Crítica
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Sinopse
Guilherme é auditor de uma grande empresa. Ele é promovido ao descobrir um esquema de desvio de dinheiro. Mas, não contava com as artimanhas de sua antiga namorada do colégio, ela que volta para sua vida com um propósito.
Crítica
Depois de transitar pelo romance (Amor por Acaso, 2010) e pelo drama existencial (Angie, 2013), o cineasta Márcio Garcia volta ao thriller de ação com Reação em Cadeia – sua estreia como realizador aconteceu em outro filme do gênero, o curta-metragem Predileção (2009). A nova empreitada do artista que se tornou célebre como apresentador e ator de novelas é protagonizada por Guilherme (Bruno Gissoni), auditor que descobre um desfalque milionário na empresa onde trabalha. Esse burocrata menciona em off a obsessão pelo trabalho como fator que complica a já turbulenta rotina doméstica. Então, temos uma dinâmica vista inúmeras vezes no cinema: o homem que sacrifica a convivência familiar em prol da profissão. Portanto, há a adesão imediata a modelos conhecidos, um gesto continuado pela mera reprodução adiante de vários lugares-comuns desgastados. Além de convencional, o filme soa artificial, a julgar inicialmente pela cena do sujeito ignorando solenemente os apelos da esposa por uma conversa franca. Nela são perceptíveis as deixas – palavras, gestos ou alguma outra coisa que indique ao colega que chegou a sua vez de falar. E as falhas desse tipo acontecem novamente ao longo de toda a trama. O efeito colateral negativo é a ciência de que estamos diante de tipos pré-formatados, não de pessoas que amam, sofrem, enganam, transgridem, equivocam ou são ludibriadas.
Márcio Garcia nem tenta expor as fronteiras entre encenação e realidade. Os flagrantes quanto ao método não são frutos da concepção narrativa, mas do acúmulo das fragilidades. Filmes como O Beijo no Asfalto (2017), por exemplo, transitam entre as camadas da representação (para isso revelando o truque) como forma de também refletir sobre os processos de performance e dramatização. Em Reação em Cadeia essa possibilidade de “enxergar” as marcações e os intérpretes por trás das falas é resultado da inconsistência diretiva. É uma das incumbências do realizador prestar atenção ao que pode causar prejuízos significativos à adesão da plateia, aos ruídos que aqui resultam na pouca credibilidade dos personagens. Estamos falando de um thriller que começa indicando aspectos essenciais da personalidade do protagonista, mas que ao longo de seu desenvolvimento minimiza essas singularidades em função de generalizações e mudanças abruptas de rota. Quando Guilherme surge em off destilando frases de efeito sobre sucesso e casamento, parece que estamos diante de alguém que enxerga a vida de modo cartesiano. A partir disso, podemos pressupor que sua curva dramática culminará num aprendizado ou numa transformação. Como isso efetivamente não acontece, a ênfase inicial se esvai. A sinalização da caraterística vital para definir do que é feito o auditor não ganha qualquer desdobramento.
Reação em Cadeia tem inúmeras incongruências e trechos cheios de estereótipos e simplismos. Por exemplo, a subtrama envolvendo a dívida de Zulu (André Bankoff, que parece uma caricatura de playboy envolvido com a bandidagem carioca não menos tipificada). O devedor poderia simplesmente vender seu carrão de luxo para pagar o débito. Portanto, se alguém dissesse o óbvio ululante: “Zulu, que tal se desfazer do carro e não correr risco de vida?”, todo esse núcleo perderia o sentido. Várias situações como essa são acomodadas numa estrada pavimentada com sucessivas conveniências e vistas grossas. O empregado revistado fortemente na entrada da mansão protegida trabalha sozinho numa salinha escura e tem acesso a documentos ultrassecretos que podem escandalizar o Brasil. Ninguém teve a ideia de investigar previamente sua índole para saber de uma predisposição para acobertar fraudes? As circunstâncias são costuradas para sugerir noções como traição, esperteza, redenção, culpa e arrependimento, mas restringem tudo ao raso. Os reincidentes componentes do thriller se espremem num plano mirabolante que permite aos roteiristas utilizar termos (Petrolão, Lava Jato, Delação Premiada) para tentar aproximar a ficção da verídica e conturbada crônica político-policial. Já Monique Alfradique é restrita ao papel da "mulher de malandro" inclinada a sacanear Guilherme, ainda que algumas de suas demonstrações de força sejam muito bem-vindas, como gesto, nos contextos representados.
Outro indício da mão pesada de Márcio Garcia como cineasta é a maneira como ele joga nos ombros de Guilherme o peso de ter negligenciado a família. Primeiro, apela feio na cena desse homem perdendo um jantar com a esposa. Não contente em lançar mão do lugar-comum, o cineasta depois acena ao extremo oposto, ou seja, traz à tona algo excepcional. Um incidente faz com que a casa pegue fogo enquanto Guilherme estava fora (?), desculpa para a cônjuge confrontá-lo diante dos bombeiros (oi?) e a filha soltar um choroso: “por que você não estava lá, papai?”. Não bastasse a falta de sutileza, há o reforço por meio do diálogo expositivo. O roteiro assinado por Thiago Dottori, Márcio Garcia e Bráulio Mantovani gera essas situações inverossímeis e desajeitadas. A soma de encenação engessada com elenco no automático completa a fatura dessa ênfase involuntária num faz de conta displicente. São comprometidas a identificação com o material humano e a curiosidade com os desdobramentos da enganosamente intrincada rede de intrigas. Nesse molho insosso cabem capotamentos em CGI, perseguições automobilísticas sem tensão e oscilações emocionais carentes de intensidade dramática. Para arrematar, os créditos finais trazem vários “felizes para sempre”.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 3 |
Alysson Oliveira | 1 |
MÉDIA | 2 |
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