Crítica

Apesar da falta de popularidade na vida real, professores e a vida escolar são bastante comuns na tela grande do cinema. Portanto, pode-se imaginar que esse Professora Sem Classe não irá acrescentar nada ao tema. Porém surpreende ao constatar que este é o exemplar do gênero de maior bilheteria da história! Agora difícil mesmo é descobrir o porquê desse sucesso! Seria o carisma da protagonista Cameron Diaz? A graça do comediante Jason Segel? O charme pop do Justin Timberlake? A habilidade do diretor Jake Kasdan? Ou o argumento criado pelos roteiristas Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg? Na verdade, nada disso, e talvez um pouco de tudo.

Professora Sem Classe parte da inversão dos valores esperados, e essa é uma das explicações possíveis para ter agradado tanta gente. Seguindo a mesma linha de filmes como Papai Noel às Avesas (2003), a aposta agora é em contradizer o que sempre foi pregado. Ao invés de mensagens edificantes e de colocar os mestres da educação como exemplos morais e éticos, indo contra a falta de interesse dos alunos e as péssimas condições de trabalho, o que vemos aqui é justamente o contrário. E essa única piada é forte suficiente para garantir boa parte das risadas.

Cameron Diaz tem de sobra aquilo que pode ser chamado de ‘star quality’, ou seja, basta entrar em cena para reconhecermos que ali está uma estrela. Se no começo no filme ela está deixando a escola onde trabalha para se casar com um idiota rico e viver às custas dele, a situação logo se inverte – o cara descobre o golpe iminente e termina tudo. Só o que resta a ela, portanto, é retornar aos bancos escolares e encarar, sem o menor ânimo, mais um ano letivo. E com isso uma turma de alunos buscando aprendizado, colegas em pleno ritmo de competição, um diretor que ignora o que se passa e uma nova busca pelo golpe do baú perfeito que a tire desse universo.

Diaz tem carisma suficiente para animar o espectador mesmo criando um personagem antipático por mais da metade do filme. E para isso ela conta com a ajuda de um time de coadjuvantes bem afiado. Timberlake está cada vez melhor como ator, mas ainda tem um longo caminho a percorrer, ao contrário de Segel, que basta aparecer para o riso ser garantido. O mesmo pode ser dito de Phyllis Smith (The Office) e Lucy Punch (Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos), as duas em ótima forma. Já o texto de Stupnitsky e Eisenberg (os mesmos do insuportável Ano Um) consegue superar o óbvio e encontrar graça até em clichês batidos. Kasdan (filho do grande Lawrence Kasdan, roteirista de Os Caçadores da Arca Perdida) demonstra, por sua vez, ser um profissional competente, exercendo o que lhe é exigido sem grandes arroubos, porém oferecendo as oportunidades necessárias para o brilho do elenco.

InacreditavelmenteProfessora Sem Classe faturou nas bilheterias norte-americanas quase US$ 100 milhões, ultrapassando clássicos do gênero como Sociedade dos Poetas Mortos e Ao Mestre, Com Carinho, entre tantos outros. E esse é o mais útil indicativo do seu ponto forte: um filme para as massas, que entretém e diverte, sem acrescentar nada de novo à temática, mas ainda assim respeitando o que o público busca num título como esse: pipoca e refrigerante para o cérebro, sem exigir nada além. E atuando dentro das expectativas não há o que possa sair errado, mesmo diante tão escassas possibilidades.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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