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Crítica

Cartão postal do Brasil e uma das cidades mais famosas do mundo, o Rio de Janeiro passou por diversas transformações desde a época em que nele desembarcaram os primeiros habitantes estrangeiros com ideias de progresso. Alvo de disputas entre portugueses e franceses, essa terra de exuberantes paisagens naturais, privilegiada pela presença do mar e da montanha, se estabeleceu como menina dos olhos dos nossos patrícios, na qual os vencedores instauraram a capital do império. O documentário São Sebastião do Rio de Janeiro: A Formação de Uma Cidade, de Juliana de Carvalho, se propõe a fazer um inventário bastante específico dos mais de 450 anos de uma história marcada por impulsos de evolução. Os planejamentos, nem sempre atentos aos valores humanos, estes então postos à margem das novas maravilhas arquitetônicas, redefiniram os espaços com o passar do tempo.

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São Sebastião do Rio de Janeiro: A Formação de Uma Cidade aborda quase unicamente as mudanças ocasionadas pelos sucessivos projetos urbanísticos que visaram adequar o Rio às necessidades que se apresentaram em cada época. Levados pela voz da narradora, a jornalista Leilane Neubarth, percorremos em sentido cronológico a linha do desenvolvimento de um território antes habitado apenas pelos nativos, como todos no Brasil, que foi ganhando cores e formas de acordo com os povos que aportaram nele em busca de aventuras, de riquezas ou do que mais se pudesse conseguir de exótico e/ou lucrativo.  A diretora Juliana de Carvalho opta por um viés praticamente didático, enfileirando depoimentos de especialistas que conduzem o andamento do documentário em tom professoral. A falta de pluralidade, no que tange às áreas de conhecimento consultadas, deflagra a intenção principal, mas engessa o resultado.

O filme é uma aula agradável e visualmente muito bem ilustrada. Há abundância de planos aéreos, tomadas plásticas que descrevem as belezas dos pontos de referência da metrópole, recurso próximo daqueles vistos nos vídeos institucionais ou nas peças promocionais de agências de turismo. A utilização periódica de reconstituições digitais, imagens de arquivo e passeios por mapas deflagra a inclinação inequívoca de São Sebastião do Rio de Janeiro: A Formação de Uma Cidade à informação, sem indícios evidentes de aspirações maiores. Embora entre os entrevistados figurem pessoas fortemente ligadas às artes, como o escritor Ruy Castro, o filme não demonstra qualquer disposição para enriquecer a esfera histórica. As constatações são muito mais importantes, por exemplo, que as conjecturas e/ou pensamentos humanistas, assim como os componentes sociais, estes encarados superficialmente.

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Temos no transcorrer de São Sebastião do Rio de Janeiro: A Formação de Uma Cidade um apanhado competente, ainda que sintético, das metamorfoses estruturais sofridas por essa cidade globalmente célebre pelo clima aprazível e pela alegria de seus habitantes, tornada sinônimo de Brasil para os demais países, como nenhuma outra capital da federação. O documentário é prejudicado, porém, por uma construção esquemática e repetitiva, pouco abrangente, especialmente no que diz respeito ao impacto das novas concepções urbanas ao cotidiano das pessoas. Funciona bem como peça educativa, porque fornece dados suficientes para despertar interesse, inclusive, de aprofundamento. Do ponto de vista estritamente cinematográfico, deixa bastante a desejar, pois pretere as possibilidades expressivas inerentes à linguagem disponível em função da preservação de seu eixo puramente explicativo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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