Pan-Cinema Permanente
Crítica
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Sinopse
Baiano de Jequié, filho de um sírio muçulmano e uma sertaneja baiana, Waly Salomão (1943-2003) era um artista que se manifestava em múltiplas direções. Formado em Direito, tornou-se poeta, rabiscando os versos de seu primeiro livro numa cela no Carandiru. Amigo de Hélio Oiticica, aproximou-se dos tropicalistas, tornando-se um dos compositores preferidos de Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia, para quem compôs sucessos como Mel eTalismã. Reunindo extenso material inédito filmado com Salomão, que procurava romper a fronteira entre realidade e ficção, o filme revela algumas das facetas desse incansável caleidoscópio.
Crítica
Sabe aquele filme que te faz rir, refletir, viajar, refletir de novo, que contagia e emociona? Sabe aquele personagem carismático, frenético, atuante, maluco e inquieto? Pois então, assim é Pan-Cinema Permanente. Ou melhor, os fragmentos mais geniais da arte, da carreira e dos pensamentos de Waly Salomão, o “personagem” dono absoluto da tela. Um artista genuinamente brasileiro. Mesmo quem torce o nariz para os documentários deve ver este filme. Pois é uma invenção atrás da outra em doses exatas, sem exageros nem presunções.
Waly não se deixava filmar sem algum tipo de atuação. E não foram poucas as tentativas. O diretor Carlos Nader acompanhou Waly por 15 anos nas mais diversas situações. Viagens, entrevistas, no trabalho, no cotidiano, em museus ou visitas a familiares. Sempre vemos uma atuação do poeta. Ou melhor, sempre com algo novo, inusitado e desconcertante.
O título do filme deriva de um dos tantos pensamentos de Waly, apresentados através de uma obra com visual e som fluido e onírico. "Pan-cinema permanente é a vida, e a vida é um autêntico filme de ficção onde a poesia pode desmascarar qualquer pretensão naturalista”. Se as idéias do poeta são discutíveis, tudo bem. Mas o filme de Nader é um sopro inspirador de inteligência, sensibilidade e inovação. Esses fragmentos inusitados, esses sonhos de Waly, contaminam as pessoas com a tremenda capacidade que o poeta e letrista tinha em improvisar, criar inúmeras situações impagáveis. Sabendo que não conseguiria filmar seu protagonista sem ele representar, o diretor tomou uma decisão sábia. Adotar uma narrativa tão surpreendente quanto seu tema. Poesias, histórias pessoais, depoimentos, lembranças, conceitos e pensamentos se condensam e se misturam em uma harmonia brilhante e lógica.
O poeta teve amigos ilustres que estão no filme muito a vontade. Antônio Cícero, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, Suzana de Moraes e o próprio Nader, além dos filhos de Waly. O documentário foi escolhido o melhor do 13º É Tudo Verdade, principal festival do gênero no Brasil. Conquistou ainda, o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio do Júri Popular no CineEsquemaNovo de 2008.
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