Prejuízo
Crítica
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Sinopse
Durante uma refeição em família, Cédric, rapaz de trinta anos, ainda morando na casa dos pais, descobre que sua irmã está grávida. A notícia deixa todos felizes, mas lhe causa um ressentimento que vai se transformar em fúria. Ele, então, tenta estabelecer, aos olhos dos outros, algo de que se sente vítima desde sempre.
Crítica
A espera costuma ser dimensionada pelo tempo. Mensurar horas, semanas ou anos faz toda a diferença. Saber que se está mais perto - ainda quando muito longe - transforma a angústia em esperança. Sentimento inviável apenas se a espera for como a de Cédric (Thomas Blanchard), protagonista de Prejuízo.
Longa de estreia do diretor belga Antoine Cuypers, o drama psicológico se passa durante um jantar na casa de campo da família de Cédric, no interior da França. A ambientação bucólica enfatiza o passado que a câmera não pôde captar. As relações familiares estabelecidas delimitarão o microcosmo criado há anos pelos personagens que conheceremos, em um espaço do qual já não podem mais se livrar. O pai Alain (Arno) e a mãe (Nathalie Baye), cujo nome jamais saberemos, são os anfitriões do encontro que reúne a filha Carol (Ariane Labed) e seu marido Gaetan (Éric Caracava), e do filho mais velho Laurent (Julien Baumgartner) e sua esposa Cyrielle (Cathy Min Jung). A aparente confraternização se transformará em uma evento misterioso a partir do surgimento de Cédric.
Em um primeiro ato destinado a apresentar o protagonista e diferenciá-lo dos demais, a direção de Cuypers faz bom uso dos recursos narrativos. Enquanto os demais membros da família são retratados de maneira realista e enquadrados naturalmente, Cédric tem os closes e a simetria à sua disposição. O trabalho de luz e sombra, combinado ao tom monocórdico da atuação de Blanchard, composta de frases monossilábicas e balbucios, cria uma camada psicológica própria para o protagonista.
O desencontro evidente entre Cédric e a família será o ponto central do filme. A dificuldade em socializar se revelará aos poucos, assim como as hipóteses do espectador ao tentar decifrar a dívida oculta entre família e filho. A tensão se agrava quando a irmã Carol aproveita a reunião familiar para trazer à tona uma novidade. A vida que os outros estão experimentando desestabiliza Cédric, despertando nele um misto de revolta e cinismo. Não sem motivo. Cédric tem o sonho de conhecer a Áustria. Em seu quarto, cada centímetro está tomado pela reprodução do mapa do país vizinho. Ali, no único mundo que ele domina, estudou com afinco as rotas e as atrações turísticas para a viagem. Fez planos para conhecer os grandes lagos e desfrutar da natureza exuberante. Planejou minuciosamente cada etapa a fim de provar aos outros que estava pronto, sem nunca suspeitar que talvez jamais esteja.
Nas suas limitações e nas limitações de seu personagem principal, Prejuízo é uma correnteza turva. A responsabilidade que surge, seja pelo pai protetor ou pela mãe exigente, sugere que não devemos questioná-la. Lidar com Cédric significa lidar com tudo aquilo que nos foge o controle. Após a cena final, é praticamente impossível recuperar o início do filme. Não deixamos de lembrar dos preparativos para o jantar, claro, mas se torna incômodo demais pensar que uma trajetória marcada por tal promessa de felicidade possa resultar em tamanha frustração.
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