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Sinopse

Um garoto de 16 anos acessa o mundo por meio de seu computador numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul. Fã de Bob Dylan, ele se aproxima de uma garota misteriosa e mergulha em memórias diante de uma figura misteriosa.

Crítica

O diretor Esmir Filho ficou bastante conhecido no Brasil através de um trabalho popularizado na Internet: o curta Tapa na Pantera (2006), uma engraçada sátira sobre os resultados do contínuo uso da maconha, estrelado por uma hilária Maria Alice Vergueiro, um dos vídeos mais vistos no YouTube. Com seu primeiro longa-metragem, Os Famosos e os Duendes da Morte, o cineasta não poderia ter se distanciado mais do estilo do curta-metragem que lhe deu notoriedade. Com uma verve poética, dylanesca, angustiante e introspectiva, o filme é uma verdadeira jornada para dentro da mente de um jovem que tem na música folk e na Internet seus únicos momentos de relativa paz.

Na trama, assinada por Ismael Caneppele (também ator do filme) e Esmir Filho, conhecemos um rapaz (Henrique Larré), mas nunca sabemos seu nome. Ele vive com sua mãe (Áurea Baptista) em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, dividindo seu tempo entre ir ao colégio, ouvir música e navegar na Internet. Em seu blog, escreve tristes posts, parecendo sempre saudoso de algum momento de sua vida. É recorrente sua visita ao blog de Jingle Jangle, uma garota que, aparentemente, fez parte de seu passado, mas que não está mais próxima dele. Separação? Viagem para longe? Amor platônico? Só sabemos ao nos aprofundarmos nesta bela história.

Esmir Filho prova que sabe o que fazer com sua câmera, criando planos belíssimos, ajudado pela bucólica paisagem de Estrela, cidade que serviu de cenário para as filmagens. Utilizando muito bem as frias paisagens do local, capturando as neblinas, a baixa luz da noite e a respiração dos atores em meio àquela gélida região, o diretor cria um clima para o filme que pende para o onírico. O fato de o personagem principal viver em um mundo fechado, dentro de si, complementa este sentido. O advento dos vídeos que ele assiste na Internet, notadamente poéticos em sua estrutura, também conversa com todo o resto do filme.

Com este diálogo tão estreito com a grande rede de computadores, não é de se estranhar que o diretor tenha encontrado seu elenco através da Internet. O protagonista, Henrique Larré, é um exemplo disso. A preparação do elenco foi comandada por Roberto Áudio que, fora algumas pequenas exceções, é muito bem sucedido em seu trabalho. Não é fácil para um ator iniciante conseguir carregar um filme inteiro praticamente sozinho. E é o que Larré faz, de forma muito convincente e doída. Sua depressão é palpável e os momentos em que conversa com sua mãe dão a dimensão do período difícil em que ambos vivem. Áurea Baptista, que vive a mãe do garoto, comove com sua atuação.

Além das atuações e do visual de Os Famosos e os Duendes da Morte, a música folk é outro importante detalhe do longa-metragem. Fã de Bob Dylan, o personagem principal vive ouvindo músicas no seu player portátil e sonha em conferir o show do músico ao vivo. Infelizmente, como a produção é brasileira e o dinheiro é sabidamente curto, apenas uma música de Dylan foi inclusa na trilha: Mr. Tambourine Man. Colocada em uma bela sequência do filme, a canção do poeta norte-americano agrega muito ao resultado final no trabalho de Esmir Filho. As demais canções da trilha foram compostas por Nelo Johann que, se não tem a genialidade dylanesca, não faz feio com algumas belas canções no violão.

Vencedor de diversos prêmios, dentre eles o Redentor de Melhor Filme no Festival do Rio de 2009, Os Famosos e os Duendes da Morte é aquele tipo de produção que quanto menos se sabe, melhor é a experiência de assisti-lo. Mas não se preocupe. Qualquer ponto mais importante da história não foi citado nesta crítica para não estragar a experiência de ninguém. O que é possível dizer sem medo de spoilers é o apuro das cenas finais, envolvendo uma festa junina tipicamente alemã. Elas são realmente emotivas, não apelando para o dramalhão forçado, mas para uma interessante dicotomia entre o alegre e o triste. Em suma, um belo filme, que merece ter uma das mais belas canções de Bob Dylan em sua trilha sonora.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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