Sábado Alucinante

18 ANOS 102 minutos
Direção:
Título original: Sábado Alucinante
Gênero: Comédia
Ano:
País de origem: Brasil

Crítica

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Sinopse

O fim de semana, da noite de sexta-feira até o fim da madrugada do domingo, é um recorte de tempo que permite a abertura de um novo mundo no interior de uma discoteca na zona sul carioca. Emoções, conflitos e amores vividos por uma série de personagens, cujas tragédias cotidianas são representadas na pista de dança.

Crítica

Em 1977, John Badham comandou Os Embalos de Sábado à Noite, filme que capturaria magistralmente o zeitgeist da segunda metade da década de 1970, exportando para vários cantos do mundo o estilo disco. No Brasil, o longa estreou em 1978, mesmo ano da novela Dancin’ Days, que fez estourar o ritmo nas casas noturnas do país, popularizando ainda mais a cultura das discotecas por aqui. Esperto como era, o cineasta Claudio Cunha não demorou para explorar o estilo em seus filmes e, assim, surgiu Sábado Alucinante, em 1979. Com as musas Sandra Bréa e Djenane Machado no elenco, e com o galã Marcelo Picchi como um dos protagonistas, o longa-metragem com estrutura coral envelheceu mal, ainda que tenha alguns momentos que valham uma conferida.

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Na trama, somos transportados para a New York City Discoteque, uma casa noturna no Rio de Janeiro onde conhecemos diversos personagens prontos para se divertir com o ritmo alucinante da disco. Dentre eles, o boa vida Bebeto (Picchi), a glamorosa e cobiçada Laura (Bréa), a virgem Tete (Petty Pesce), a travesti Soraya (Kiriaki), a futura mãe Gina (Simone Carvalho), os adolescentes Juquinha (Luiz Carlos Niño) e Gracinha (Miriam Fischer), o rude Ivan (Maurício do Valle), entre outros. Além dos festeiros, o velho garçom chamado jocosamente de Lesma (Rodolfo Arena) também é presença certeira no local, embora esteja com seus dias contados ali, visto que foi demitido. Para conseguir reverter sua sorte, bola um plano bastante falho para conseguir dinheiro fácil.

Claudio Cunha e os roteiristas Benedito Ruy Barbosa, Carlos Imperial e Sylvan Paezzo concebem um universo de aparências em Sábado Alucinante. Cada um de seus personagens, embora pareça estar se divertindo horrores na discoteca, tem seus próprios demônios para exorcizar. Pode ser uma gravidez indesejada, um abandono do amante, uma paixão não correspondida, um ciúme entre filha e pai, um afastamento entre marido e mulher. Os dramas são reais, mesmo que as atuações não sejam tanto. O diretor utiliza da fachada glamorosa da discoteca para habitá-la com tipos tristes, solitários. O melhor exemplo disso é a bela Laura. Por onde ela passa na New York, todos os olhos a perseguem. Os homens a desejam, as mulheres querem ser como ela. No entanto, sua realidade é muito menos invejável. Chorando pela casa a ausência de seu amado Rogério, ela faz constantes ligações para aquele homem, nunca recebendo resposta. Quem a vê como aquele furacão na pista de dança não imagina o quão frágil pode ser aquela mulher. Este é apenas um de diversos personagens falhos que passeiam pela tela.

Por ser uma pornochanchada, as cenas gratuitas de nudez existem, claro, mas não em grande número como alguns poderiam esperar. O que incomoda são algumas cenas forçadas, como o romance entre a festeira Baby (Djenane Machado) e o pai escritor de sua amiga Joana (Heloísa Raso), as repetidas piadas sobre a virgindade de Pepe e a reiteração de um preconceito a respeito de travestis, que esconderiam sua condição para atrair homens incautos. No final da década de 1970 isso poderia não soar preconceito – e é, inclusive, salutar a presença de uma personagem travesti, algo raro no cinema nacional à época – mas visto atualmente, não há como não perceber o teor pejorativo.

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Com uma trilha sonora certeira, com alguns sucessos da disco internacionais e ainda temas nacionais inspirados, Sábado Alucinante é o curioso retrato de uma época. Pode não ter tido o mesmo impacto de John Travolta e seu Tony Manero, nem mesmo ter criado uma moda como as meias coloridas de Sônia Braga em Dancin’ Days, mas é um trabalho bem-intencionado, que esbarra em suas limitações técnicas e em algumas mensagens muito datadas sob a ótica de plateias atuais.

Rodrigo de Oliveira

é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.

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