Crítica

Liberdade. Uma palavra tão difundida, cujo significado nem sempre se faz presente. O artista paraibano Pedro Osmar foi um dos defensores do livre pensar e, acima de tudo, do livre criar. Seus trabalhos como músico, poeta, artista plástico, cantor, produtor cultural e compositor marcaram o nordeste das décadas de 70 e 80. Nomes como Lenine, Zé Ramalho e Chico César já gravaram canções de sua autoria e o grupo Jaguaribe Carne movimentou a Paraíba com sua mistura de política, arte e música. O documentário Pedro Osmar: Prá Liberdade que se Conquista chega às telas com a atmosfera do cotidiano criativo de seu personagem.

Os diretores da produção, Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques, acompanharam Pedro durante dois anos, e uniram essas imagens a registros no formato 8mm do arquivo da Universidade Federal da Paraíba que mostram as primeiras experiências de um dos nomes mais importantes da cultura independente nordestina. O paralelo entre passado e presente mostra ao espectador que, apesar dos fios brancos e de algumas marcas de expressão, a essência continua intocável. Pedro Osmar cria sem lugar específico e transforma de tijolo a capô de Chevete em instrumento musical. Também não tem preocupação com foco e trabalha em várias formas de criação ao mesmo tempo. Até quando é mostrado em casa, tomando café com a esposa, ele é incomum. Entre o pão e a manteiga, surge um verso.

Não há preocupação com ordem cronológica em Pedro Osmar: Prá Liberdade que se Conquista porque a ordem não é libertária. Traçar um perfil do protagonista parece ser o objetivo de muitos documentários, mas este é um exemplar de apresentação poética, cujo destino é fazer quem assiste se interessar não só pela obra, mas por todo o processo de construção de Pedro Osmar e seus colaboradores. Mesmo consolidado dentro do cenário cultural da Paraíba, ele mantém o olhar insatisfeito. A fotografia e a montagem do documentário traduzem essa eterna curiosidade, que não fica apenas no plano do sonho, mas que quer se fazer importante para a sociedade. A poesia de Pedro Osmar, seja nos sons ou no papel, é política e quer ser contestada, discutida e transformada, se possível.

Experimental sem abandonar suas raízes, Pedro Osmar, o artista multifacetado, poderá ganhar novos admiradores com a chegada de Pedro Osmar: Prá Liberdade que se Conquista. Mesmo localizado há quilômetros de distância do centro-oeste, onde muitos pensam ser o único lugar onde o cinema brasileiro acontece, Pedro Osmar conhece as mazelas da alma e da sociedade e pode ser compreendido e admirado no país inteiro. Ele as retrata de todas as formas possíveis. As impossíveis, ele inventa.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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