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Sinopse

Caco Antibes saiu da prisão após mais de uma década encarcerado. No lado de fora, Magda, Cassandra, Vavá e Ribamar ainda não sabem lidar com a inesperada notícia. Entretanto, terão que unir forças para gerenciar a Vavátur e realizar mais alguns de seus famosos trambiques.

Crítica

Baseado no programa Sai de Baixo, que foi ao ar na Rede Globo entre 1995 e 2002, Sai de Baixo: O Filme só não é uma decepção completa porque alguns lampejos de Miguel Falabella como o picareta elitista Caco Antibes remontam, ainda que bem vagamente, aos bons tempos das confusões no apartamento mais movimentado do Largo do Arouche. A trama é uma sucessão de esquetes mal cerzidas, sustentadas por piadas de gosto duvidoso que se alternam, avolumando a sensação, logo prevalente, de um equívoco destituído de margens significativas para qualquer acerto. Os tempos são outros, o de vacas magras, e a turma está morando de favor na casa do porteiro Ribamar (Tom Cavalcante), agora casado com a empregada Cibalena (Cacau Protásio, que assume o lugar antes ocupado por Claudia Jimenez e Márcia Cabrita). A soltura de Caco é o prenúncio de que vem chumbo grosso pela frente. Porém, infelizmente, os roteiristas sequer conseguem manter acesa, como uma espécie de farol, a chama da nostalgia, raramente chegando próximo de um resultado minimamente bom.

Sai de Baixo: O Filme deixa evidentes seus percalços de produção, especialmente no que diz respeito às vitais participações de Aracy Balabanian e Luís Gustavo. Ela aparece rapidamente no início do longa-metragem, geralmente à margem das conversas, sem uma participação efetiva, logo “substituída” por Jaula (Tom Cavalcante), tia de Ribamar que entra em cena apenas para proferir grosserias e incorrer em escatologias –exemplo disso, a tola cena na privada automatizada. Mas, num par de momentos, fiel ao espírito original, Falabella quebra a diegese e fala das condições que a atriz impôs para se integrar à produção. Esse tipo de procedimento, contudo, é levianamente aproveitado pela cineasta Cris D'Amato, outro desperdício lamentável. Já Gustavo, de saúde visivelmente debilitada, surge somente no encerramento, justo quando sua colega mais experiente não se faz presente, ou seja, em instante nenhum temos o elenco "clássico" reunido. A esse ruído, são somados outros tantos, como a total falta de qualidade da montagem, instância bem precária.

Caquinho (Rafael Canedo), filho de Magda (Marisa Orth) e Caco, é uma cópia rejuvenescida do trambiqueiro que lhe deu a vida. A praticamente imitação dos trejeitos do personagem de Falabella cria um efeito curioso, subaproveitado pela diretora, assim como as possibilidades geradas por uma conjuntura típica das comédias de erros. O plano de enriquecimento ilícito, confiado ao baixo QI e à malandragem enferrujada dos praticantes do Canguru Perneta, é atravessado por um sem números de ocorrências que soam demasiadamente aleatórias e, por isso mesmo, se anulam, agigantando os desacertos. Elementos potencialmente controversos como a bigamia de Ribamar e os traços abusivos de certo casamento são apresentados de maneira tão incipiente que nem incomodam. Falta consistência, inclusive cômica, ao decurso da trama que segue torto e em desabalada carreira, deixando a saudade do formato televisivo, menos engessado, por incrível que pareça. Há personagens demais para história e humor de menos, vide a insistência na linguagem estereotipada do telemarketing.

Boa parte de Sai de Baixo: O Filme é ambientada em interiores, no lar minúsculo em que todos se apertam, no apartamento prestes a ser leiloado, nas dependências do cárcere em que George Sauma vive o delegado de saco cheio dos Antibes ou no famigerado ônibus. Aliás, o movimento do veículo chamativo, rosa e adesivado com a logomarca Vavatur, é capturado pelas imagens aéreas e de contexto. Quanto à ação que transcorre internamente, ela é registrada com a predominância de planos fechados, decupagem que mal disfarça a inércia efetiva da carcaça. As piadas não encaixam, as gags física são pouco utilizadas, o roteiro parece uma colcha de retalhos mal alinhavados e, inevitável, as circunstâncias não se deslocam do banal, por lá permanecendo. Lúcio Mauro Filho vive duas figuras absolutamente caricatas, os gêmeos Angelitta e Banqueta, presenças meramente burocráticas que servem de espectros antagônicos. Uma pena que a tão esperada adaptação de um dos programas mais divertidos da televisão de outrora seja tão sem graça e inofensiva.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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