Os Infiéis

14 ANOS 88 minutos
Direção:
Título original: Gli infedeli
Gênero: Comédia
Ano:
País de origem: Itália

Crítica

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Sinopse

Sete cineastas analisam a infidelidade masculina. Os cenários vão de uma conferência acontecendo num hotel ao grupo de apoio a viciados em sexo.

Crítica

A campanha de publicidade de Os Infiéis no Brasil faz muito bem em destacar a presença do diretor e do ator vencedores do Oscar 2012 em suas respectivas categorias. Natural utilizar a premiação para gerar chamariz para a produção, que contém oito pequenas histórias, assinadas por sete diretores diferentes, girando em torno da temática da traição. Curiosamente, o segmento mais irritante e fraco tem a dupla de O Artista (2011): Michel Hazanavicius como diretor e Jean Dujardin como protagonista. E nem é o caso de pegar no pé do cineasta vencedor do Oscar, visto que só sabemos quem comanda cada curta quando o filme acaba. Apresentando os problemas básicos de um longa-metragem dividido em pequenas histórias, Os Infiéis é irregular, divertindo minimamente com alguns seguimentos – os mais curtos – e incomodando pela conduta dos personagens em outros.

O roteiro é assinado por Nicolas Bedos, Philippe Caverivière e Stéphane Joly, junto de Jean Dujardin e Gilles Lellouche, atores que se dividem em vários personagens em Os Infiéis, indo do divertido ao constrangedor. Os diretores responsáveis pelos curtas que compõem este longa têm uma ótima matéria prima para trabalhar, visto que contam com Dujardin, o homem das mil faces, e Lellouche, o Liam Neeson francês, para protagonizar seus seguimentos.

No Prólogo, dirigido por Fred Cavaye (de À Queima Roupa, 2010), Dujardin e Lellouche são amigos inseparáveis, daqueles que traem suas respectivas esposas ao mesmo tempo. O primeiro tem uma teoria de que o homem é legitimamente poligâmico, portanto não teria porque refrear seus instintos. O outro não compartilha da mesma convicção, mas simplesmente não consegue se manter fiel à mulher. Este é um dos seguimentos mais divertidos, mostrando uma amizade masculina a toda prova. A forte sexualidade de algumas cenas é camuflada com o humor inusitado dos diálogos.

Em seguida, o rápido curta Bernard, dirigido por Alexandre Courtes (de The Incident, 2011), é quase uma piada de médico, mostrando os inusitados acontecimentos de um amante em um pronto socorro. Se todos os seguimentos fossem tão engraçados e surpreendentes quanto este, Os Infiéis seria um programa muito mais recomendável.

Logo depois, no entanto, chegamos ao mais fraco dos episódios, A Boa Consciência, dirigido por Michel Hazanavicius, e estrelado por Jean Dujardin. Ele interpreta um patético sujeito que tenta, a todo custo, se dar bem com as mulheres durante um evento de sua firma. Puxando a barreira do suportável ao interpretar um personagem perdedor e repulsivo, Dujardin convence como um homem que faz tudo para trair sua mulher, mas não tem o know how para tanto. Sem boas piadas e com ritmo irregular, o curta faz o espectador olhar o relógio inúmeras vezes, para que possamos nos livrar daquele personagem tão repugnante. Boa atuação, péssimo papel.

Quando pensamos que estávamos livres, vem o curta Lolita para nos mostrar mais uma história enfadonha, com personagens detestáveis. Com direção de Eric Lartigou (de A Noiva Perfeita, 2006), Lellouche vive um homem de meia idade que se aventura a sair com uma ninfeta, sem estar preparado para sua turma ou seu padrão de vida festeiro. Não fosse Dujardin vivendo um baratinado clubber veterano e este Lolita facilmente seria apontado como o ponto mais baixo de Os Infiéis. O problema é se perder em um protagonista odioso e uma situação que parece nunca andar para frente.

Depois destas duas decepcionantes histórias, o longa-metragem melhora consideravelmente. Curtas mais diretos como Thibault e Simon, ambos dirigidos por Alexandre Courtes, são piadas bem contadas – e melhor consumidas sem avisos prévios sobre história. O inventivo Infiéis Anônimos, também de Courtes, além de engraçado no conceito, consegue encaixar boas gags, contando com a presença de todo o elenco masculino do filme junto da sempre competente Sandrine Kiberlain (de As Mulheres do Sexto Andar, 2010).

Mesmo sendo uma comédia, Os Infiéis consegue acertar em ao menos um drama, colocando um casal em rota de colisão ao descobrirem suas traições. Esta é a premissa de Pergunta, de Emmanuelle Bercot (de Backstage, 2005), único seguimento a ser comandado por uma mulher. Dujardin e Alexandra Lamy (de Ricky, 2009) fazem o casal protagonista. O primeiro prova ser um ator versátil ao convencer como um sedutor após ter vivido tipos bastante estranhos anteriormente. Já Lamy captura a atenção do espectador ao mostrar a fúria da mulher traída.

Fechando de forma engraçada e surpreendente, Las Vegas tem como diretores os protagonistas do seguimento, Jean Dujardin e Gilles Lellouche, e segue a história do Prólogo. Nele, os amigos inseparáveis viajam à capital da jogatina norte-americana e descobrem algo que não estava claro na relação dos dois. O desfecho, engraçadíssimo, quase perdoa os erros anteriores. Mesmo sendo difícil esquecer o nível de chatice de alguns dos seguimentos, Os Infiéis ao menos consegue encerrar de forma curiosa, trazendo um coral de vozes diferente dando adeus aos espectadores. Um filme irregular, mas que ainda pode ser conferido pelo talento do elenco e de algumas boas idéias competentemente executadas.

Rodrigo de Oliveira

é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.

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