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Sinopse

Quinze anos após a conquista da liberdade, César e os demais macacos vivem em paz na floresta próxima a San Francisco. Lá desenvolveram uma comunidade própria, baseada no apoio mútuo, para que possam se manter. Enquanto isso, os humanos enfrentam uma das maiores epidemias de todos os tempos, causada por um vírus criado em laboratório, chamado vírus símio. Diante disto, um grupo de sobreviventes, liderado por Dreyfus, deseja atacar os macacos para usá-los como cobaias na busca por uma vacina.

Crítica

Após a frustrante tentativa comandada por Tim Burton de dar uma sobrevida à série em Planeta dos Macacos (2001), a franquia só foi ganhar um novo fôlego de fato dez anos depois, com o lançamento de Planeta dos Macacos: A Origem (2011). Se a trama de ambos os filmes já divergia no ponto de vista, mais radical ainda era a questão tecnológica, uma vez que se o primeiro se mantinha na mesma concepção de macacos humanoides com impressionantes efeitos de maquiagem, a revisão apostava, por sua vez, na reprodução digital a partir de animais verdadeiros. Além disso, as diferenças entre as duas propostas estavam também no realismo das interpretações, na busca de explicações racionais para os eventos explorados e na volta às origens dos fatos. Esse mesmo tom está presente em Planeta dos Macacos: O Confronto, sequência direta do episódio mais recente e segundo passo dessa necessária revitalização.

Dez anos após os eventos mostrados em A Origem, o mundo foi praticamente dizimado pela chamada ‘Gripe Símia’, que teve começo em experiências biológicas realizadas em macacos em laboratórios. Se os bichos levaram a fama, no entanto é inegável que a culpa pela praga foi humana. O começo já deixa isso bem claro, através da exibição de uma série de reportagens e recortes de jornais com matérias que oferecem uma boa dimensão do caos que se instaurou sobre o planeta durante a última década. Este, aliás, é o ritmo imposto pelo diretor Matt Reeves – o mesmo de Cloverfield: Monstro (2008) e do remake de Deixe-me Entrar (2010) – que parte direto para a ação sem perder muito tempo com explicações desnecessárias. Por outro lado, ele não ignora a complexidade das emoções estabelecidas pelas relações exibidas em seu filme. Sua chegada é um acréscimo importante para a saga em relação ao contido Rupert Wyatt, que fez um bom trabalho no longa anterior, ainda que tenha deixado a desejar em alguns aspectos.

Caesar (novamente possível graças às expressões e impressionante dedicação de Andy Serkis) é o único personagem presente tanto em A Origem como neste O Confronto – e o elo que ele protagoniza entre os dois capítulos é emocionante. Dono de uma inteligência privilegiada fruto da droga experimental desenvolvida por seu antigo dono (James Franco), ele, entretanto, decidiu se refugiar na floresta, longe dos humanos, após os eventos vistos anteriormente. Agora o encontramos líder de um grupo de semelhantes, um lugar pacífico onde aprende-se o espírito de família e prega-se lemas como “macaco não mata macaco”. Porém, a região por eles escolhida é próxima a uma usina hidrelétrica abandonada que passa a ser visada por homens remanescentes que desejam reativá-la e, assim, conseguir novamente energia para resgatarem suas cidades e retomarem seus estilos de vida. Eles não imaginavam se deparar neste caminho com animais inteligentes capazes de revidar suas ações mais violentas, porém não temem partir para a ação física na luta por alcançar seus objetivos.

No lado humano da história, há dois líderes: Malcolm (Jason Clarke, assumindo com vontade o posto de protagonista), que se esforça por uma tentativa pacífica para o conflito entre as duas espécies, e Dreyfus (Gary Oldman, no piloto automático), que prefere esmagar antes de ser esmagado. A mesma divisão de ideias acontece entre os símios: se Caesar prefere ceder aqui e ali para evitar mortes desnecessárias, seu rival Koba (Toby Kebbell) irá se revelar um adversário à altura, atendendo a um anseio de macacos ainda ressentidos contra o trato que receberam dos homens anos atrás, e que preferem atacar o quanto antes e eliminar qualquer tipo de ameaça, custe o que custar.

Se o título nacional – O Confronto – fica centrado muito no embate entre as duas raças, a denominação original – Dawn of the Planet of the Apes, ou seja, Alvorecer, Amanhecer, Começo do Planeta dos Macacos – é mais precisa, pois indica qual caminho essa história irá se desenvolver. Tanto este quanto o filme de 2011 mostram eventos anteriores àqueles vistos em O Planeta dos Macacos (1968), e se aquela é a realidade futura – com macacos agindo como donos da razão e homens reagindo apenas aos instintos mais básicos – nossa curiosidade deve se focar em descobrir como isso foi possível. E o quão triste é perceber que os verdadeiros culpados são aqueles que, a despeito do raciocínio lógico que possuem, parecem preferir sempre tomar as piores decisões. Planeta dos Macacos: O Confronto é um filme que atende com competência as expectativas geradas, sem esgotar o interesse pela série e, pelo contrário, mantendo em alta o envolvimento tanto dos que a estão descobrindo agora como daqueles que já a acompanham com dedicação há mais de quatro décadas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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