Crítica


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Sinopse

O gol é o ápice de qualquer partida de futebol que se preze: o momento de euforia máxima esperado por qualquer equipe. E o time do Santos é conhecido por ser o recordista brasileiro que mais balançou as redes até hoje. Em campo, ídolos como Pelé, Robinho e Serginho Chulapa contam como as suas sensações misturaram-se à própria história do Clube nos seus momentos mais importantes dentro e fora de campo.

Crítica

O gol é o ápice do futebol. O instante em que a bola ultrapassa a linha traçada entre as traves, sob o travessão, pode definir vitórias e derrotas, consolidar e minar carreiras, e, principalmente, gerar felicidades e frustrações. Santos de Todos os Gols começa informando que o Santos Futebol Clube, um dos times mais tradicionais do Brasil, é o recordista mundial de gols, ou seja, a agremiação que mais balançou as redes. A cineasta Lina Chamie pega o escrete paulista como exemplo da capacidade do esporte bretão de gerar emoções. Pela telona passeiam craques do passado remoto e de um presente logo tornado outrora. Claro, como não poderia deixar de ser, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, puxa a fila desses nomes maiúsculos que engrandeceram a história do clube. Ele recorda seus tentos importantes, alguns que infelizmente não têm registro audiovisual, belos lances que antecederam arremates precisos, enfim, faz uma espécie de resumo de sua contribuição.

Santos de Todos os Gols exibe uma criatividade formal pouco usual para os documentários de futebol, geralmente atentos à esfera da informação. A realizadora mira a heterogeneidade dos sentimentos decorrentes da modalidade, expandindo a sua reverberação para além dos títulos e dos fatos. Enquanto uma voz discorre acerca da diferença entre a paixão nacional do brasileiro e atividades relativamente similares, ressaltando as múltiplas narrativas possíveis dentro das quatro linhas, a câmera permanece impávida diante da movimentação dos jogadores numa partida qualquer. Não há a vontade de sublinhar apenas as mais bonitas conclusões, a plasticidade dos dribles bem executados, mas também de entender aquilo tudo de um ponto de vista praticamente filosófico. O crítico de cinema Luiz Zanin é quem mais soma nesse sentido, falando, inclusive, da relevância do amor futebolístico para o cumprimento de sua diária atividade profissional.

No que tange aos ex-atletas, aparecem feras como Coutinho, Carlos Alberto Torres, Pepe e Giovanni, cujas passagens pelo Santos são devidamente ilustradas com gols e jogadas eternizadas na memória dos torcedores da baixada santista. Já quanto aos atletas, o maior destaque, sem dúvida, é Neymar, erigido a emblema de uma nova geração que perpetua o legado. Fora do âmbito esportivo, a jornalista Mônica Waldvogel testemunha seu carinho pelo alvinegro praiano, assim como fazem jovens atores e figuras de áreas distintas. Lina Chamie se esforça para manter a paixão sempre em primeiro plano, chegando a comparar a descarga física e emocional provocada pelo gol com um orgasmo. A montagem une várias citações nesse sentido, criando efeito curioso, uma vez que muitos mencionam tal paralelo. O material de arquivo consultado é vasto e matizado, indo desde transmissões recentes a relíquias em preto e branco com tesouros do futebol felizmente preservados.

Determinado a exaltar o Santos como guardião do átimo mais sublime do futebol, Santos de Todos os Gols é um deleite aos fãs da modalidade. Nesse percurso de celebração, há espaço para breves escrutínios da natureza futebolística, dos episódios aparentemente banais que também fazem parte do espetáculo, algo evidente pela forma como a câmera, em várias passagens, se detém em pretensas platitudes, como breves corridas e frustrações após as oportunidades perdidas. Lina Chamie busca a extração da poesia do jogo, daquilo que escapa estritamente aos sentidos imediatamente aguçados quando o gol efetivamente acontece. Tristeza de uns, alegria e outros tantos, a meta alcançada significa bem mais do que simplesmente superioridade numérica. O filme dá conta, ainda que timidamente, de exaltar a complexidade de um esporte nem sempre vencido pelo melhor, no qual o arrebatamento é gerado pelo simples atravessar de uma linha por uma bola.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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