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Sinopse
Em Perrengue Fashion, Paula é uma influenciadora de moda que recebe um convite para estrelar uma campanha de Dia das Mães ao lado do filho Cadu, que estuda em uma renomada universidade nos Estados Unidos. Seus planos acabam indo por água abaixo quando o filho decide abandonar tudo e se muda para o interior do Amazonas. A influenciadora vai atrás do filho. Comédia.
Crítica
Perrengue, segundo o dicionário popular, é uma “gíria informal brasileira que descreve uma situação difícil, complicada, um aperto ou problema”. Ou seja, trata-se de algo a ser superado. Fashion, por outro lado, é uma palavra em inglês que poderia ser traduzida como “moda”. Portanto, uma encrenca relacionada ao mundo das passarelas, tendências e roupas. Mas não é bem isso a que se refere Perrengue Fashion, filme que, apesar de marcar a estreia solo no cinema da diretora Flavia Lacerda, deverá ser mais lembrado por se mostrar como um exemplo concreto da visão de Ingrid Guimarães como uma legítima estrela do cinema nacional, alguém que não apenas brilha e aparece, mas também pensa, desenvolve estratégias e, basicamente, ‘faz acontecer’. É ela a responsável por trás de uma engrenagem que pode parecer simples para alguns, mas representa mais do que uma mera comédia de ocasião. Trata-se de algo pensado, não apenas para agradar ao público, mas visando ainda oferecer retorno aos que nesse projeto investiram. Enfim, eis uma lógica de mercado em desenvolvimento. Algo com o qual qualquer iniciativa que almeje se viabilizar enquanto indústria deveria se preocupar. A sorte é que, além do produto, está também a diversão. Um casamento afinado e que funciona de acordo com o esperado.
Eis, portanto, um longa que entrega nada mais, mas também nada menos, do que aquilo de promete. Por mais que ‘fashion’ seja uma expressão da moda, e de certa forma o roteiro escrito a oito mãos pela própria Ingrid em parceria com Marcelo Saback, Célio Porto (Minha Irmã e Eu, 2023) e Edu Araújo (B.O., 2023) trate de colocar o tema em sua superfície, a história é mesmo sobre um aceitar de diferenças e um reencontro entre mãe e filho. Paula Pratta está há anos na luta para se tornar uma influenciadora digital relevante. Quando finalmente é chamada para estrelar uma campanha para uma grande marca, há apenas um porém a ser superado. Pois se trata de uma propaganda alusiva ao Dia das Mães, e portanto irá precisar do filho ao seu lado. Só que Cadu (Filipe Bragança, indo além do mero confronto de gerações) não poderia ser mais diferente do que daquela que o gerou. Ele abandonou os estudos no exterior e foi se meter no meio da Amazônia, em uma comunidade autossustentável, para lutar por aquilo que acredita: a possibilidade de um mundo melhor, mais limpo e equilibrado. Será até lá, portanto, que ela deverá se deslocar, não apenas para reencontrar o garoto, mas com o declarado objetivo de levá-lo de volta à ‘civilização’ e colocá-lo ao seu lado nas peças publicitárias.

Há muitas distrações nesse trajeto, mas o espectador que não se ilude: o centro das atenções está todo voltado para a presença de Ingrid Guimarães. É ela a estrela absoluta da história, e qualquer um dos homens que aparece em seu caminho não são mais do que meras desculpas para que sua personagem siga em movimento. Filipe Bragança vem demonstrando um interessante crescimento artístico em seus trabalhos mais recentes, deixando de lado a figura de galã adolescente, como já havia feito na série Dom (2021-2023) ou na cinebiografia Meu Sangue Ferve por Você (2023). Rafa Chalub, estreando no cinema após ter se tornado um fenômeno nas redes com o perfil Esse Menino e o vídeo da Pfizer, pouco faz para se distanciar do estereótipo do ‘melhor amigo gay’ da protagonista, por mais que suas tiradas rápidas e certeiras consigam garantir um ou outro momento de maior graça. É de se perguntar, no entanto, se conseguiria fazer um tipo distante daquele com o qual se tornou popular. Por fim, o argentino Michel Noher – que até novela na Globo já fez, apesar de seguir sendo lembrado como filho do grande Jean Pierre Noher – serve somente como interesse romântico, desfilando nu e também ao lado de outras conquistas, e com isso elevando a tensão em algumas sequências, sem, no entanto, interferir radicalmente no rumo dos acontecimentos.
Flavia Lacerda tem uma longa carreira comandando séries e novelas na televisão, e isso ficou marcado em suas primeiras experiências no cinema: o ambicioso Medida Provisória (2020), de Lázaro Ramos, no qual participa como colaboradora, e o sucesso O Auto da Compadecida 2 (2024), que assina como codiretora ao lado de Guel Arraes. Ambos foram exercícios que deram o que falar e geraram interesse, por mais que o resultado nem sempre estivesse à altura dessas expectativas. Com Perrengue Fashion ela tem mais espaço para relaxar, abrindo caminho para Guimarães fazer o que sabe melhor, e colocando no seu caminho oportunidades para ampliar o discurso. Seja por discutir esse fascínio um tanto vazio exercido pelas redes sociais como por colocar uma mulher madura em posição de reinventar a própria vida – seja no ambiente profissional, como também em questões mais íntimas e familiares – ela serve de exemplo para tantas na audiência que talvez precisem apenas de um empurrão como esse para partir para a ação. E se nesse meio tempo ainda consegue oferecer uns 100 minutos de entretenimento descompromissado, mas feito sem desleixo, o saldo se mostra favorável. Longe de ser revolucionário, é fato. Mas é certo que essa nem era a intenção. E tá bom assim.
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Grade crítica
| Crítico | Nota |
|---|---|
| Robledo Milani | 6 |
| Alysson Oliveira | 1 |
| MÉDIA | 3.5 |

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