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Sinopse

Peixonauta e seus amigos chegam pela primeira vez na cidade grande e longe da segurança do Parque das Árvores Felizes. Peixonauta, Marina e Zico saem do Parque em busca do Dr. Jardim, e dos primos Pedro e Juca, mas ao chegarem à cidade grande encontram tudo vazio. Após investigarem melhor, percebem que as pessoas não sumiram, mas sim encolheram. Estão minúsculas e por isso a cidade parece deserta. Agora Peixonauta e seus amigos terão que descobrir a causa do encolhimento de todos e salvar a cidade.

Crítica

Parece ser realmente um caminho natural, claro, pós-sucesso, a transposição de programas infantis brasileiros da TV fechada aos cinemas. Somente em 2017 surgiram nas telonas Detetives do Prédio Azul: O Filme e Historietas Assombradas: O Filme. O ano de 2018 começou com Gaby Estrella, versão cinematográfica do programa homônimo. Peixonauta: O Filme chega para engrossar esse filão, demonstrando, inclusive, o ótimo momento da animação brasileira. Para começo de conversa, é bom ter em mente a que público este longa-metragem se destina. Assim, é mais facilmente digerível o tom pueril, as piadas bem singelas e certo descuido com o encadeamento dos fatos que movimentam os dias do protagonista e de seus amigos. Todavia, contextualizações à parte, é preciso apontar fragilidades que independem do cuidado prévio com a compreensão dos muito pequenos. A começar pela própria trama, bastante fraca.

Em Peixonauta: O Filme inexiste um vilão, o que não significa ausência de adversidades. O longa-metragem começa em tom de brincadeira. A missão de reposicionar um satélite em órbita, com direito a música grave para conferir solenidade e tensão ao momento, é apenas uma ajeitadinha no equipamento de transmissão da partida de futebol que todos querem assistir no fundo do mar. São esparsas as brincadeiras inspiradas como essa, que joga com a expectativa do público. No mais, ocorre um distúrbio no sensor climático da agência O.S.T.R.A e o peixe com traje de astronauta é chamado para ajudar a contornar a situação. Concomitante a isso, o avô de sua amiga Marina desaparece numa ida à cidade grande e caberá a eles, com a ajuda do macaco Zico, tentar descobrir o que de fato aconteceu. Chegando à metrópole, encontram ruas vazias e tudo abandonado. A curiosidade os faz seguir.

No que tange à técnica, Peixonauta: O Filme repete, como era de se esperar, o visual e a animação característica do equivalente televisivo. O recurso 3D pouco acrescenta à experiência, se restringindo a dar relevo a determinados objetos que se aproximam da tela, quando muito. O enredo é primordialmente inocente, então não convém ater-se demasiadamente em questões como as pontas que o roteiro deixa desamarradas. Outro demérito concernente à forma de contar as aventuras de Peixonauta diz respeito à necessidade frequente de oferecer procedimentos reiterativos, como os personagens verbalizando o que a imagem já apresenta a contento. Certamente tal expediente visa contemplar os espectadores mais novos, mas certamente empobrece o andamento da missão de fazer com que os moradores da cidade voltem a crescer, pois miniaturizados por um erro.

Também depõe contra a fruição de Peixonauta: O Filme a falta de habilidade para equilibrar as subtramas, como a jornada do macaco Zico ao ser deixado sozinho. Esse coadjuvante, aliás, chega a quase ser irritante, pela forma como age diante das adversidades. É curiosa a opção pela falta de um antagonista personificado, sendo a ameaça fruto de uma irresponsabilidade infantil. Todavia, os diretores Célia Catunda, Kiko Mistrorigo e Rodrigo Eba! sequer utilizam esse mote para construir mensagens ou afins. Os comportamentos dos personagens determinam os rumos do longa-metragem, especialmente o heróico, mas parecem imunizados contra qualquer observação que porventura suscite controvérsia. É um filme de apelo absolutamente direcionado a crianças bem pequenas, vide a ingenuidade prevalente e a incipiência das tentativas de expandir o universo. Soa como um episódio estendido da série, em suma.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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