Crítica


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Sinopse

Heitor Villa-Lobos é expulso de sua banda por não ser "descolado" o suficiente, por ter orelhas consideradas chamativas demais. Após cair num boeiro, ele vai parar num desconhecido mundo subterrâneo. Ali, entre criaturas fisicamente muito distintas, ele encontrar o companheirismo, amor e uma nova banda para chamar de sua.

Crítica

Baseado numa série animada lançada em 2016, Os Under Undergrounds: O Começo, como o título bem expressa, se trata de uma história de origem, cujo pontapé inicial é a expulsão do protagonista de sua banda de rock. A justificativa dos antigos colegas é que ele tem um estilo pouco “descolado”. Especialmente em virtude dessa motivação estética, é de se esperar que quando Heitor Villa-Lobos (voz de Arthur Berges) cai num mundo subterrâneo repleto de cidadãos de cores e formas bem distintas, a mensagem acerca da essência estar muito longe das superfícies possa, então, sobressair. Todavia, até esse subtexto é bastante diluído durante as aventuras que o humano, então deslocado, empreende na companhia dos novos amigos, isso enquanto busca uma forma de volta para casa. Ainda que a premissa seja basicamente ancorada na necessidade de retorno, o filme se torna excessivamente compartimentado em função dessas pequenas missões a serem cumpridas.

Os Under Undergrounds: O Começo tem uma espinha dorsal frágil que sustenta vários episódios adquirindo autonomia. A ligação entre as partes é feita pelo objetivo maior, porém com o roteiro não desenhando uma curva dramática suficientemente robusta para que o conjunto engrandeça em meio à soma das frações. Assim, Heitor se aclimada rapidamente à insólita realidade e, sem mais aquela, logo está integrado ao time que precisava justamente de um guitarrista para se destacar no cenário musical infanto-juvenil das redondezas. Layla (voz de Bruna Guerin) é a líder estressada que não tarda a se apaixonar pelo “alienígena”. Mas, o diretor Nelson Botter Jr. não confere ares de singularidade a essa paixonite adolescente, oferecendo mais do mesmo no que tange ao processo gradativo de entender-se “a fim do outro”. Igualmente de modo apressado, os músicos passam de aspirantes a grandes promessas, saindo de ensaios ruins para apresentações empolgantes.

Os Under Undergrounds: O Começo é evidentemente feito para um público de faixa etária entre a infância a pré-adolescência. Entretanto, isso não lhe confere salvo-conduto para passar de maneira atropelada por boa parte das circunstâncias, o que acontece frequentemente. O teste para grupos escolares, por exemplo, se dá num clipe que retira do momento toda sua importância como antessala do êxito. Análoga é a batalha de bandas visando escolher a vencedora que abrirá o show de uma formação famosa. Feita de apenas duas fases, tal ocasião não é construída com atenção aos detalhes, passando displicentemente por modulações emocionais e afins, sabotando o crescendo de expectativa que poderia gerar algum efeito para além de algo encarregado de mover a trama adiante. Gradativamente os personagens coadjuvantes perdem espaço, sendo diminuídos até se tornarem meros apêndices sem qualquer contorno mais destacável, a não ser o filho do grande vilão do filme.

Do ponto de vista da edificação desse mundo particular, Os Under Undergrounds: O Começo exibe uma série de referências reconhecíveis pelo público brasileiro. Um programa de televisão faz alusão ao Globo Repórter, em vários instantes a famosa tela de congelamento da novela Avenida Brasil (2012) surge como piscadela – ainda que aos mais novos a citação possa passar despercebida. Os asseclas com capacetes à lá Daft Punk e as transições típicas dos desenhos japoneses são outros elementos iconográficos que intentam facilitar essa identificação. Uma pena, realmente, que o todo pareça uma simples soma de episódios, tendo como ponto de convergência o complicado retorno de Heitor para uma realidade que, obviamente, a partir das tantas peripécias vividas no submundo, deixa de lhe ser tão atrativa. Contando com músicas originais e pontuais menções a bandas famosas, o longa cativa inicialmente pelas possibilidades, mas logo se mostra inconsistente, a despeito da qualidade da animação (enquanto técnica) e de determinadas soluções visualmente criativas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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