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Sinopse

Rocky está aposentado, porém, embora ao lado de sua amada Adrian, a vida como trabalhador não lhe parece suficiente. Assim, a oferta de Apollo Creed para uma revanche começa a parecer mais tentadora, ainda que ele tenha dúvidas se conseguiria aguentar uma luta inteira com o campeão outra vez.

Crítica

É inegável que a inteligência de um personagem tenda a nos fazer admirá-lo, mesmo que ele a use para fins maléficos. Costumamos nos colocar no lugar das figuras que vemos em tela, e esse é o motivo pelo qual nos sentimos felizes, apesar de incrédulos, quando aquele ou outro herói escapa de uma explosão no último segundo ou coisa que o valha. Quando temos uma pessoa de intelecto ímpar nos hipnotizando, é porque em parte admiramos a sua esperteza e, por outro lado, porque gostamos de pensar que, em seu lugar, seríamos tão espertos quanto.  Talvez por isso seja difícil admirar um personagem tão simplório e obtuso como o Rocky escrito, atuado e, dessa vez, dirigido por Sylvester Stallone.

Mas o que escapa a quem já inferioriza de imediato os Rockys da vida – e falo de qualquer tipo de pessoa mais alienada em algum sentido – é que a simplicidade não denota burrice ou estupidez. E principalmente o detratores de Stallone, que não faltam por aí para acusá-lo de ser um péssimo ator, deixam escapar a sua composição visceral do personagem. Ok, Sylvester não é extremamente articulado e nem muito eclético também, mas convenhamos que há diferenças gritantes, e num bom sentindo, entre personagens como Rambo, Rocky e Latura (Daylight, 1996), por exemplo, ainda que pertençam todos a um “tipo”: o durão. Bom, o boxeador que aqui é protagonista pode até ser um cara viril e um tanto bruto, mas também é carismático, ciente das próprias limitações e, ainda assim, conformado com elas, o que o impede de ser uma figura raivosa. É muito sensato, na verdade.

Não por acaso, então, Rocky é um herói tão popular. E essa última palavra deve ter peso extra quando lida, pois representa onde reside o seu apelo: no povo. Gente como a gente, Rocky se distancia da antipatia que poderia gerar com a sua truculência, sua baixa capacidade de compreensão e seu raciocínio aéreo, e se aproxima muito mais ao representar a unidade “população”. Normalmente alienada, com pouco ou nenhum acesso à cultura e atividades melhores do que trabalhar almejando poder comprar coisas que pessoas com poder de aquisição lhe dizem que precisam ter. Rocky é o povo, e suas lutas não são apenas boxe, são aquelas para fazer a esposa feliz, para conseguir uma casa digna, roupas confortáveis e bonitas, e para manter seu emprego. A luta no ringue é apenas uma expressão final dessas que enfrentamos todo o dia. Por isso talvez que Apollo Creed (Carl Weathers) nos soe um opositor tão revoltante sem precisar ser necessariamente mau. Sua motivação é o orgulho, não a necessidade ou a perseverança. Ao contrário de Rocky, se ele subisse, ao som do tema clássico de Bill Conti, as icônicas escadarias seguido por uma centena de crianças, pareceria cínico, e não inspirador.

Afinal, a trama gira em torno disso, Creed decidiu que quer uma revanche depois de acreditar ter sofrido uma derrota moral para Rocky no final do primeiro filme. Porém, advertido pelo médico sobre os perigos de se submeter a uma nova luta, enquanto ainda soma problemas financeiros e amorosos, Balboa prefere tentar viver de sua fama anterior. Uma “recusa à jornada” clássica da jornada do herói que por vezes não encontra uma justificativa sólida, tendo em vista que, por exemplo, o perigo do lutador ficar cego de um olho, caso fosse atingido ali, jamais é trazida de volta, nem mesmo para causar tensão. E, no geral, o roteiro de Stallone tenta repetir diversas fórmulas que fizeram do primeiro filme um sucesso, como a conquista de Adrian (Thalia Shire, sempre um contraponto interessante com a sua calma e timidez), os negócios com os gângsteres, o desentendimento com Mickey (Burgess Meredith, que felizmente tem mais espaço aqui) e a sua amizade com Paulie (Burt Young). Uma decisão que funciona melhor em certos momentos, como a própria cena da escadaria, e a catártica luta final.

Mas Rocky II: A Revanche não é nenhum desastre. Longe disso. Não chega a ser primoroso como seu primeiro capítulo, mas é competente e tem a sua parcela de momentos memoráveis, como o da galinha, e isso graças, sim, a uma direção segura de Stallone. Um autor que demonstra sensibilidade para não deixar a personalidade de seu protagonista transparecer na sua mão como roteirista ou diretor, gerando uma obra que, apesar de não conseguir jamais atingir a habilidade na construção de cenas como a da visita de Mickey ao apartamento de Rocky no primeiro filme, ainda assim é divertido e instigante o suficiente para justificar a própria existência.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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