Redención

Crítica


4

Leitores


3 votos 7.4

Onde Assistir

Sinopse

Redención: Um casal obcecado pelo desejo de ter um filho decide acolher uma jovem grávida. Movidos pela esperança e pela tensão emocional, eles se envolvem em uma relação complexa e carregada de segredos. Aos poucos, a convivência revela dilemas éticos e sentimentos contraditórios. Drama.

Crítica

Vem do Peru este trabalho que embaralha sensações e constrói sua identidade sobre questões delicadas, mas enraizadas na alma latino-americana. Entre crenças inabaláveis, silêncios opressivos e estruturas familiares corroídas, a trama aposta em certa ambiguidade que, por vezes, aproxima o espectador e, noutras, o afasta. Nada aqui é plenamente dito, tampouco completamente ocultado. Há tentativa de costurar drama e denúncia sob o mesmo tecido, e nessa costura, talvez, se tenha perdido a precisão do traço. Redención, ao que parece, hesita diante de seus próprios caminhos.

20250729 redencion papo de cinema 750 1

O enredo se sustenta sobre a relação entre homem de feições retraídas, interpretado por John R. Dávila, e sua esposa, Norma, vivida com intensidade por Tatiana Astengo. Eles representam tipo muito comum no nosso continente: trabalhadores, resilientes e imersos numa fé quase infantilizada. O desejo por um filho permeia suas existências, mas o que se impõe mesmo é a devoção cega a uma igreja neopentecostal que mistura promessas e penitências. Tudo muda, no entanto, quando Luisa, jovem sem muitas ambições interpretada por Lucero López Ponce, entra no cotidiano do casal, e o faz não por acaso, mas por conta de gesto criminoso do marido. A partir dali, instala-se a tensão, pois a menina irá morar com a dupla.

A presença de Luisa poderia criar conflito vigoroso, desses que redesenham personagens e desafiam seus limites. No entanto, essa possibilidade é sistematicamente contida. A direção de Miguel Barreda-Delgado prefere insinuar a confrontar e, ao abrir mão do enfrentamento direto, opta por abordagem quase sussurrada, que exige do público esforço de aproximação. Mas nem sempre esse afinco é recompensado, pois as arestas entre os três personagens carecem de polimento mais incisivo, de liga dramática que justifique a permanência daquela convivência forçada e carregada de culpas. 

Ainda que se evite aqui spoilers, é fundamental apontar o quão problemática é a forma como Luisa se insere naquela casa. Há ali violência inaugural que, mesmo sendo o motor da narrativa, parece subexplorada. O homem que a agride tenta, depois, remediar seu ato com espécie de acolhimento, mas o gesto não convence, nem a ele próprio, tampouco à câmera. Fica a impressão de que tudo poderia ter sido conduzido de outra maneira, mais orgânica, mais inquietante. A religiosidade do casal, por exemplo, poderia ter sido o canal de entrada para essa adoção simbólica, o que daria mais espessura ao dilema ético e ao abismo emocional entre eles.

20250729 redencion papo de cinema 750 2

Na reta final, o longa parece ensaiar um salto. Há mais densidade no ar, espaço para a dúvida e gestos que pesam. Mas esse movimento tarda a acontecer. Barreda-Delgado evita soluções fáceis, o que é digno, mas também parece evitar afirmações. Ao preferir deixar tudo em suspensão, corre o risco de parecer inerte. Peguemos O Som ao Redor (2012) como exemplo, que usava a tensão latente para transformar cada ruído em elemento narrativo, como o tiro disparado na cena final. Em Redención, o ruído quase não se manifesta. Há um disparo simbólico no clímax – mas o gatilho, ao que tudo indica, não é puxado. Portanto, o silêncio, quando não pensado, soa apenas vazio.

Filme conferido no Bonito CineSur: Festival de Cinema Sul-Americano 2025;

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *