualquer um que surja em seu caminho. Porém, sendo ele um animal – ainda que antropomorfizado – e desprovido de fala, tudo que consegue expressar é uma risadinha irritante e deslocada, como não estivesse movido pela vingança (algo que o desenho animado exibido como flashback sobre sua origem se propõe a explicar), mas, sim, pelo simples prazer de matar. O mais estranho, porém, é como nenhum dos ocupantes da embarcação, ou mesmo a tripulação – supostamente treinada para lidar com ameaças mais graves – consegue fazer frete ao pequeno matador. Sem força sobre humana ou qualquer tipo de outro superpoder, Mortimer consegue realizar as mortes mais esdrúxulas possíveis, não sem antes deixar um rastro de sangue e miolos pelo caminho.

Aparentando mais com um projeto estudantil – e perceba a diferença, a não chega sequer ao nível “universitário”, de tão amador que se apresenta – Screamboat: Terror à Bordo falha como trama de horror, mas também frustra enquanto representante da corrente “terrir”, pois nem mesmo engraçado ou irônico consegue ser. É apenas debochado, exagerado e desnecessário. E o pior: não está sozinho. Nessa mesma esteira de picaretagem oportunista foram feitos Steamboat Willie: Blood on the Water (2024), A Casa do Mickey: Parque da Morte (2025), Mickey: Desespero no Barco (2025), Mickey: O Rato dos Horrores (2025), Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra (2024) e outros tão descartáveis quanto. Surpresa, mesmo, é ver o quanto decaiu o pseudo-galã Tyler Posey, que já foi protagonista de série adolescente de sucesso (Teen Wolf, 2011-2017), e agora ganha a vida fazendo bico em slasher de quinta categoria. Vejam só as voltas que o mundo dá.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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