Onde Andará Dulce Veiga?
Crítica
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Sinopse
Nos anos de 1980, um jornalista decide descobrir o paradeiro de Dulce Veiga, uma atriz e cantora que desapareceu misteriosamente nos anos 1960. O que ele não sabe é o quanto terá que descobrir sobre si mesmo antes de encontrá-la. Nesta busca, atravessa o Brasil, do Rio de Janeiro à Floresta Amazônica, e fica cada vez mais obcecado pela personalidade intrigante da filha de Dulce, uma famosa roqueira lésbica.
Crítica
Caio Fernando Abreu foi um dos grandes escritores brasileiros do último século. Seus textos marcaram uma geração, não só no Rio Grande do Sul, onde nasceu, mas em todo o país. Por isso é curioso ver que só agora uma obra sua é adaptada para o cinema. Onde Andará Dulce Veiga? é uma boa escolha. A se lamentar apenas o fato de que o que é apresentado nas telas não está à altura do romance que lhe deu origem. Enquanto o livro é envolvente, pitoresco e bem humorado, o filme resulta em algo confuso, disperso e exagerado. Infelizmente.
A trama é quase clichê, de tão identificada com sua origem policialesca. Senão, vejamos. Jornalista (Eriberto Leão) é enviado, no primeiro dia de trabalho, para cobrir uma nova banda de música. Ao chegar para a entrevista, descobre que a vocalista (Carolina Dieckmann, vista há pouco em Sexo com Amor?) é filha de uma grande cantora e atriz sumida há 20 anos. Dulce Veiga (Maitê Proença, de Tolerância) desapareceu durante as filmagens daquele que seria seu primeiro longa. Ao voltar para o jornal com esta história, ele é dispensado de suas outras obrigações e recebe uma única missão: descobrir o que aconteceu com a antiga estrela e, se possível, encontrá-la. E assim parte, se deparando em pistas falsas, testemunhos forjados e contando acima de tudo com sua própria intuição, até que comece a montar um quebra-cabeça muito maior e mais complexo do que poderia ter imaginado no início.
Demasiadamente longo – são cerca de 135 minutos de projeção – e repleto de reviravoltas e flashbacks, Onde Andará Dulce Veiga? certamente não é um filme para qualquer público. Com cenas bastante fortes – nudez feminina e masculina (inclusive frontal), beijos homossexuais, usuários de drogas e violência – é uma boa amostra do universo imaginado por Caio F. Abreu. De um lado temos pontos positivos, como as atuações de Christiane Torloni e Oscar Magrini, ambos bastante à vontade em seus personagens, e a estrutura do enredo, que abusa da metalinguagem para criar algo diferenciado e singular. Já outros poderão apontar a composição afetada de Maitê, assim como a inexperiência dos protagonistas Eriberto e Carolina (ambos estreando no cinema) e a mão pesada do cineasta Guilherme de Almeida Prado (A Dama do Cine Shanghai), que perde tempo demais em subtramas e em excessos visuais que pouco colaboram com o resultado final.
Filmado há mais de três anos, Onde Andará Dulce Veiga? é resultado da persistência e da obstinação do diretor, que era amigo pessoal de Caio. Dificuldades como orçamentos (que ficou em torno de R$ 3,3 milhões), logística das filmagens (que começaram em Ribeirão Preto, passaram por São Paulo e Rio de Janeiro e terminaram em Manaus) e elaboração do roteiro (que chegou a participar de um laboratório promovido pelo Sundance Institute em 2002) estiveram no caminho, mas nada foi tão grande a ponto de fazê-lo desistir da idéia. E hoje temos um longa com méritos inegáveis, ousado e ambicioso, mas que ao mesmo tempo é confuso, problemático e distante do seu público. Ou seja, algo perdido, desconectado e sem foco, que merecia um tratamento melhor: tanto da platéia quanto dos seus próprios realizadores.
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