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Sinopse

Jéssica é uma introspectiva estagiária de psicologia que atende a imprevisível Bárbara. Essa dinâmica leva Jéssica a questionar escolhas e os rumos da sua vida.

Crítica

Por qual motivo alguém chora? Por uma tristeza, uma decepção, uma dor? Para qualquer um desses motivos, é preciso se importar. Com alguém, com alguma coisa, com uma situação, até mesmo com você mesmo. Em Por Que Você Não Chora?, a diretora Cibele Amaral parece perguntar algo que já sabe a resposta de antemão. E se a tarefa de descobrir o que se esconde por trás da questão proposta recai sobre o espectador, portanto, também ele precisa reconhecer relevância no discurso empregado. Essa parece ser a maior dificuldade do filme: estabelecer conexão com a audiência. Pois se por um lado há um discurso que se esforça em seu hermetismo, ao mesmo tempo há uma necessidade verificada em esclarecer detalhes que possam ter ficado obscuros pelo caminho. Duas vertentes que desde o primeiro momento se mostra discordantes – e, de fato, são – forçadas a conviver em uma obra que, apesar de mirar alto em seus objetivos, pouco entrega como resultado desses esforços.

Carolina Monte Rosa, atriz brasiliense com passagem pelo hollywoodiano A Minha Casa Caiu (2014), começou fazendo uma ponta na série Mad Men (2007 – 2015) enquanto estudava nos EUA e agora, já de volta ao Brasil, surge como protagonista de Por Que Você Não Chora? como Jessica, uma estudante de psicologia que tem como desafio assumir um estágio como acompanhante terapêutica de Bárbara (Bárbara Paz), diagnosticada com Personalidade Borderline. Desde o começo, fica claro que Jessica não é uma jovem que leva uma vida tranquila: mora sozinha em um apartamento minúsculo na periferia com a irmã ainda criança, e junto com a faculdade se divide em um emprego como recepcionista. A casa das duas é escura, sombria. Lá fora chove constantemente, e uma goteira em cima do sofá-cama em que dorme a impede de descansar. Esse ambiente de angústia tanto dentro como fora é retrato do que se passa com a moça.

Da mesma forma como o desenho dessa personagem é feito de maneira explícita, também são expostos sem meias palavras os conflitos que ela enfrenta. Entre os pais, que moram no interior, e nunca parecem satisfeitos com as visitas dela, e as passagens pela sala de aula, onde se mostra quase alienígena, sem proximidade com os colegas e desconfortável ao lado dos professores, sua rotina se torna ainda mais problemática a partir da convivência forçada ao lado de Bárbara. Essa, pela própria descrição de seus transtornos, é uma figura exagerada, dada a extremos, o que se mostra favorável aos excessos de uma atriz como Bárbara Paz, que aproveita o cenário oferecido para deixar de lado qualquer dosagem e aproveitar cada minuto que lhe é dedicado. Com isso, não apenas se torna uma presença hipnotizante, como também termina por eclipsar aquela que deveria estar no centro das atenções.

Esse duelo entre as duas deveria funcionar para a trama, mas não é bem o que se verifica. Bárbara precisa da proximidade com a outra, o que não chega a ser surpresa, pois sua condição é constatada e sabida por aqueles ao seu redor. No entanto, Jessica aos poucos vai se revelando afeita a esse convívio que, de forçado, resulta em fonte de alegrias – e também decepções. Quem, afinal, precisa de quem nesse relacionamento? Essa virada de jogo, que deveria ser o conflito proposto, também não se sustenta, seja pelas obviedades apontadas – não é novidade o fato de que a estudante precisa de ajuda – como também pelas conclusões alcançadas pelas monitoras. Essas figuras, interpretadas por presenças fortes, como Cristiana Oliveira, Elisa Lucinda e Maria Paula, mais distraem do que colaboram, tão pontuais que são suas intervenções.

Há uma co-dependência evidente entre Jessica e Bárbara. A primeira é solitária, e se esforça para se livrar até mesmo dos poucos ao seu redor. A segunda, no entanto, se vê sem saber como sair do desespero em que se encontra, mas, por outro lado, tem a quem retornar: o filho, o ex-marido. Com Por Que Você Não Chora?, Cibele Amaral, que além da direção assina também o roteiro, quer discutir temas como depressão e suicídio. Porém, as personagens que escolhe são frágeis, incapazes de segurar o debate que deveriam ilustrar, resultando num paralelo não apenas óbvio, mas também problemático pelas soluções que apontam, seja pela negligência dos que ensinam, despreparo daquela que deveria servir e mesmo pelo retrato superficial da que é apontada como a mais carente de atenção. O tema é delicado, e por isso mesmo, necessita de cuidado em sua abordagem. Algo que se verifica mais no campo das intenções do que no resultado prático visto em cena.

Filme visto online no 48º Festival Internacional de Cinema de Gramado, em setembro de 2020.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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