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Crítica
Quando as ideias começam a faltar, o que faz Hollywood? Repete velhas fórmulas sem nenhum pudor de “chover no molhado”. Nessa toada, Os Mercenários 4 continua uma saga liderada por Sylvester Stallone, marcada pela promessa de ação à moda antiga (leia-se, a típica dos anos 1980), e com um elenco que certamente ajudou o cinema norte-americano a faturar algumas centenas de milhões de dólares em produções do tipo “tiro, porrada e bomba”. No entanto, o protagonista dessa nova aventura transbordante de testosterona é Christmas (Jason Statham), braço direito do líder dos mercenários que sai de cena logo no começo do longa-metragem. Até aí tudo faz sentido, afinal de contas Statham é uma espécie de herdeiro natural desses brutamontes oitentistas, ou seja, o fato de ele assumir o filme não deixa de ser a aceitação de que há certas façanhas físicas difíceis de serem executadas por veteranos septuagenários. Tudo certo e justo. Já a trama se desenrola a partir de um fiapo: o vilão incógnito nas sombras está planejando algo grande para principiar a Terceira Guerra Mundial e apenas os mercenários a serviço do governo dos Estados Unidos podem detê-lo. Tranquilamente, essa poderia ser a premissa de um filme da Saga Velozes e Furiosos. Mas, serve aqui como gatilho para tiroteios inacabáveis, planos no modo “piloto automático” e a criação de outro revival bastante genérico.
Quanto à ação, Os Mercenários 4 segue uma triste tendência do cinema hollywoodiano atual, a de criar sequências mirabolantes com o auxílio de CGI. Grande parte das entradas triunfantes de helicópteros armados até os dentes, entre outras situações semelhantes em termos de grandiloquência, são evidentemente feitas com a utilização dos chamados fundos verdes, os chroma keys. O efeito imediato disso é retirar a textura orgânica dessa ação, que então surge como uma proeza mais informática do que cinematográfica. E, pensando a partir desse princípio nostálgico de resgatar um modo artesanal de fazer ação, tendo na telona alguns dos velhos protagonistas de antes, chega a ser uma afronta esse tipo de expediente, pois ele distancia o longa-metragem justamente dessa ideia tão propagada de um resgate do “à moda antiga”. Além disso, o diretor Scott Waugh não consegue criar uma sequência sequer sem que a montagem picote excessivamente a ação. Como num filme musical, em que a câmera pode fragmentar a coreografia para falsear movimentos que não são precisos como todos gostariam que fossem, num filme de ação pode acontecer algo semelhante. E aqui o realizador não se faz de rogado, fraciona mesmo as cenas em incontáveis planos com o intuito de criar a ilusão de exatidão dos movimentos. Com isso o filme fica refém de uma lengalenga visualmente repetitiva e cansativa.
Uma vez que o protagonista da Saga Os Mercenários está ausente, Jason Statham se destaca como o soldado enlutado que fará de tudo para minimamente vingar o amigo – nem que isso signifique ser insubordinado às ordens de permanecer longe da missão. Os Mercenários 4 é incapaz de valorizar as motivações dos personagens, se focando simplesmente nesses atos artificiais de ação e na colocação em prática de um plano mequetrefe caracterizado pela mais pura previsibilidade. Scott Waugh não trabalha adequadamente a dúvida a respeito da morte de um ícone, certamente contando com uma suposta a ingenuidade de parte da plateia para ser minimamente bem-sucedido. Christmas tinha tudo para ser encarado como um sujeito torturado pela culpa que age quase irracionalmente diante do perigo, pois motivado pela cegueira que a partida do ex-parceiro de missões ocasiona em seu julgamento profissional. De modo semelhante, os demais companheiros do líder interpretado por Stallone poderiam ser encarados como soldados guiados pelos princípios da missão ou exibirem alguma subjetividade. Mas, isso nem de longe acontece, o que faz os personagens serem basicamente cascas ocas que estão ali para demonstrar perícia em batalhas corporais e no manuseio de armas. Só. O saldo é uma experiência sem vigor, com uma ação burocrática e nem ao menos algum senso de ironia.
Outro aspecto que não deve passar despercebido é a presença das mulheres em cena. O filme não consegue minimamente sustentar a ideia de que Gina (Megan Fox) é mais do que uma coleção de estereótipos fragilmente protegida pela posição que ocupa no time dos mercenários. Apresentada como alguém emocionalmente descontrolada, Gina é alçada à liderança em algum momento do enredo, mas não é fundamental para o sucesso da missão de evitar a Terceira Guerra Mundial. Interrompida pelo personagem de Andy Garcia quando alguém solta o bom e velho “quem está no comando?”, ela se torna uma simples coadjuvante dos rompantes heroicos do seu namorado valentão. Na sequência final, destituída de sua aura de matadora letal, ela surge em cena com uma camisa quase transparente que expõe parte de seus seios – o cineasta confunde claramente liberdade de vestir com sexualização gratuita. Já a outra mercenária, Lash (Levy Tran), tem somente um instante de importância com suas correntes afiadas, mas chama a atenção por terminar a trama cedendo aos grosseiros galanteios do brutamontes que a assediou ao conhece-la. Portanto, além de ser um mais do mesmo com gosto rançoso de filme feito para resgatar a autoestima masculina “perdida” nos novos tempos, Os Mercenários 4 ainda escancara a nostalgia da época em que mulheres eram representadas como musas, enfeites e/ou troféus.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 2 |
Chico Fireman | 4 |
Celso Sabadin | 5 |
Alysson Oliveira | 3 |
Suzana Uchôa Itiberê | 6 |
MÉDIA | 3.6 |
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