Crítica
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Sinopse
Giwar Hajabi, mais conhecido como Xatar, é rapper, empresário, produtor musical e ex-presidiário. Famoso por ter praticado um dos mais famosos roubos de ouro da história da Alemanha, ele gravou um álbum de rap na cadeia.
Crítica
O subtítulo brasileiro deste filme alemão nos faz acreditar no protagonismo de um roubo. No entanto, esse subtítulo diz mais respeito a uma necessidade do departamento de marketing da distribuidora (chamar atenção) do que necessariamente à referência de algo essencial à história que vamos acompanhar. Trocando em miúdos: o assalto nem é tão importante assim. Baseado em fatos, Rheingold: O Roubo do Sucesso conta a história factual de Giwar Hajabi (Emilio Sakraya), mais conhecido como Xatar, refugiado curdo que entrou para a criminalidade na vida adulta na Alemanha, foi preso pelo roubo espetacular de quase 300 quilos de ouro e fez sucesso com os raps gravados durante a sua temporada na cadeia. O leitor ainda incrédulo pode pensar: “mas então o assalto É importante”. Como passagem definidora da vida do biografado? Com certeza. Mas não nesse longa-metragem que encara tanto o crime quanto as composições no cárcere como as cerejas do bolo de uma típica história de superação. Xatar conviveu desde cedo com a intolerância, pois sua família precisou fugir da perseguição aos curdos por uma liderança fundamentalista iraniana. Aliás, o cineasta Fatih Akin opta por um tom melodramático quase apelativo ao mostrar o nascimento do protagonista, evento marcado pela solidão da mãe que precisa romper o cordão umbilical a pedradas em meio a rajadas de fuzil e gritaria desesperada.
Aliás, levando em consideração que o filme é dirigido por um realizador renomado como Fatih Akin, Rheingold: O Roubo do Sucesso é uma considerável decepção, principalmente por conta de sua abordagem cinebiográfica convencional e frequentemente desatenta aos detalhes que poderiam afastar o enredo dos lugares-comuns pouco eficientes. O começo mostra Xatar arremessado numa cela sem janelas e ventilação, acompanhado de dezenas de colegas de encarceramento. Torturado pela polícia para entregar o paradeiro do ouro, ele resiste até mesmo a uma forçada extração dentária. Aí, o filme faz um recuo no tempo para antes do nascimento desse menino que teria de enfrentar uma série de privações para se tornar bem-sucedido e financeiramente confortável por conta da música. Fatih Akin congela o protagonista nessa situação de crise e nos propõe um enorme flashback para voltarmos futuramente àquela encruzilhada. O convencionalismo da abordagem está justamente nessa construção retilínea mais preocupada em mostrar os fatos da vida de Xatar e menos em capturar os meandros emocionais, psicológicos, políticos, econômicos e culturais. O filme é uma sucessão de episódios bem contados – afinal de contas, estamos diante da obra assinada por um cineasta de qualidade –, mas que não está empenhada em revelar as essências. Tudo é demasiadamente superficial.
Rheingold: O Roubo do Sucesso tem coadjuvantes que funcionam apenas como reveladores de alguns aspectos específicos de Xatar. Nada mais do que isso. É impressionante como Fatih Akin deixa escapar coisas importantes, como as turbulências familiares e até as características do pai maestro. Aliás, na cena no nascimento do protagonista, o realizador mostra esse pai covarde fugindo em desabalada carreira, nem se dignando a proteger a esposa grávida. Enquanto isso, a mãe é encarada como uma pessoa de brios exemplares. Essa distância de atitudes poderia ser muito melhor desenvolvida dentro de um entendimento familiar, mas o enredo realmente não está preocupado minimamente com os coadjuvantes. A fuga paterna e o parto solitário não criam qualquer tensão no seio doméstico, sendo vistos apenas como passagens indicativas de uma diferença de temperamento. A posterior debandada do pai em virtude da paixão por outra mulher, a adaptação à Alemanha, a conexão com outro imigrantes junto aos quais formar uma comunidade, a eventual sensação de não pertencimento, nada disso é acentuado. Estamos diante de um longa-metragem oco. A casca é feita de momentos da ascensão de um jovem que encontrou na criminalidade a possibilidade de vencer na vida, mas nem as poucas alternativas são enxergadas como sintomas da situação social complexa. A falta de personalidade atrapalha.
Fatih Akin faz um filme longo, previsível e que ignora as particularidades dos pontos de vista. Um exemplo disso está na personagem Shirin (Sogol Faghani), interesse amoroso da versão adulta de Xatar. Diante dos avanços do jovem que ela conhece desde criança, a estudante de medicina recua veementemente. Pelo que dá a entender, não deseja se envolver com um rapaz cuja fama de bandido o precede. Porém, na tentativa seguinte ela parece logo disposta a ceder, sem qualquer nuance entre um estado de espírito e outro. Essa mudança de comportamento poderia ser melhor elaborada, mas o cineasta prefere negar a subjetividade da mulher por conta da prioridade às demandas do protagonista. O mais importante nessa dinâmica é a atitude de Xatar, a ação do flerte e as investidas visando a conquista. Nada mais. Repetindo simplificações humanas e de cenário em prol da jornada redentora de um protagonista idealizado, Fatih Akin decepciona por não imprimir intensidade emocional nas cenas e tampouco observar de modo menos maniqueísta os papeis dessa ciranda que envolve abandonos e criminalidade. Outra figura indicativa dessa pegada preguiçosa do filme é o pai de Xatar, sujeito que simplesmente some de determinado ponto em diante e depois volta numa cena com potencial catártico de “acerto de contas”, mas que não passa de uma conversa sem muita relevância entre pai e filho.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Francisco Carbone | 7 |
Celso Sabadin | 7 |
Monica Kanitz | 8 |
Alysson Oliveira | 4 |
Ailton Monteiro | 5 |
MÉDIA | 5.2 |
Gostei da análise de Marcelo Müller. As reclamações do que poderia ter sido explorado com profundidade fazem sentido, porém, não seria o mesmo filme, o mesmo roteiro. O mais interessante, é que as análises de Marcelo são de cunho psicanalítico e poderiam ser abordadas com mais riqueza ainda assim como as feridas expostas de cada personagem, que embora não tratadas, acabam cicatrizadas e armazenadas no super ego de seus personagens e de cada um de nós. Jurema Panza.